Na Europa, Lula reafirma disposição para salvar Doha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar nesta quarta-feira (4) que o governo brasilero está disposto a continuar negociando um acordo multilateral de livre-comércio no âmbito da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Da parte do Brasil, seremos incansáveis na construção de números que sejam factíveis para todos os países que compõem a mesa de negociação, tendo como a coisa mais importante o fato de que os que precisam ganhar mais são os mais pobres e os que precisam ganhar menos são os mais ricos e os países em desenvolvimento. Com isso colocado, poderemos chegar a um acordo” disse em entrevista coletiva, em Lisboa, após participar da Cúpula Empresarial Brasil-União Européia.



O G-4 (grupo que reúne Brasil, Índia, União Européia e Estados Unidos) teve recentemente, na Alemanha, mais uma reunião sem acordo sobre os termos de ampliação do livre-comércio internacional. Logo em seguida, em conversa telefônica com o então primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, Lula já havia dito que o governo brasileiro não abandonaria os esforços para finalizar a Rodada Doha e continuaria contribuindo para os trabalhos com os demais membros da OMC. Frisou, no entanto, que uma decisão política é fundamental.



Nesta quarta-feira o presidente reconheceu, no entanto, que todas as negociações são difíceis e exigem maturidade. “Precisamos de forma muito madura voltar a sentar à mesa, saber onde há problemas, e não podemos ficar nervosos. Em negociação, não vale ficar nervoso, irritado”.



Depois de Lisboa, o presidente Lula segue para Bruxelas, onde participa da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, organizada pela Comissão Européia. Ele afirmou que pretende discutir a questão da renovação energética e voltou a defender que os biocombustíveis serão a solução para reduzir a emissão de gases poluentes. “Não existe outro jeito de nós desaquecermos o planeta Terra”.



Prioridade à OMC



Brasil e União Européia trataram de deixar claro ao mundo que a parceria estratégica que será firmada entre as duas regiões não significa uma opção pelo bilateralismo. Em Lisboa, chefes de Estado e de governo das duas regiões reiteraram inúmeras vezes que a Rodada Doha continua sendo prioridade e enfatizaram a urgência de um retorno à mesa de negociações na Organização Mundial do Comércio.



“Não há substituto para um sistema multilateral de comércio forte, baseado em regras estáveis e eqüitativas”, afirmou Lula. O presidente da Comissão Européia, Durão Barroso, também falou sobre o comprometimento com o sucesso da Rodada aos empresários e em coletiva de imprensa após a Cúpula política. “Quero dizer que nós, da União Européia, não desistimos de Doha”, afirmou no primeiro encontro. “A Rodada Doha não é apenas de comércio, mas é de ajuda aos países menos avançados“ disse em eco com o presidente Lula.



Num ímpeto de otimismo, o primeiro-ministro português, José Sócrates – que nos próximos seis meses estará à frente do Conselho de Ministros Europeus – chegou a dizer que o encontro de dois dos principais atores da Rodada, em Lisboa, representa o relançamento das negociações na Organização Mundial do Comercio. “Este encontro permitiu relançar as negociações e continuá-las”, afirmou José Sócrates. “Nem uma parte nem outra desistem de continuar a tentar que um equilíbrio seja alcançado e que o resultado seja benéfico para uma regulação equilibrada e justa da globalização”, destacou.