Mesmo sob vaias, Heloísa Helena é reeleita presidente do PSOL

Maioria decide aliar atuação parlamentar à construção de um “partido de massas”. Grupos minoritários, como os liderados por Babá e Plínio Sampaio, querem continuar a discutir o programa do partido. Heloísa Helena sofre críticas por suas posições frente

Criticada por alguns militantes, mas ''amada'' pela maioria do partido, a ex-senadora Heloísa Helena foi reeleita neste domingo (10) para a presidência do PSOL. O 1º Congresso Nacional, realizado no Rio de Janeiro, confirmou a supremacia do grupo formado pelos parlamentares sobre as tendências mais próximas à ultra-esquerda e definiu os rumos políticos do PSOL para os próximos anos: oposição programática ao governo Lula e formação de alianças visando a construção de um partido de massas que possa conduzir o povo brasileiro na luta contra o neoliberalismo.


 


Com a participação ou apoio dos deputados federais Ivan Valente (SP), Luciana Genro (RS) e Chico Alencar (RJ), do senador José Nery (PA) e de figuras públicas como Edmilson Rodrigues (ex-prefeito de Belém) e os ex-deputados Milton Temer e Maninha, entre outros, a chapa “Organizar, Lutar e Vencer”, encabeçada por Heloísa Helena, obteve 467 votos num universo de cerca de 750 delegados votantes.


 


Em segundo lugar, com 174 votos, chegou a chapa “Bloco Classista e de Lutas”, encabeçada pelos ex-deputados federais Plínio de Arruda Sampaio e João Batista Babá. Formada em sua maioria por militantes que vieram da tendência petista Democracia Socialista (DS), como João Machado, Orlando Fantazzini e João Alfredo, a chapa “Por um Brasil Socialista e Sustentável” obteve 78 votos e chegou em terceiro lugar. Por fim, com 14 votos, a chapa “Construindo o PSOL”, encabeçada pelos militantes Raul Marcelo e Márcio Silva.


 


“A chapa vitoriosa representa a maioria das teses aprovadas neste congresso e aponta para um projeto estratégico de partido, com uma plataforma tática de ação política e intervenção na conjuntura”, avalia José Luiz Fevereiro, responsável por defender ao microfone a candidatura de Heloísa Helena. O dirigente do PSOL disse também que a vitória da ex-senadora confirma a continuidade do caminho iniciado nas eleições de 2006: “O PSOL resgata a campanha de Heloísa, que representou uma vitória extraordinária para o partido e refletiu as demandas do povo pobre e trabalhador desse país”.


 


Luciana Genro comemorou a vitória de sua chapa: “Tenho orgulho de estar no PSOL, ao lado de uma pessoa como Heloísa Helena, que esteve no centro do poder político desse país e não se vendeu, não traiu sua classe”, disse. A deputada também elogiou o congresso do partido: “A Heloísa veio aqui bater chapa, em igualdade de direitos com qualquer outro militante. Esse é um comportamento que deve ser referência na esquerda e mostra que o PSOL não é um partido de caudilhos”, disse, alfinetando o PT.


 



Plínio e Babá unidos


 



A surpresa (para alguns) do congresso ficou por conta da posição assumida por Plínio de Arruda Sampaio. Ao integrar a mesma chapa de Babá e companhia _ ambos haviam apresentado teses distintas _ o grupo do ex-candidato ao governo de São Paulo jogou luz sobre a principal questão de fundo que norteou os debates: o PSOL deve privilegiar sua existência parlamentar e a participação nas eleições ou se jogar nos movimentos sindical e popular para “construir a revolução?”.


 


O próprio Plínio tratou de deixar claro que não acredita na formação de uma frente política a partir da atuação dos parlamentares e criticou indiretamente a autonomia desses em relação ao partido: “A quem pertence o mandato do deputado do PSOL? A ele ou ao partido?”, indagou.


 


Apesar das críticas, Plínio defendeu o congresso e a unidade do partido: “Tivemos êxito, pois, mesmo sem regimento interno e boa estrutura, nós não ‘embananamos’ o congresso e possibilitamos que o partido saísse daqui unido. Existem no PSOL diferenças de visão, diferenças de fundo, mas tenho certeza que conformaremos uma direção colegiada que consiga de fato debater as principais questões e fazer o partido avançar”, disse.


 


Seu principal companheiro de chapa, no entanto, não parecia tão otimista ao fim do congresso: “O PSOL tem divergências internas que foram manifestadas nesse congresso. O programa do partido permanece em debate e nós continuamos a afirmar que não se deve nem pensar em qualquer aliança com setores que estão lá com Lula”, disse Babá, referindo-se aos boatos que circularam durante o congresso dando conta de que o grupo parlamentar iria coordenar uma tentativa de aproximação com o PDT.


 


Babá reivindicou “as origens” do PSOL: “O partido foi criado para lutar pelo socialismo, e essa luta passa por derrotar o governo Lula e seu projeto neoliberal. Não devemos esquecer que a luta de classes é o nosso objetivo. O PSOL tem que atuar no fortalecimento das categorias em luta, para derrotar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a reforma trabalhista e o governo Lula”, disse.


 


“Apertos” de HH



Apesar da votação que a reconduziu à presidência do PSOL, Heloísa Helena viveu alguns momentos difíceis durante o congresso do partido, quando chegou a ser vaiada por parte dos militantes. O mais acentuado deles aconteceu durantes os debates em torno da legalização do aborto. A ex-senadora, fiel às suas convicções religiosas, defendeu posição contrária à legalização: “As mulheres trabalhadoras do Brasil não morrem porque fazem aborto, mas de diabetes, de câncer, de problemas de coração e outros”, disse, sob vaias do plenário.


 


Vários militantes de base, sobretudo os que atuam junto às minorias ou em comunidades carentes, criticaram a posição de Heloísa. Escalado para defender a legalização, o deputado estadual Marcelo Freixo (RJ), sob intensos aplausos, disse que “as mulheres morrem de aborto, sim” e lembrou que “as maiores vítimas são mulheres negras e faveladas”. Aberta a votação, os delegados aprovaram a legalização do aborto, deixando isolada a presidente do partido.


 


Também foram ouvidas entre os delegados críticas à Heloísa Helena por sua posição assumida frente à não renovação da concessão da rede de televisão RCTV na Venezuela. No dia da abertura do congresso, a ex-senadora criticou a decisão de Hugo Chávez e deu aos repórteres uma declaração que não caiu bem entre seus correligionários: “Respeito a soberania da Venezuela, mas não faria isso. Prefiro ter dois ou três minutos no Jornal Nacional (da TV Globo) para dizer o que penso”.


 


A declaração de Heloísa foi lembrada durante os três dias de congresso, e fez com que os membros da chapa vencedora se esforçassem para atenuar seus efeitos: “Apostamos no exemplo dado pelos trabalhadores da Venezuela, que apóiam um programa de reformas que está pavimentando o caminho que será trilhado pelo socialismo”, disse José Luiz Fevereiro. Luciana Genro também procurou esclarecer a posição do PSOL: “Não temos dúvidas sobre o valor do processo que está ocorrendo na Venezuela. Ele é uma motivação para o PSOL ganhar o povo, construir um partido de massas e fazer a revolução socialista”.


 


Fonte: Agência Carta Maior


 


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