Índios reforçam seu protagonismo no cenário brasileiro

Há 507 anos de história oficial o Brasil nascia para o mundo e com ele milhões de indígenas marcavam a vida de um território gigantesco a ser explorado. Hoje somos 225 etnias e 460 mil em números totais,

Números a parte, o Dia do Índio, lembrado neste 19 de abril desperta uma sociedade para a consciência dos povos indígenas. “O que tem que ser respeitado é o dia-a-dia do índio e não o ‘Dia do Índio’ que soa como algo anacrônico. São poucas as pessoas que dizem: ‘Parabéns para você’. É uma data mais para lembrar do que para comemorar”, dispara Fidelis Baniwa, ator e protagonista indígena no Amazonas, sobre a importância para a luta dos povos nativos.


 


Organizados em comunidades, movimentos sociais, filiações partidárias e entidades representativas os indígenas têm um objetivo comum: o direito de viver os seus costumes e sua cidadania. Mais do que números no senso geográfico, os indígenas querem educação, consciência política e valorização da sua identidade.


 


Em reflexão sobre o que representa a data, lideranças ressaltam a indiferença dos governos somada a própria atitude de vanguarda que os índios devem tomar. “Eu gostaria que os índios do Amazonas tivessem mais postura e competência para administrar. A auto-estima do índio é muito baixa para combater isso. Existe esse medo, esse afastamento”, conclui Fidelis.


 


Em Brasília, os índios se reuniram ontem (19/04) na frente dos ministérios para reivindicar questões como a saúde diferenciada. Eles também marcaram presença na realização da Feira dos Povos Indígenas, no Porto de Manaus.


 


 


Consciência política


 


O Amazonas apresenta a maior população indígena absoluta. Estima-se que tenham 84 mil índios no Estado. Na região Norte eles são a maioria, representando 60% da população indígena existente no País. Os números crescem, assim como os desafios.


 


Recentemente mais de 30 indígenas filiaram-se ao PCdoB, sinalizando um avanço das questões políticas. A mudança vem através da formação de uma consciência social. “Ao mesmo tempo em que o PCdoB está fazendo o caminho da transição para a massificação, nós do movimento indígena também fazemos o caminho da massificação. E o socialismo da esquerda”, esclarece Silvio Machado Tukano.


 


Na opinião de Silvio Tukano, atuante na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e professor de geografia, há um impasse a ser solucionado: a questão documental. “Você vai numa aldeia eles não tem título eleitoral, certidão de nascimento, identidade.”


 


A representatividade nas urnas ainda é pequena. Os índios isolados e os de pouco contato não votam, mas para a população que estabelece relação externa a participação no processo eleitoral ainda é restrita. “Há uma carência de política de cidadania. Dos 200 mil que nós temos no Amazonas, era para termos 100 mil eleitores. Se tiver indígenas aptos a votar são 50 mil, mas desses poucos votam porque moram em aldeias e as condições de transportes são difíceis. Ainda não estão politizados”, acrescenta Sílvio Tukano.


 


Silvio acredita que a condição imposta aos indígenas não é papel que eles desempenharam, mas fruto do processo de exploração, uma percepção que os índios estão começando a ter.


 


“Ele vê que pode mudar isso porque ele é minoritário e não minoria. Você chega em Santa Isabel do Rio Negro (AM) ou São Gabriel da Cachoeira (AM) 90% da população é indígena, tanto puro quanto miscigenado. Ele está vendo que é maioria, mas porque ele não tem o poder? Não controla os mecanismos de produção, porque ele vive numa camada social periférica, excluída, marginal. Ele é um ser marginal no interior do Estado: ele não é branco, não tem carro, nem comércio”.


 


O índio Tukano reforça o processo de cidadania dos povos tradicionais brasileiros e o ser protagonista para que as transformações aconteçam. “A nossa idéia não é ficar apenas em números, futuramente nos transformar em cidadãos, animal político de fato. Tem que começar por algum lugar. Cabe a nós fazermos a mudança”, finaliza.


 


 


De Manaus,
Cinthia Guimarães