2º Caravana da Ubes sacudiu o Brasil pelo passe livre
A 2º Caravan da Ubes percorreu quase quinze mil quilômetros, cruzou onze estados e apresentou o debate do passe livre a três mil e quinhentos estudantes, promovendo vinte e um debates e dezessete apresentações teatrais. E mais: a Ubes entregou um modelo d
Publicado 20/06/2007 22:30
“Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. A célebre frase de Geraldo Vandré foi repetida tantas vezes ao longo da Caravana que se tornou quase um mantra –e não poderia existir mantra melhor. Numa sexta-feira quente, em São Paulo, embarcaram num ônibus doze pessoas com cabeças e formações diferentes para uma jornada que, sem dúvida, mudaria o resto de suas vidas. Tudo o que sabíamos era que percorreríamos o Nordeste e, de alguma maneira, chegaríamos ao Centro-oeste e, depois, no Sudeste. Mas não tínhamos a dimensão exata do que viveríamos nos 28 dias decorrentes.
Um projeto tão grandioso merecia uma causa nobre. A luta pelo passe livre estudantil é fundamental para garantir o acesso e a permanência dos estudantes na escola. Nos últimos anos, o preço das passagens aumentou o equivalente ao dobro da inflação – e o reajuste do salário mínimo não acompanhou a taxa. Cada família brasileira tem, em média, três filhos – dá para imaginar, então, o custo que o preço das passagens representa no bolso do trabalhador, que acaba sem ter como custear a passagem dos filhos e engrossa a triste estatística da evasão escolar.
E é mais triste ainda porque na maioria do país nem o poder público, muito menos os empresários de transportes, vêem a causa por esse lado. Como o presidente da Ubes, Thiago Franco, disse em um discurso inflamado em uma atividade em Recife: “Eles não querem que as pessoas estudem, se esclareçam. Porque quem estuda tem maiores condições de lutar por seus direitos”. Por isso, apesar de todas as dificuldades, a Caravana saiu do papel, cumpriu uma proveitosa primeira etapa e completa agora a segunda, cansada, mas triunfante.
Melhores momentos
Entre os quase quinze mil quilômetros percorridos, cruzamos onze estados; apresentamos o passe livre a três mil e quinhentos estudantes; promovemos vinte e um debates e dezessete apresentações teatrais. E mais: entregamos um modelo de projeto de lei do passe livre, elaborado pela Ubes, a treze autoridades políticas entre governadores, prefeitos, secretários de estado, deputados e vereadores.
“O saldo foi extremamente positivo. A gente atingiu estudantes de todo o país, e conseguiu permear o debate na institucionalidade”, diz Thiago Mayworm, diretor de Esportes da Ubes e coordenador da Caravana.
A Caravana também cumpriu um importante papel de mostrar aos alunos que o movimento estudantil está cada dia mais fortalecido. Para reafirmar isso, a Ubes foi ate os estudantes explicar suas lutas e tentar plantar em suas cabeças uma semente de revolução. E despertou: o interesse dos estudantes e a participação nos debates mostraram que a Caravana cumpriu o seu papel, e podia deixar a cidade tranqüila de que os jovens e as entidades locais seguiriam com a luta.
O fortalecimento do movimento estudantil, promovido pela Caravana, é uma via de mão dupla. Além de dar uma grande visibilidade para as entidades locais, a Ubes também ganhou muito com essa história. “Apesar de sermos uma entidade nacional, não conseguimos atingir todo país, até por falta de verba. Com a Caravana, conseguimos conhecer profundamente a realidade de cada localidade e, assim, enxergar melhor a realidade nacional”, reflete Marcos Santos, 1º Diretor de Relações Internacionais de Ubes e elemento constitutivo da jornada.
Fato é que todos que estavam ali, de certa maneira, aprenderam pessoalmente e profissionalmente. Para o grupo TeatrAtividade, que passou por poucas e boas durante a jornada, até os momentos de perrengue valeram a pena –o coordenador Cláudio Juarez diz que todo mundo evoluiu durante a viagem. “É impressionante o aprendizado do grupo, em cada apresentação, com cada platéia”. Os atores que o digam –em uma das últimas apresentações, em Maracanaú, eles tiveram até que dar autógrafo.
Piores momentos
Claro que, em um mês de estrada, convivendo com pessoas estranhas, surgiram picuinhas e brigões que, no fim das contas, acabam virando histórias engraçadas. A maioria da tripulação do ônibus não se conhecia e, até o primeiro momento de perrengue –quando o ônibus quebrou por 20 horas em Minas Gerais– teve seu lado bom, porque foi ali que conhecemos uns aos outros.
Um dos maiores problemas, para Thiago, coordenador da Caravana, foi a falta de organização de algumas entidades locais ao prepararem as atividades. Outra dificuldade, claro, era a dificuldade financeira. O coordenador tinha que rebolar para garantir comida e estadia para a exigentes equipe. Mas Marcos Santos, o único que esteve também na primeira fase da Caravana, enxerga com nitidez os avanços do projeto: “Na primeira não tínhamos experiência. Fizemos viagens muito longas, que traziam um desconforto enorme. Desta vez, houve mais planejamento, não repetimos os mesmos erros”, conta. O Diretor lamenta, apenas, a falta da participação de todos os grupos do movimento estudantil. “Para mim, o que constrói a convergência são as divergências. Eu acho que o debate político poderia ser mais amplo”, reflete.
E a música de Vandré, repetida exaustivamente nas apresentações do TeatrAtividade, mais uma vez fazia sentido: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Não esperamos mesmo: para garantir que estivéssemos no horário nas atividades, ficávamos sem dormir, sem comer e sem tomar banho. Ficávamos mal humorados, capengas, cansados, mas tranqüilos, porque tudo aquilo estava valendo muito a pena. E valeu tanto que a Ubes planeja uma nova edição da Caravana no segundo semestre, que percorrerá o sul do país. E lembrando que a entidade “não vai arredar o pé enquanto não conquistar o passe livre”, como Marcos diz nos discursos, e que “um sonho sonhado junto é realidade”, como Thiago costuma finalizar suas exposições.
A segunda fase da Caravana termina torcendo para que chegue logo a terceira.
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