Militares omitiram dados sobre morte de sargento no Araguaia
Livro secreto relata como Márcio Ibrahim da Silva tombou em combate com guerrilheiros, em 1972, Exército não passou informações à família
Publicado 18/04/2007 18:23
O Exército não escondeu somente informações sobre guerrilheiros e militantes de esquerda mortos pela repressão, na ditadura (1964-85). Também omitiu dados referentes à morte de seus próprios combatentes. Calcula-se que 16 militares tenham sido mortos apenas nos combates à Guerrilha do Araguaia, no Pará, entre 1972 e 1974. Os corpos foram entregues às famílias e houve pagamento de indenizações, mas não houve nenhuma explicação oficial. O livro secreto do Exército, porém, tem uma versão para a morte do sargento Mário Ibrahim da Silva.
O relato está na página 724: “No dia 27 (de setembro de 1972), os terroristas investiram contra uma base do 2º Batalhão de Infantaria da Selva, situada na localidade de Pavão. O comandante do grupo de combate que estabelecera a base, 2º sargento Mário Ibrahim da Silva, ao tentar chegar ao local da incursão, foi atingido por um disparo desferido por um dos terroristas. Contam seus companheiros que o sargento Mário, mesmo ferido e após haver descarregado sua arma, deu suas ordens ao grupo. O texto esclarece que, pouco antes de morrer, o sargento deu instruções a um de seus subordinados, identificado como sargento Bonifácio. Depois, prossegue, ele falou “de sua família, esposa, filhos e mãe e faleceu”.
O jornalista e escritor Eumano Silva, que em 2005 publicou o livro Operação Araguaia, baseado em documentos confidenciais das Forças Armadas e depoimentos de sobreviventes, afirma que “a viúva do sargento Mário Abrahim nunca teve uma versão oficial sobre a morte do marido”. A publicação, que ganhou o Prêmio Jabuti como melhor livro não-ficção do ano, tem um capítulo justamente intitulado “Mistério: como morreu o sargento Ibrahim?”. A viúva, segundo Eumano, vive hoje na periferia de Manaus. Ela contou ao escritor que nunca soube como o marido morreu. “Ela diz que ouviu muitos boatos. Um deles dizia que o Ibrahim havia sido morto por engano por outro militar”, afirma.
Segundo Eumano, o governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) optou por esconder a Guerrilha do Araguaia. “Essa posição dos militares continua valendo até hoje. Trata-se da posição formal do Exército”, explica. De acordo com o jornalista, muitas pessoas que participaram da repressão no Araguaia ainda estão vivas e, se quisessem, poderiam ajudar a esclarecer o episódio. “O governo Lula não soube, ou não quis, avançar nas investigações sobre a ditadura. O presidente deixa a impressão de que prefere não mexer com o passado”, diz ele. (LF)
Página 724 do livro: “No dia 27 (de setembro de 72), os terroristas investiram contra uma base do 2º Batalhão de Infantaria da Selva, situada na localidade de Pavão. O comandante do grupo de combate que estabelecera a base, 2º sargento Mário Ibrahim da Silva, ao tentar chegar ao local da incursão, foi atingido por um disparo desferido por um dos terroristas”.
Fonte: O Estado de Minas