Augusto Chagas: ocupação da USP foi saia justa para tucanos

Em entrevista ao Vermelho-SP, o presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo faz um balanço da ocupação da reitoria da USP, das manifestações na Unesp e nas universidades federais. Augusto também analisa a educação públic

Vermelho-SP: A ocupação da USP chegou ao fim com o compromisso da reitoria em atender uma série de reivindicações dos estudantes. Qual o balanço da ocupação?


 


Augusto Chagas: O balanço da ocupação foi muito vitorioso! Primeiramente, porque ela conseguiu definir conquistas reais para bandeiras dos estudantes da USP, como a questão da construção de novos blocos de moradias estudantis, a questão sobre a ampliação do horário de abertura dos restaurantes, o debate a respeito do júbilo e várias outras bandeiras que há tempos vinham sendo postergadas.


 


Segundo, porque a ocupação conseguiu manter vigilante toda a comunidade acadêmica para o grave ataque que as universidades estaduais de São Paulo estão sofrendo. Trata-se de um retrocesso de mais de vinte anos que está sendo levado a cabo pelo governador José Serra e seu secretário de ensino superior, o Pinotti, quando colocam em risco a autonomia das nossas universidades. A ocupação obrigou o governador a se retratar publicamente, recuando de algumas de suas pretensões. E com o seu fim, ele pensará duas vezes antes de tomar outra medida como a contenção de verbas ou de contratação de professores.


 


Mas, principalmente, penso que a ocupação da reitoria da USP pelos estudantes foi uma saia justa para a hegemonia tucana em São Paulo. Há tempos temos dito que os governos do PSDB em São Paulo tem graves inconsistências, e que sua política educacional é um fracasso. E dizer isso para a opinião pública tem sido muito difícil. A ocupação da reitoria da USP significou um importante desgaste ao recente governo de José Serra e dá um fôlego importante ao movimento social paulista.


 


Vermelho-SP: Qual sua análise sobre a educação pública no estado?


 


Augusto Chagas: A situação é grave! Faz-se muita propaganda, mas a educação pública está um desastre em São Paulo. Todos os resultados das avaliações sobre a educação paulista têm demonstrado isso. A política distorcida de progressão continuada – ou “aprovação automática” – tem contribuído com isso. Os seguidos cortes do aumento do financiamento para a educação também.


 


No caso das universidades estaduais tem ocorrido uma séria de contradições e ataques. De um lado, uma pressão muito grande para que as universidades de São Paulo continuem com um modelo excludente de ensino, elitizado, atendendo à mísera parcela de 1,5% dos jovens do Estado. De outro, uma série de medidas que colocam em cheque a qualidade da nossa universidade, como o corte de verbas e planos de expansão midiáticos, sem infra-estrutura adequada e sem contratação de professores.


 


Falta um projeto para o ensino superior público que, de um lado, possa garantir o aumento de verbas públicas para a educação, buscando qualidade na formação de jovens e na produção de ciência e Tecnologia e, de outro, que invista num massivo aumento de número de matrículas! O PSDB de São Paulo deve ser responsabilizado por essa situação, pois está há 13 anos no poder!


 


Vermelho-SP:  Seguiu-se à ocupação da USP uma série de outras ocupações em universidades estaduais, como nos campi da Unesp. A UNE também realizou ocupações e atos em universidaes federais. Qual a relação entre os movimentos?


 


Augusto Chagas: Tem muita relação. Uma das bandeiras das ocupações promovidas em reitorias de todo o país pela UNE era o apoio e divulgação do que estava acontecendo em São Paulo. Naquele momento, dizia-se que a Polícia Militar iria invadir a USP e tirar os estudantes a força e achamos que nossa ação poderia inibí-los de tal medida. Além disso, as atividades promovidas pela UNE levantaram o debate da assistência estudantil nas universidades federais, exigindo uma garantia no aporte de verbas para a construção de moradias, restaurantes e bolsas. Foi uma atitude corajosa, que deu um recado ao Governo Federal da independência da UNE e de vamos proceder se nossas reivindicações não começarem a sair do papel.


 


Vermelho-SP:  Outro fato importante é que a ocupação da Unesp Araraquara foi debelada pela PM. Qual sua avaliação da Polícia Militar agir na universidade?


 


Augusto Chagas: É lamentável. Tenho certeza de que só tomaram esta medida porque se tratava de um campus universitário do interior de São Paulo, distante das câmeras da televisão e das fotografias de jornal. Fizeram na Unesp Araraquara o que pensaram que poderiam fazer na USP. Só que a ocupação daqui tomou proporções que eles não esperavam. De qualquer maneira, temos que repudiar duramente a decisão do Diretor da unidade da Unesp de Araraquara que autorizou o uso da força policial. Não é aceitável, com o avanço da democracia brasileira, que se trate qualquer movimento social reivindicatório com o uso de força policial. No caso de uma universidade pública, isso se torna o cúmulo!


 


Vernelho-SP:  Quais mecanismos para continuar as mobilizações para garantir melhores condições para a universidade pública?


 


Augusto Chagas: Penso que estas movimentações todas trouxeram um fôlego importante para o movimento estudantil. Os estudantes da USP foram capa dos principais jornais do país por quase dois meses. E isso traz um incentivo importante, mostra que é possível resistir contra determinadas medidas, que com coerência e radicalidade podemos garantir vitórias importantes. O principal agora é transformar essa euforia em mais medidas e ações. Conquistar mais estudantes da USP para os problemas que enfrenta a universidade pública. Construir mais maneiras de dialogar com a sociedade paulista em geral. E, principalmente, estar vigilante. Penso que os ataques do Serra não cessam por aqui. Os próximos anos serão de aumento da radicalidade. O recado dos estudantes foi claro: estaremos aqui para resistir!