Em sessão inédita, Ministério da Justiça anistia Aldo Arantes
Pela primeira vez, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça realizou uma sessão fora das dependências do Ministério. Foi em pleno 50º Congresso da UNE realizado neste fim de semana em Brasília que julgou os casos de dois ex-presidentes da UNE, o
Publicado 10/07/2007 15:42 | Editado 04/03/2020 16:44
Em uma sessão carregada pela emoção, o hoje presidente do PCdoB goiano Aldo Arantes teve reconhecida sua anistia política nesta última sexta-feira(06/07), pela manhã, no auditório 17 da Universidade de Brasília, num entendimento do Ministério da Justiça e a direção da União Brasileira de Estudantes-UNE.
A Comissão julgou e aprovou por unanimidade o caso de Aldo e segundo ele, ''o relatório da Comissão foi jurídico, histórico e politicamente bem feito e o presidente da Comissão, Paulo Abraão foi muito feliz em finalizar com um verso''.
O verso do alemão Bertold Brechet afirma que: ''Há homens que lutam um dia – e são bons. Há homens que lutam um ano – e são muito melhores. Há aqueles que lutam muitos anos – e são muitos bons. Porém existem aqueles que lutam toda uma a vida – estes são imprescindíveis. O anistiando é uma dessas pessoas a que o poeta se referiu”.
Com um histórico do antes, durante e pós-ditadura militar na leitura do Relatório, elaborado pelo advogado Egmar José de Oliveira, e na passagem de um vídeo da biografia política dos homenageados, com a trilha sonora de Coração de Estudante de Milton Nascimento, criou-se um clima de comoção geral.
A platéia de quase mil estudantes ficou eletrizada, houve um momento de muita emoção e depois em uma explosão os presentes gritaram palavras de ordem. Além dos estudantes, familiares dos ex-presidentes e algumas presenças ilustres, como o ex-guerrilheiro, Zezinho do Araguaia e o ex-presidente da UNE, José Luiz Guedes, acompanharam os trabalhos.
Extremamente emocionando Aldo Arantes foi chamado para falar e disse: ''Emoção! É o que sinto nesse momento.'' Após essa declaração, ele fez uma colocação da luta pela anistia, o significado da UNE na sua vida e homenageou os assassinados na luta pela democracia no Brasil como Honestino Guimarães, Helenira Resende (guerrilheira do Araguaia), Pedro Pomar, José Drumont e Angelo Arroio, dirigentes do PCdoB assassinados no episódio no qual Aldo Arantes também foi preso e barbaramente torturado (Chacina da Lapa, em 1976).
O regime militar deixou marcas profundas na vida de Aldo. Engajado no movimento estudantil desde a juventude, ele foi demitido do cargo de Inspetor de Emigração do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Também foi obrigado a abandonar a graduação em Direito que cursava na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Foi preso com sua esposa e seus dois filhos, que também ficaram presos durante quatro meses e só tinham quatro e três anos de idade. E após tudo isso teve que se exilar no Uruguai. ''Toda minha família sofreu muito'', contou.
Aldo Arantes reconheceu que foi a sua luta que possibilitou a democracia e garantiu que ''lutar vale a pena. Eu faria tudo de novo. Com entusiasmo e garra''. Ele contou que quando saiu da prisão, disse que repetiria tudo o que fez e, hoje, ainda bate no meu peito o sentimento de continuar na luta, emocionou-se o recém-anistiado.
Sua aposentadoria pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como técnico, depois de ter voltado ao país com a Lei da Anistia, foi revista. De acordo com a comissão, caso Arantes não tivesse sido afastado do cargo que ocupava no Incra na época em que foi preso e exilado pela ditadura militar, hoje ele poderia ocupar o cargo de procurador especial com salário de R$ 10.497.50. Esse será o salário que Arantes passará a receber retroativo a 1997.
Fontes www.unb.br,www.oglobo.globo.com/pais,www1.folha.uol.com.br/folha/bras
Entrevista: Aldo Arantes, dia 09/07
Eliz Brandão
PCdoB – Goiânia