Setor público volta ao trabalho na África do Sul

O Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (Cosatu) na sigla em inglês decidiu, na quinta-feira (28/7) aceitar a última proposta de um aumento salarial de 7,5% e encerrar a greve do setor público, que já durava quase um mês. Os grevistas queriam 9%. No iníc

É a maior greve no país desde o fim do regime do apartheid, em 1994, chegando a envolver cerca de 700 mil servidores. Durante o período, foram realizadas diversas manifestações e protestos maciços. À imprensa, Noluthando Mayende-Sibiya, presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educação, Saúde e Associados (Nehawu, na sigla em inglês), afirmou que a greve – que teve início no dia 1º de junho – foi “um momento decisivo de mudança nas vidas dos trabalhadores do setor público”. E acrescentou: “Essa combinação de unidade e militância significa que o empregador nunca mais vai ousar nos tratar com a insensível indiferença”.



No entanto, os sindicatos ligados à educação afirmaram não estarem felizes com a oferta final e que irão seguir com as negociações com o governo. No dia 25, dois sindicatos independentes haviam saído da greve, acusando o Cosatu – maior central sindical sul-africana – de “ávido e oportunista”, afirmando que a proposta de 7,5% de aumento era “fantástica”. A central demorou alguns dias para aceitar esse percentual. A oferta do governo inclui ainda um aumento na pensão habitacional e a promessa da readmissão dos cerca de 600 trabalhadores que haviam sido demitidos por participarem da greve.



Crise neoliberal



Nos últimos dez anos, os servidores públicos têm enfrentado uma expressiva queda de seu padrão de vida. O país tem passado por uma reestruturação neoliberal do setor, cujas conseqüências são privatizações, terceirização e encolhimento dos serviços públicos. Além disso, enquanto os salários dos trabalhadores permanecem baixos, a inflação sobe a cada ano.



A economia sul-africana vem crescendo seguidamente desde 2003. Nesse ano, seu Produto Interno Bruto (PIB) foi 3% maior em relação ao ano anterior. Em 2004 e 2005, o crescimento foi de 4,5% e 4,9%, respectivamente. No ano passado, chegou a 5,5%. No entanto, a população vem se beneficiando pouco desse desempenho. Cerca de metade dos sul-africanos vive abaixo da linha da pobreza, e o desemprego oficial foi de 25,5% em 2006.



Os negros e mulheres, em especial, são os que mais sofrem, mostrando que a discriminação racial e de gênero ainda é muito alta. Dados do Labour Force Survey (LFS), instituição do governo, mostram que o índice de desemprego entre os brancos é de 4,5%. Entre os mestiços, de 19,4%. Entre os negros, atinge 30,5%. O contraste é ainda maior entre os percentuais de mulheres negras desempregadas e homens brancos: 36,4% contra 4,4%.