Renato em Goiânia: ''Principal desafio é o desenvolvimento''
Por Pedro de Oliveira
Para cumprir uma extensa agenda de contatos políticos e realizar uma palestra na Assembléia Legislativa de Goiás, Renato Rabelo, presidente do PCdoB, esteve em Goiânia, onde morou alguns anos durante a ditadura militar. Naqueles t
Publicado 25/06/2007 15:23
Como lembrou Renato Rabelo, ao proferir sua palestra no auditório lotado da Assembléia Legislativa de Goiás, no último dia 21 de junho, aquela luta heróica da resistência do povo brasileiro conseguiu destronar o regime militar e inaugurar uma nova fase política no país, o processo de redemocratização do Brasil. ''Hoje vivemos uma realidade democrática avançada se a cotejarmos com a nossa história política'', disse Renato.
Para Renato, governo Lula ainda tem importantes objetivos a alcançar
“Vamos aqui analisar a própria história do Partido Comunista, que este ano completa 85 anos de existência ininterrupta, dos quais seis décadas vividas na mais dura clandestinidade ou semi-legalidade. Foram, portanto, breves os períodos de liberdade e democracia. Por isso valorizamos tanto esta fase atual. Aqueles que participaram daquela luta, que enfrentaram a ditadura, o obscurantismo, são responsáveis ao lado povo pelo período de democracia ampla que estamos desfrutando. Um símbolo dessa situação é o fato de termos um presidente da República de origem operária em seu segundo governo. Chamo a atenção dos jovens aqui presentes. Isto tudo tem uma importância imensa para a construção de nosso país”.
A construção do projeto de desenvolvimento
Renato Rabelo, que falou sobre o projeto de desenvolvimento nacional, enfatizou que este segundo governo Lula se inicia em condições muito melhores do que as de 2003. Agora, Lula recebeu a herança de seu próprio primeiro governo. Há quase cinco anos, o país vivia uma crise profunda, com grandes déficits, dívidas gigantescas e a dependência total ao capital financeiro internacional e ao FMI. O povo encontrava grandes dificuldades, desigualdades violentas de renda e disparidades regionais. Eram muitos os desafios a enfrentar.
Segundo Renato, diante da realidade caótica encontrada, o primeiro governo Lula conseguiu em pouco tempo estancar a crise e promover uma relativa estabilidade da economia. “Não foi, entretanto, um governo que alcançou todos os objetivos que perseguíamos. Nos quatro anos deste período, não foi possível construir um projeto de desenvolvimento nacional com distribuição de renda para enfrentar as desigualdades regionais. E seria uma grande ilusão pensar que nesse curto espaço de tempo o governo Lula seria capaz de realizar as grandes transformações que o Brasil exige”.
A história mostra, argumentou Renato, que as transformações estruturais — mudanças econômicas, sociais e políticas de novas formações — necessitam um período histórico relativamente prolongado para se processarem. “Em síntese, seria possível dizer que nestes quatro anos e seis meses, o governo Lula conseguiu a recuperação relativa da economia do país que havia chegado a uma situação de muita vulnerabilidade externa, com déficits enormes, e teve início então um processo de redistribuição de renda primária, procurando atingir os mais pobres, que estavam abaixo do nível de pobreza”.
Assim, o Governo Lula procurou atacar de forma emergencial os problemas de um contingente de aproximadamente 50 milhões de pessoas. “Com isso foram atingidos os objetivos de implementar um projeto de desenvolvimento nacional com distribuição de renda?”, pergunta Renato. E responde negativamente. “Esse projeto ainda exige tempo, acumulação de forças – e consciência política — e uma série de outros fatores econômicos e políticos. Mas mesmo com todas estas limitações Lula conseguiu se reeleger, contra uma ofensiva midiática violentíssima, que chegou a levantar a bandeira do impeachment do presidente”.
“Na verdade”, explica Renato,” houve uma simbiose entre forças conservadoras e mídia monopolizada, numa farsa, utilizando-se da mesma tática que levou à morte Getúlio Vargas, provocou a liquidação do governo Jango Goulart e ameaçou seriamente o fundador de Brasília, Juscelino Kubitschek”.
O eixo principal é a produção e o trabalho
O segundo governo Lula se desenvolve em melhores condições em relação ao primeiro, opinou Renato. Ele destacou um aspecto importante da fase inicial do atual governo, que foi barrar o projeto de recolonização representado pela Alca, uma tentativa norte-americana de aplicar uma estratégia de domínio da América Latina não apenas na esfera comercial, mas também no âmbito industrial e cultural. “Foi um movimento de alto significado para a soberania do Brasil, deter esta ofensiva contra os interesses nacionais. Como também foi importante”, lembrou Renato, “o país se livrar do monitoramento do FMI, o Fundo Monetário Internacional. Estes dois feitos são muito simbólicos em função dos objetivos maiores a que nos propomos. O desafio principal, na etapa presente, é a construção de um plano de desenvolvimento com distribuição de renda, valorização do trabalho, educação de qualidade e o incremento da inovação tecnológica, além da tarefa permanente de integração do continente”.
“Estamos ainda em uma etapa em que a política econômica está submetida a interesses internacionais do grande capital estrangeiro – que comumente se denomina de globalização. Não se trata de um sistema do qual possamos nos livrar com pouca força. É um sistema mundial, que requer movimentos poderosos para ser enfrentado”, explicou Renato em sua palestra. “É um sistema baseado em juros elevados que transfere renda da maioria para um punhado que detêm grandes capitais, e que por sua vez não se interessam em aplicar na produção. Vivem da especulação financeira. A grande tarefa é mudar esta lógica, e colocar no centro das preocupações a produção e o trabalho. Este é o eixo principal de um projeto alternativo. Um plano como este exige maiores investimentos estatais e privados, avanço na área de inovação tecnológica e o enfrentamento da política macro-econômica baseada em juros altos e câmbio sobre-valorizado, que faz com que o país perca competitividade, provocando inclusive o fenômeno da desindustrialização a médio prazo”.
“Este quadro vai se alterando progressivamente com as iniciativas do governo com o lançamento do PAC — o Programa de Aceleração do Crescimento — que prevê um volume de investimentos da ordem de mais de 500 bilhões de reais, e do PDE – o Plano de Desenvolvimento da Educação. O objetivo do governo é alavancar o desenvolvimento para que se possa chegar a um crescimento de 4 a 5%, superando a média de 2,3% dos últimos 20 anos. Para se ter uma idéia do que já foi a economia brasileira em relação a outros países em desenvolvimento”.
Renato lembrou que na década de 60 a economia do Brasil se igualava às economias da China e da Índia juntas! Hoje, a economia brasileira não passa de um oitavo destas duas economias.”A luta é para que se estabilize a taxa de juros num patamar real de 3 a 4% , fazendo com que os capitais migrem para a área da produção, possibilitando mais crescimento, ampliando o emprego e a distribuição de renda”, concluiu Renato em sua exposição.
A mesa dos trabalhos foi organizada pelo presidente do PCdoB em Goiás, o ex-deputado federal Aldo Arantes, que fez uma emocionada apresentação do palestrante e destacou a representatividade do ato com a presença de inúmeras lideranças populares e sindicais, além dos principais partidos políticos do Estado. Estavam presentes a CUT, o PMDB, o PSC , o PDT, os representantes do prefeito Íris Rezende, do senador Maguito Vilela, o ex-deputado Fábio Tokarski — pré-candidato a prefeito de Goiânia pelo PCdoB — entre outras personalidades.
Encontros políticos com vistas a 2008
Ao lado deste diálogo vivo que estabeleceu com a militância e os partidos aliados, Renato Rabelo desenvolveu uma série de contatos com a imprensa de Goiás, sendo entrevistado pelo jornal Diário da Manhã e O Popular, além de participar do programa Bom Dia Goiás e de um debate na rádio de maior audiência no Estado.
Na sexta-feira visitou o Prefeito de Goiânia, Íris Rezende, eleito pela segunda vez para a prefeitura da capital de Goiás. Íris foi prefeito em 1965 e cassado pelo regime militar em 1969. Depois governou o Estado de 83 a 86, sendo nomeado ministro da Agricultura durante o governo Sarney. Voltou a ser ministro, agora da Justiça, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso. Em 2004 foi eleito prefeito pelo PMDB, numa disputa acirrada com o candidato Pedro Wilson, do PT. Íris Rezende tem jogado um papel importante na política goiana, especialmente na capital onde tem aplicado um projeto de valorização das condições de vida da grande maioria dos habitantes de Goiânia.
Renato, neste encontro, destacou o trabalho democrático que Íris vem realizando. O presidente do PCdoB esteve acompanhado de Aldo Arantes, de Honório Rocha, Luis Carlos Orro e do pré-candidato a prefeito pelo PCdoB, Fábio Tokarski. Renato Rabelo manteve, por fim, conversações políticas com os dirigentes e parlamentares do PDT goiano, Euler Ivo e Isaura Lemos.