João Cláudio Moreno: ‘a política se tornou um círculo vicioso de inatividade’
O vereador de Teresina pelo PCdoB, João Cláudio Moreno faz avaliação dos dois anos no parlamento municipal da capital piauiense e conta suas experiências com a população em suas andanças pela periferia de Teresina. Na entrevista, publicada no Jornal Di
Publicado 21/06/2007 23:14 | Editado 04/03/2020 17:02
Diário do Povo – Em suas andanças pela periferia de Teresina, qual a realidade que você encontra? Quais os principais problemas e necessidades destas comunidades?
João Cláudio – Enquanto não conhecermos a periferia das cidades não teremos a noção exata do que acontece com elas. Eu creio que a solução dos problemas vem de onde estão as suas causas também. As políticas publicas, as instituições, ou seja, nós todos não conhecemos a periferia, o povo da periferia, sua essência, sua originalidade e os inúmeros recursos que em si eles têm e que podem salvar as cidades dos principais problemas que são comuns em todo o Brasil. Os problemas são os mesmos, seja aqui, seja em qualquer outro lugar, é desemprego, violência, desagregação familiar, falta de educação e de oportunidades, falta de saneamento e de perspectivas e desorganização comunitária.
O conceito de comunidade antes muito forte deu lugar ao individualismo de guetos, gangs e política institucional partidária camuflada de Associação de Moradores. É simplesmente fabuloso o aprendizado que as periferias têm me dado.
Diário do Povo – Teresina por um lado é reconhecida pela excelência na Saúde e por outro lado milhares de pessoas padecem na mesma cidade por falta de assistência médica. Recentemente o secretario de Saúde Assis Carvalho sugeriu a transferência do antigo HDIC para o Hospital Universitário, para que as instalações do HDIC funcionem como Pronto Socorro a fim de suprir a não conclusão do Pronto Socorro de Teresina. Qual sua opinião sobre essas mudanças propostas por Assis Carvalho?
João Cláudio – Fala-se muito que o atual secretário de Saúde, Assis Carvalho não entende nada de saúde publica, se ele não entende, muito menos eu. Não tenho
condição de emitir um juízo de valor sobre essas ultimas atitudes, se transferir o HDIC é ruim ou bom, mas como observador atento, preocupado e que ouve muito a população arrisco dizer que o melhor seria dar um jeito de por o Pronto Socorro tão antigo e nunca inaugurado pra funcionar e o
Hospital Universitário também e com sua função original e o HDIC também. A impressão que eu tenho é que Teresina não pode infelizmente se dar ao luxo de ter um hospital em cada Bairro e esses que estão ai com estrutura física e quadro funcional geram despesas, mas na prática são uma ficção, na hora todos correm para o estrangulado HGV. Outra coisa é que continuamos atender no HGV gente de todos os Estados, mas sem receber os recursos do SUS desses estados. Falta decisão política, o impasse para a boa vontade de unir forças para resolver o problema do Pronto Socorro, do Hospital Universitário e da Ponte do Sesquicentenário, só para citar esses exemplos e não se aprofundar em outros, me dá nojo.
Diário do Povo – Entre seus projetos de Leis na Câmara Municipal, a Lei do Silêncio se destacou pelo serviço prestado à cidade, agora o secretário de Segurança Robert Rios anunciou uma delegacia móvel para fazer cumprir a Lei de sua autoria. Você está satisfeito com os desdobramentos de sua proposta inicial, a Lei está cumprindo na prática o que você desejou ao criá-la?
João Cláudio – Fiquei feliz quando eu soube pela imprensa que o secretario resolveu apoiar nossos esforços e abrir guerra contra esses indivíduos boçais,
desumanos, ignorantes que tripudiam das regras de civilidade e vivem perturbando o sossego do seu semelhante com esses infernais carros de som,
prejudicando a saúde deles mesmos e dos outros e impondo seu péssimo gosto musical a quem não compartilha das mesmas preferências ''culturais''. Essa gente abusa, vilipendia ate do nosso direito de ir e vir. Faz pouco caso da Lei do Silêncio, funcionam como anti-cidadãos.
Mas ate agora não vi nada ainda, por enquanto só barulho na mídia. Se o secretario fizer isso mesmo, ele vai ter no vereador João Cláudio Moreno, um entusiasta não só da sua gestão, mas um vibrante colaborador eterno de todos os seus pleitos políticos, Eu mandei até uma carta agradecendo o secretario, mas espero que ele esteja falando serio, sabe por quê? Com dois anos de mandato, eu vivo traumatizado de tanto blablabla, é o que mais se impõe no nosso serviço público, o blablablá institucional e que nos coloca num circulo vicioso da inatividade, enquanto isso o crime, o desmando, a negligencia com o patrimônio publico campeia, e a Prefeitura é grande responsável para fazer valer esta Lei também, bastava uma grande multa no infrator e você ia ver o resultado.
Diário do Povo – No seu retorno à Câmara, depois de breve afastamento, quais seus planos e prioridades nestes quase dois anos que ainda restam de mandato no legislativo municipal? Quais seus projetos e prioridades?
João Claudio – Concentro meu mandato em três aspectos primordiais: a questão urbana, (ambiental, poluição visual, código de posturas , plano diretor etc); a
questão cultural (patrimônio histórico e aspectos humanos da cultura patrimonial) e a questão da periferia. Nesse terceiro item estou devendo um
grande debate e um grande documento final que sirva de luz para orientar as legislações urbanas nesse sentido. Preciso organizar nesse tempo que me resta um grande fórum totalmente despolitizado sem a presença dessas figurinhas carimbadas que mais atrapalham a discussão do que contribuem com ela e apresentar novas perspectivas sobre a realidade das periferias, era essa a minha maior ambição política, mas me falta equipe e objetividade, estou tocando o projeto de maneira muito subjetiva e sem pragmatismo, reconheço, e me resta pouco tempo para recuperar o esforço perdido e recomeçar mais estruturado mais norteado vamos assim dizer.
Diário do Povo – Quais seus projetos políticos pessoais? Já fez planos para as eleições de 2008, período em que termina seu primeiro mandato de vereador?
João Claudio – Não desejo concorrer à reeleição e tomo a decisão usando para isto os mesmos parâmetros de pensamento que me fizeram não concorrer a eleição de deputado, onde todos diziam que eu seria facilmente eleito e eu acredito que as minhas chances eram mesmo muito boas, mas eu não estou atrás de fazer carreira política, digo isso sempre e parece que ninguém acredita, agora já tem gente dizendo que eu quero ser candidato a prefeito. Nunca pensei nisso, não me acho capaz de ser prefeito e nem de disputar uma candidatura dessa importância que exige firmeza, equilíbrio, fortaleza e tempo integral alem de muita experiência. Quando me perguntam sobre isso, eu respondo sempre, eu daria um bom candidato a vice, que é aquele candidato que embora empreste seu nome a chapa, não se expõe tanto, só contribui, Quando é anódino não prejudica uma boa chapa e quando é um bom nome ajuda mesmo a ganhar a eleição.
Diário do Povo – Alguns partidos políticos já anteciparam o debate eleitoral das eleições municipais, a exemplo do seu partido, o PCdoB, com a afirmação de que terá candidato próprio. Qual a análise que você faz desde cenário prévio para as eleições de 2008?
João Claudio – Eu acho que ninguém nunca ganha nada quando antecipa um pleito eleitoral.todo mundo que começa a falar disso muito cedo, muito cedo também sai do jogo. O PCdoB vai ter candidato porque tem quadros e estrutura para isso e isso é bom para o partido definir terreno. Eu não preciso estar na sede do PCdoB todo dia para entender como age o partido. Alias quando as cenas do cenário político e a conjuntura política nacional estão muito confusas, eu leio os boletins regulares do partido, eu leio o que dizem os principais ideólogos do PCdoB, e minha visão fica clara em um segundo. O Partido Comunista do Brasil é o que mais tem uma visão realista e perspicaz sobre a realidade do Brasil e do mundo e se debruça sobre ela e a partir dela elabora seus projetos. Nessa perspectiva eu acho um consolo, um amparo fazer parte do PCdoB.
Diário do Povo – Qual perfil político deve ter o candidato à prefeitura de Teresina?
João Claudio – Em minha opinião, deveria ser uma pessoa que ame a cidade e demonstre isso. A gente perceba quando ele falar na televisão que por trás das suas palavras há um amor verdadeiro, algum sentimento puro embutido ali. Depois que seja um homem de ação, porque discurso bonito e emotivo, é uma coisa realmente que motiva, mas palavras o vento leva, deve ser uma pessoa que passe a impressão da praticidade, nesses tempos difíceis é essencial que seja sensível, que goste do belo, que tenha um parâmetro estético e o cumpra e que tenha uma historia limpa e que ande bem acompanhado. A gente não pode escolher os inimigos, mas pode escolher sim os amigos, alias amigo a gente não faz, amigos a gente reconhece.
Diário do Povo – Qual a avaliação que você faz dos dois primeiros anos de administração do Prefeito Silvio Mendes?
João Claudio – Dizem que na Câmara Municipal e nos meios de comunicação que eu sou um dos maiores críticos do prefeito Silvio Mendes, não creio que isso seja verdade, no entanto, se for verdade, eu apenas estou cumprindo o meu papel de vereador, independente, não tenho nenhum compromisso formal com a prefeitura ou com o Palácio do Governo que me impeça de fazer criticas ou dizer o que penso. Quando critico eu quero apenas fazer render ainda mais a excelente gestão do Silvio Mendes.
Olhando pra administração do Silvio Mendes, mesmo vendo inúmeros problemas, ainda arrisco dizer que a cidade não poderia ter elegido nessa circunstancia prefeito melhor. Os pontos positivos da sua administração é a transparência na sua maneira de falar e a maneira séria com que encara os desafios, o prefeito tem uma excelente imagem pessoal e o principal aspecto negativo é os inúmeros vícios administrativos oriundos de uma política com fins eleitorais que ele herdou desse esquema de poder do PSDB que está plantando há muitos anos e que desenvolveu esses vícios, difíceis de debelar de uma hora pra outra, mas não posso dizer que ele, Silvio, não esteja tentando.
Diário do Povo – O vereador é o cargo político que está mais próximo do povo. Com você, eu diria que está proximidade é ainda maior, por ser também artista. O que você aprendeu de mais significativo nesta proximidade com os eleitores nestes mais de dois anos atuando como vereador de Teresina?
João Claudio – Nunca vou poder esquecer esta experiência que estou vivendo. Posso dizer sem exagero que esta fase sofrida rica e crescente me deu uma visão muito
humana da política antes muito acadêmica para a minha percepção. Eu melhorei como pessoa, não tenho a menor duvida disso, agora como eu sou muito rigoroso comigo mesmo eu não sei dizer se eu melhorei a cidade com minha atuação, isso ainda me faz sofrer um pouquinho, mas, as vezes tenho a impressão de que o legislativo é uma fábula completamente desnecessária e as vezes tenho a convicção orgulhosa de que nós vereadores salvamos a colheita, você me entende? O papel do legislador é uma montanha russa de altos baixos, orgulhos, omissões, mas sem duvida nenhum um grande aprendizado. O povo de Teresina é um povo muito bom e muito consciente e carente de lideres.
Diário do Povo – Se você pudesse fazer ações mágicas, rápidas com resultados instantâneos para melhorar a vida dos teresinenses, o que faria?
João Cláudio – Trataria de preservar todo o verde possível, principalmente nos arredores de Teresina, estrada da Alegria, Usina Santana, Socopo e estrada de Jose de
Freitas. Nesta região tem muito verde, muita água no subsolo e nós vamos precisar muito disso, mas a visão mercadológica do consumo idiota está
transformando essas áreas privilegiadas apenas em terreno para especulação imobiliária.Com uma mágica eu preservaria tudo. Quer construir? Construa, mas nada pode ser derrubado, nenhuma arvore. Na Socopo tem arvores de setenta metros de altura. Com outro toque de varinha de condão eu botava todo menino na escola e com outro eu transformava todo bar que vende bebidas e é ponto de encontro pra comercio de droga numa oficina profissionalizante, Se você quiser um exemplo aberto do que é a periferia veja isso: na Avenida principal do Dirceu Arcoverde há 65 casas de lazer, bares, churrascaria, trailer e botecos, e quantas oficinas para oferecer uma profissão aos jovens? Nenhuma no Bairro inteiro, mas lugar de perdição e ócio para desocupados só na avenida principal 65, depois reclamamos do que estamos plantando.
Diário do Povo – Você foi preterido pelo PCdoB em uma possível candidatura do partido aos cargos de vice-governador e prefeito de Teresina. Você preteriu o PCdoB na disputa pelo cargo de deputado estadual, a final existe algum conflito ideológico ou de estratégia política entre João Cláudio e o PCdoB?
João Claudio – Não, absolutamente. Os vereadores Cícero Magalhães e Jacinto Teles, meus colegas na Câmara Municipal, chegaram a propor meu nome como vice na chapa de Wellington Dias na eleição de 2006, soube também por fontes seguras que o vice-prefeito Elmano Ferrer e seu João Claudino, que é um grande amigo meu e constante patrocinador do meu trabalho artístico também chegaram a ventilar meu nome , mas o partido não me preteriu, o que aconteceu é que o partido não comprou essa idéia, essas coisas são muito delicadas, qualquer passo pode ser um erro, e o partido achou que eu não tinha ainda a desenvoltura ou a representatividade suficientes para um cargo assim tão alto, e não levou a frente essa discussão, ate porque já considerava um projeto definido: que eu saísse candidato a deputado. Eu também não preteri o partido, avisei com certa antecedência da convenção que não aceitaria disputar o mandato, fiz isso e ate agora não me arrependi. Eu escolhi o partido por convicção e identificação. Sou um amigo do PCdoB desde 1985 quando os camaradas ainda eram clandestinos e abrigados na legenda do PMDB, ajudei a eleger Manuel Domingos deputado constituinte, mas só me filiei ao partido em 2000. Acho o Osmar Junior um político arrojado, capaz e talhado para qualquer circunstancia, digo qualquer e enfatizo ele pode entrar e atuar politicamente em qualquer circunstancia e dela sair ileso por causa de suas características humanas: sensatez, prudência, bom discurso, fundamento e vivencia ideológica, simpatia, experiência, intuição. O Osmar é o protótipo do homem do PCdoB. Entre eu e o PCdoB ainda não houve um dialogo franco, não digo que haja uma desconfiança mútua porque essa palavra seria muito forte, mas digamos que há uma reticente expectativa de avaliação. Eu acho que
eles tem razão de serem prudentes e eu tenho razão de aprender com eles.