Abril Indígena faz acampamento e fecha rodovia 

Na semana em que se comemora o Dia Nacional do Índio, dia 19 de abril, povos indígenas fecham rodovias, realizam acampamentos, manifestações, fóruns e audiências com autoridades nacionais e locais com o objetivo de fortalecer a mobilização em torno da dem

Mobilizações


 


Na divisa entre os estados do Maranhão e do Tocantins mais de 500 indígenas bloquearam a rodovia Belém-Brasília, nas proximidades da cidade de Estreito, na divisa entre os Estados do Maranhão e do Tocantins. Os índios protestam contra a construção da Hidrelétrica de Estreito e outros empreendimentos que afetem terras indígenas na região. Eles fizeram um ato, no início da manhã desta segunda-feira (16), em frente às obras da Usina Hidrelétrica de Estreito, a 3 km da BR-153. Participam da manifestação representantes de todos os povos do Tocantins (Apinajé, Javaé, Krahô, Karajá) e diversos do Maranhão (Gavião e Krikati).


 


No Pará, As principais questões que afligem as populações indígenas serão colocadas em pauta na Semana dos Povos Indígenas, evento promovido pelo governo do Estado que pretende, ao final dos debates, elaborar uma política mais consistente e efetiva em defesa das tribos paraenses. As discussões começaram nesta segunda-feira (16) com o Fórum das Questões Indígenas, um debate de dois dias em que as lideranças discutirão, com os integrantes das aldeias, suas principais reivindicações.


 


Um dos principais pontos a serem debatidos é a criação do Fórum Indígena Estadual, que reuniria todas as associações e entidades que trabalham na defesa das populações indígenas. No debate desta segunda-feira, no Parque dos Igarapés, os principais pontos levantados são melhorias na área da saúde, educação e infra-estrutura. O Fórum reúne cerca de 200 índios de 36 etnias presentes no evento. Em Manaus (AM), na primeira semana de abril, uma assembléia reuniu 21 povos que vivem hoje na cidade.


 


Em Porto Alegre (RS) mil indígenas de etnia Guarani que vivem no Brasil, Paraguai e Argentina se reuniram de 11 a 14 deste mês. Foi o 2º Encontro Internacional Sepé Tiaraju, que contou também com a participação de movimentos de trabalhadores do campo e quilombolas.


 


No Nordeste, está previsto um encontro entre 30 povos dos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia. Eles debaterão questões como direitos indígenas e práticas rituais. Na aldeia Caramuru, no sul da Bahia, os índios lembrarão 10 anos da morte de Galdino Pataxó Hã Hã Hãe, queimado por jovens em Brasília.



 


Em Brasília, 800 índios estão no acampamento Terra Livre na Esplanada dos Ministérios. No Dia Nacional do Índio, dia 19, está prevista uma audiência pública na Câmara dos Deputados.



 


Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), atividades com estudantes em Cuiabá (MT), assembléia indígenas e audiências em Minas Gerais e Espírito Santo também marcarão o Abril Indígena, além de mobilizações em Rondônia, Campo Grande (MS) e Maranhão.


 


Encontro nacional em BSB


 


Líderes indígenas vão entregar a autoridades em Brasília, durante o acampamento Terra Livre um documento com reivindicações dos grupos do Vale do Javari, no Amazonas, sobre a saúde na região. Segundo o coordenador geral do Conselho Indígena do Vale do Javari, Clóvis Rufino Reis, da etnia Marubo, serão realizadas audiências nos Ministérios da Saúde e da Educação, além da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) e outros órgãos envolvidos com a saúde indígena.



 


Ele conta que um dos principais problemas é a falta de fiscalização do território, o que aumenta o número de invasores, como garimpeiros e madeireiros ilegais, que levam doenças aos índios como hepatite e malária. Segundo Reis, há poucos funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Funai para fazer a fiscalização do território, que tem 8,5 milhões de hectares e uma população de mais de 4 mil indígenas. A Terra Indígena Vale do Javari fica no extremo ocidente do Amazonas.


 


Reis argumenta que até o tratamento para a malária está causando conseqüências para os índios, como anemia nas crianças e problemas hepáticos, gastrite e úlcera nos adultos. “Estamos com medo que essa situação da entrada de garimpeiros, de madeireiros ilegais que estão trabalhando nas áreas indígenas leve esse tipo de doença que possa contaminar essas populações isoladas”, afirma o coordenador.


 


80% estão doentes


 


O coordenador geral do Conselho Indígena do Vale do Javari no Amazonas, Clóvis Rufino Reis, da etnia Marubo, afirma que 80% da população indígena está doente e alerta que, se não houver uma solução, alguns desses povos podem ser extintos em poucas décadas.


 


Um documento que será entregue às autoridades em Brasília, registra que 56% dos pesquisados são portadores do vírus da Hepatite B, segundo inquérito sorológico realizado em dezembro de 2006 pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em parceria com o Hospital de Medicina Tropical do Amazonas. Foram pesquisados 309 indígenas do Vale do Javari (quase 10% da população da área). Além disso, 85,1% dos pesquisados já tiveram contato com o vírus de hepatite . Os exames detectaram ainda quatro casos de hepatite C, doença decorrente de vírus anteriormente não registrado na região do Javari.


 


Segundo o líder indígena Davi Yanomami, a Funasa não tem equipamentos nem profissionais suficientes para atender à população indígena. Ele também reclama da falta de remédios, que são adquiridos em Brasília e demoram a chegar nas tribos. O líder acredita que o problema é político e a solução depende de ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele é o chefe”, argumenta o Yanomami.


 


Educação e investimentos


 


A falta de infra-estrutura para a educação é outra preocupação dos líderes indígenas. Na avaliação de Reis, faltam escolas, transporte, merenda e capacitação dos professores. Ele conta que muitas vezes os índios estudam no chão e pede providências das autoridades. “Se nem o estado nem o município querem se responsabilizar por isso, nós queremos que a educação no Vale do Javari seja federalizada”, reclama. Ele diz também que a falta de programas governamentais no Javari está causando a migração de jovens índios para os centros urbanos.



 


Os índios também reivindicam que os recursos orçamentários e financeiros destinados à região sejam administrados pelo Distrito Sanitário do Vale do Javari no Amazonas que, segundo eles, não tem autonomia de gestão.


 


Em entrevista à Radiobrás no último dia 5, o novo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Augusto de Meira, disse que o governo vai instituir, até o dia 19, a Comissão Nacional de Política Indigenista. O grupo vai reunir representantes do governo, dos povos indígenas e de entidades de apoio ao índio para discutir políticas públicas para as populações.