Disputa pela Prefeitura de São Paulo mexe no cenário nacional
A disputa pela Prefeitura de São Paulo, a maior do país, mexe na correlação de forças dos partidos para a eleição presidencial de 2010. A polarização entre PT e PSDB pode não se repetir se o quadro eleitoral continuar no atual ritmo de articulações ent
Publicado 02/04/2007 14:03 | Editado 04/03/2020 17:19
A maior alteração pode se dar na divisão dos partidos conservadores, PSDB e DEM (ex-PFL), com o lançamento de dois candidatos potenciais: o atual prefeito Gilberto Kassab (DEM) e do ex-governador e candidato derrotado para presidente da República, Geraldo Alckmin (PSDB).
Kassab está em baixa nas recentes avaliações sobre o desempenho de sua gestão. Pelo Datafolha, 42% consideram a administração ruim ou péssima; 36% regular e 15% boa ou ótima, 7% não sabem ou não quiseram responder. Este índice equivale ao mesmo no período do governo Pitta, do qual Kassab foi secretário. A média do atual prefeito é de 3,9 (de um total de 10). Mesmo assim, os democratas demonstram segurança política para se garantir na disputa de 2008. No último encontro nacional dos DEM, ocorrido na última semana de março em Brasília, o partido foi taxativo ao dizer que terá candidatura própria à Prefeitura da Capital.
Em contrapartida, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, voltou para São Paulo interrompendo sua estada nos EUA para se recolocar na cena política nacional. Participou de um seminário para mulheres empreendedoras, reunião da bancada federal em Brasília e se disse disposto a “contribuir com o PSDB nas eleições de 2008”. O atual presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso indicaram o nome de Alckmin para a disputa em São Paulo. Este movimento é uma clara demonstração de insatisfação de parte da direção tucana com os movimentos realizados pelo governador José Serra, que tem comandado pessoalmente as indicações e as ações políticas na administração municipal.
O jogo do PSDB paulista é complexo, envolve grupos políticos e personagens de peso no partido. As ações trabalhadas por Serra visam fortalece-lo para a disputa nacional que travará internamente contra seu colega, o governador Aécio Neves (PSDB/MG), e externamente contra a atual gestão de Lula. Para Serra, vencer a eleição paulistana com um possível aliado nacional, o DEM, soma mais para o seu projeto nacional, que oferecer apoio a um adversário interno, Alckmin, aliado de Aécio na escolha presidencial de 2010.
No PT, a disputa depende da resposta de Marta Suplicy, indicada por Lula para o Ministério do Turismo. Marta tem forte apoio popular e tem chances reais de vitória. Por outro lado, existe a expectativa da disputa eleitoral para a Presidência da República, em que o seu nome pode ser uma alternativa dos petistas. Sem a presença da ex-prefeita, o PT deve abrir uma disputa interna. Os nomes que estão no páreo até o momento são dos deputados federais José Eduardo Martins Cardoso e Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara e do deputado estadual Rui Falcão, do próprio grupo de Marta.
O PT se movimenta para obter apoio político de outras forças, em especial o PMDB de Michel Temer e o PP de Paulo Maluf. Em conversas recentes, o deputado petista Cândido Vacarezza foi flagrado, com Maluf, articulando sobre a futura composição para a disputa municipal. As ações políticas e ideológicas ao centro fazem parte da opção dos petistas desde a composição da nova base aliada do governo federal e da disputa da Câmara dos Deputados. O deputado Chinaglia foi eleito presidente da Câmara com o apoio da maioria dos partidos conservadores e as principais lideranças petistas têm sinalizado um deslocamento de aliança preferencial para o PMDB em detrimento aos partidos de esquerda.
Em outros partidos, a movimentação política está em compasso de espera, principalmente pela situação pouco clara do atual quadro de disputa. No PMDB, a possibilidade de candidatura própria não está colocada, o debate sobre o assunto ainda não foi avaliado pela direção estadual e a reestruturação do governo federal fortaleceu o grupo de Michel Temer. Falta a definição do presidente estadual do partido, Orestes Quércia, que ainda não se posicionou sobre a disputa em São Paulo. Quércia saiu enfraquecido da última eleição para o governo paulista.
No PP, após uma reviravolta na direção estadual do partido, em que foi destituído o deputado federal Celso Russomano para o retorno de seu desafeto político, o ex-governador e atual deputado federal Paulo Maluf, a situação do partido segue indefinida sobre candidatura própria. Existe a possibilidade de apoiar o PT, inclusive com a indicação do vice na chapa de Marta, ou de sair com candidatura própria em linha de apoio a uma candidatura petista. A hipótese de fazer oposição a Lula neste momento não tem força entre os pepistas.
O PCdoB, aliado do PT nas últimas eleições, decidiu em sua direção estadual apresentar candidaturas próprias nos principais municípios do Estado. Em São Paulo, a proposta dos comunistas é buscar viabilizar o nome do deputado e ex-presidente da Câmara Federal, Aldo Rebelo, como alternativa de aliança com outros partidos de esquerda. O PCdoB, PSB, PDT e outros partidos, criaram o Bloco de Esquerda no Congresso Nacional, com vistas à atuação parlamentar. Esta articulação política pode colocar o nome de Aldo na disputa de São Paulo. Além dos pedetistas e socialistas, os comunistas devem procurar ainda o PRB, PMN e outros partidos menores para tentar uma coalizão de esquerda.
O PDT sinalizou para uma aliança com os comunistas, mas também deve apresentar nomes para a disputa municipal. O principal candidato dos trabalhistas é o deputado federal e sindicalista Paulinho da Força. O PSB também tem quadros políticos com chances de entrar no páreo de 2008, o nome mais lembrado entre os socialistas é a deputada federal e ex-prefeita Luíza Erundina.
O PTB, PR e o PPS estão sintonizados no Estado, com José Serra, mas a possibilidade de apoiar qualquer nome que o governador indicar não está fechada. Os dois partidos devem aguardar o desdobramento da disputa entre Alckmin e Kassab. Ainda há a possibilidade de lançamento de candidaturas próprias dos dois partidos. Especulou-se a filiação da vereadora Soninha (PT) ao PPS para a disputa majoritária, o que não se confirmou pela própria parlamentar (veja entrevista no Vermelho-SP, de 30/03). O PR é o partido mais próximo de Kassab na Câmara dos Vereadores. O PTB apoiou Marta na última eleição e não está completamente descartada uma nova aliança com a ex-prefeita.
Há exatos, um ano e meio da eleição de São Paulo, os agentes políticos estão em intensas movimentações. Sem definições precipitadas, os partidos buscam arregimentar forças para se posicionarem melhor na disputa da maior cidade do Brasil. O resultado da disputa local influencia, como em nenhuma outra cidade, as acomodações das forças no país.
Rodrigo de Carvalho, pelço Vermelho-SP