Ensino Superior e Mercado, por Ana Maria Lima
Ensino Superior e Mercado
Por esses dias, indo à reitoria, como de costume, adentrei aos corredores do bloco sede, passei pela recepção e subi as escadas, observando a arquitetura clássica europé
Publicado 02/04/2007 12:54 | Editado 04/03/2020 17:14
Estando na sala de espera, chamou-me a atenção, na mesinha de centro, as revistas ali disponíveis para leitura. Haviam cerca de 20 revistas, todas voltadas para o público investidor financeiro, cujos conteúdos versavam sobre temas relacionados ao mercado, oportunidades, investimentos, estratégias e lucros. Opa, lá no cantinho, encontrei uma revista do curso de arquitetura, que por uma ótima iniciativa, lançou essa publicação com artigos científicos do curso. Nada mais relacionado à educação, cultura e ciência, temas comuns e imprescindíveis ao mundo acadêmico.
Creio ser fundamental a preocupação com a sustentabilidade da universidade e com um sistema cada vez mais rígido contra o desperdício, inclusive dos gastos da reitoria. Mas pautar a universidade pelas cartilhas do mercado financeiro é um erro.
Os critérios de preferência das pessoas, ai incluídos seus dirigentes, quando pensam a Unisul como Universidade, deveriam ser os relacionados com a qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão de serviços. E estes deveriam pautar a vida na instituição, incluindo as revistas disponibilizadas ao público e, até mesmo, o marketing da Unisul.
A Gerência de Ensino Pesquisa e Extensão conta com profissionais competentes e preocupados com o avanço da qualidade acadêmica, porém tudo fica dependente do sistema financeiro e deste só tem vindo redução nas verbas para projetos de pesquisa e extensão. E para piorar a situação, as despesas com os projetos de extensão são descontadas dos centros de custo de cada curso. Levando em consideração, ainda, que houve um significante corte de recursos no âmbito das coordenações, como os coordenadores estimularão a produção em pesquisa e extensão? Por certo usarão os poucos recursos para outros fins.
Outro problema causou polêmica entre os estudantes: as mudanças no processo de renegociação e matrícula irregular. A estipulação de data final para encerramento das matrículas e das renegociações é importante, mas a carência de uma divulgação mais eficaz simplesmente resultou na exclusão de vários estudantes. Nesta confusão, a Universidade acabou concordando com as solicitações do DCE e prorrogou os prazos. Mas, ainda assim, estudantes com matricula irregular foram retirados das salas de aula que freqüentavam deste o início do semestre, inclusive com provas e trabalhos já concluídos.
Por vários motivos as matrículas não foram concluídas. Alguns alunos esqueceram, não tinham dinheiro, moram longe de Tubarão e trabalham durante o dia, tendo apenas o horário de aula para estar na Universidade, o que resultou em falta de tempo. Porém, inúmeros outros casos resultaram de falha no sistema on line, no envio dos boletos ou problemas na comunicação. Por trás de tudo isto, também é perceptível o desinteresse da Universidade em manter alunos com histórico de renegociações e dificuldade para pagar.
De fato, quando a Universidade prioriza revistas de mercado, acaba colocando em primeiro plano suas estratégias, em detrimento dos seus pilares: ensino, pesquisa e extensão. Mas ainda, ignorando sua função social e a permanência dos estudantes em sala de aula.
Ana Maria Lima é militante da União da Juventude Socialista e presidenta do DCE da Universidade do Sul de Santa Catarina