PCdoB alerta para uma nova ofensiva da direita
Na exposição de abertura da reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB, que ocorre nos dias 15 e 16 de junho, Renato Rabelo, presidente do partido, chamou atenção para uma nova ofensiva da direita, “utilizando os mesmos instrumentos usados duran
Publicado 15/06/2007 16:24
Renato fez uma abordagem abrangente sobre a evolução do quadro político. Na avaliação do quadro mundial, destacou como fatos novos a postura ofensiva da Rússia, que “retoma o crescimento econômico e passa a jogar mais pesado na defesa dos seus interesses geopolíticos, contrapondo-se ao questão dos mísseis dos EUA e à política agressiva do imperialismo, que não aceita potências rivais”; o resultado da recente reunião do G-8, que terminou sem acordo e na qual o “governo Lula reafirmou sua política externa soberana, defendendo as novas fontes energéticas e o meio ambiente, que passou a ser uma questão essencial para o futuro do planeta e da humanidade”; e a vitória folgada da direita, “sob roupagem de moderna”, nas eleições legislativas da França, o que terá profundos reflexos na Europa e pode sinalizar uma nova onda conservadora no velho continente.
Avanços e entraves da integração regional
Renato Rabelo também deu tratamento especial aos avanços e obstáculos da integração latino-americana. “O cenário é positivo, mas não é tarefa fácil integrar países com tantas assimetrias. Na caso da resposta de Chávez à direita do Senado, que se opôs ao fim da concessão da RCTV, a mídia tenta explorar o incidente para isolar a Venezuela e inviabilizar seu ingresso no Mercosul. O governo Lula teve atitude equilibrada ao defender a instituição brasileira, ao apoiar a decisão soberana do governo Chávez e ao rejeitar o jogo da direita e da mídia, que tem uma atitude abertamente contrária a integração. A Fiesp inclusive rejeita os apelos do governo para ser mais ‘generosa’ diante dos países mais frágeis da região visando garantir a união. Setores sectários de esquerda não percebem este jogo e acabam fazendo o jogo do imperialismo”.
Por último, neste ponto, o presidente do PCdoB destacou que os EUA começam a dar sinais evidentes do início de recessão – que se expressa na queda do dólar. “Isto apesar da economia mundial viver uma fase de crescimento, que já dura cinco anos, e que leva os mais otimistas a falarem em ‘novos anos dourados’ do capitalismo. Este crescimento, mesmo limitado, ajuda os chamados países em desenvolvimento com o aumento da exportação de comodities e a maior liquidez no mercado. Parte do dinheiro que ‘sobra’ entra em nossos países para o puro jogo especulativo, mas outra é investida na produção. Se os EUA entrarem em recessão é evidente que haverá um impacto negativo na economia mundial, inclusive no Brasil”.
Nova investida da direita e da mídia
Sobre o quadro político brasileiro, Renato Rabelo alertou para a possibilidade de uma nova ofensiva da direita para desgastar e acuar o governo Lula. “Como não dá para atacar diretamente o presidente Lula, que goza de enorme prestígio junto ao povo e conta com uma fase favorável da economia, a direita e a mídia tentam novamente recolocar o falso discurso da ética. A própria ação da Polícia Federal, que goza de autonomia e possui forte disputa interna, é utilizada. O episódio do irmão de Lula, que não tem nada a ver com o governo, é usado para exacerbar a crise. Esta nova ofensiva também tem outros alvos precisos. Visa atingir os aliados do governo, o PMDB. A TV Globo montou uma verdadeira operação de guerra, com o envio de repórteres ao interior de Alagoas, para desmoralizar o presidente do Senado. Não dá para se iludir diante do jogo maroto da direita e da mídia. É preciso ficar atento às suas manobras”.
Para o presidente do PCdoB, estas ações objetivam criar um caldo de cultura para o futuro. No presente, o governo se mostra fortalecido, tanto no terreno político, com amplo apoio, como na economia. “O cenário atual é de uma economia estável, confortável e de crescimento médio. Para um país que crescia cerca de 2,5% nos últimos anos, a situação melhorou com a previsão de 4,5% de crescimento neste ano. A taxa de investimento ainda é muito baixa, de 17,2% do PIB. O próprio programa da candidatura Lula propunha uma taxa de 25% do PIB. Mas há sinais de que haverá melhoras no segundo semestre, com um arranque maior da economia. Há muito dinheiro entrando no país e não apenas para fins especulativos. Nota-se o aumento dos investimentos produtivos, mas num processo perigoso de desnacionalização da economia”.
Renato Rabelo também destacou, como um importante elemento da conjuntura, um certo despertar dos movimentos sociais. Citou a retomada das greves, como a importante paralisação dos metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional, e o Congresso do MST, que reuniu mais de 18 mil ativistas. Também deu destaque aos esforços de construção do Bloco de Esquerda, que reúne PCdoB, PSB , PDT e outros partidos. “Não é uma tarefa fácil, já que existem muitas diferenças, mas há o entendimento de que o bloco é um instrumento valioso de intervenção e interlocução na política nacional”. Ele conclamou as lideranças partidárias a participaram do ato de lançamento da plataforma comum do bloco, em 20 de junho.
Os impasses da reforma política
Sobre a reforma política, o presidente do PCdoB confirmou as previsões partidárias de que não será fácil introduzir mudanças profundas no sistema eleitoral. “Nosso partido definiu sua posição em defesa da lista pré-ordenada e do financiamento público. Mas os outros partidos se dividiram na sessão desta semana da Câmara Federal. Além do PCdoB, outros quatro partidos – PT, PPS, PSOL e PFL – fecharam questão em defesa da lista; mas cerca de 30 deputados do PT discordaram da a direção. O PSDB também mudou de posição por achar que a lista iria beneficiar o PT e aproveitou para propor medidas ainda mais restritivas, como o voto distrital. Na prática, houve uma rebelião das bases contra as cúpulas partidárias”.
No final das contas, argumentou Renato, “ficou visível que o debate ainda está muito verde. O resultado revela que a discussão está pouco madura. O assunto da lista é complexo, representa uma mudança abrupta no sistema eleitoral. Penso que o tema demanda maior discussão para se chegar aos consensos. É preciso analisar mecanismos de transição para esta mudança, além de assegurar no projeto final que não haja qualquer retrocesso no financiamento de campanhas ou outras medidas regressivas”.
Por último, o presidente Renato Rabelo abordou os desafios do PCdoB para o próximo período. Na sua avaliação, o partido passa por um período de expansão. “Há muitas lideranças se filiando, procurando o partido em todo país A filiação de parlamentares e prefeitos só é foi maior em função das dúvidas geradas pelo Tribunal Superior Eleitoral sobre a perda de mandatos em caso de mudança de partido. Mas as perspectivas são muito positivas. O problema agora é dar maior organicidade aos companheiros que já ingressaram, aplicar os cursos de formação, vinculá-los aos organismos, fazer fluir suas contribuições. Na prática, a orientação de que é preciso maior ousadia neste momento foi bem recebida pelo coletivo”.
Os resultados positivos também têm se manifestado no projeto eleitoral do PCdoB para 2008. “O partido está atento ao problema. A comissão eleitoral montada por acompanhar o nosso projeto eleitora já nota retornos positivos. Quando foi instituída tínhamos potencial de lançar candidatos às prefeituras em 140 cidades; agora já são 274 candidatos em potencial, em especial nas capitais e nas grandes cidades. As articulações com o Bloco de Esquerda também têm sido satisfatórias, com o PSB e o PDB manifestando disposição para apoiar candidatos comunistas em várias capitais. O partido também realizou contatos com lideranças do PT e mantém as portas abertas para coligações. “Todo o esforço de reforçar o partido e seu projeto eleitoral tem valido a pena e merece maior atenção das direções partidárias”, concluiu Renato.