Lula e Bush: Rodada Doha e Haiti na pauta
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush devem discutir neste sábado (31) a retomada das negociações da Rodada Doha, de liberalização comercial, e propostas de redução de tarifas para o etanol brasileiro vendido aos Estados Unidos. A info
Publicado 31/03/2007 15:57
''O tema das tarifas deve ser levantado, ainda que o presidente Bush já tenha dito que elas seguirão em vigor até 2009. Mas os dois líderes deverão falar sobre o assunto'', disse Dan Fisk.
Atualmente, o álcool brasileiro paga sobretaxa de US$ 0,54 por galão (R$ 0,30 por litro) para entrar no mercado americano.
Pauta
Lula chegou nesta sexta-feira (30) à noite a Washington e foi direto para Blair House, a casa de hóspedes presidencial americana.
Em entrevista na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que a proximidade entre Brasil, Venezuela e Cuba não deveria gerar atritos com os Estados Unidos. Segundo Amorim, os Estados Unidos valorizam a independência do Brasil em questões internacionais.
O Haiti, país onde atua uma missão de paz da ONU sob o comando do Brasil, também deve constar da pauta. O Haiti é uma das quatro nações centro-americanas a sediar o projeto pioneiro brasileiro-americano de produção de etanol.
Além destes tópicos, Bush e Lula deverão ainda tratar do recém-assinado acordo de trocas de informações tributárias entre Brasil e Estados Unidos.
O presidente brasileiro será o primeiro líder latino-americano a ser recebido por George W. Bush em Camp David, e o primeiro líder latino-americano a participar de uma reunião de trabalho no retiro dos presidentes americanos desde 1991. O último foi o mexicano Carlos Salinas de Gortari.
Lula ataca barreiras a etanol em artigo do ''Post''
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou um recado claro para o presidente George W. Bush em artigo publicado ontem (31) no jornal Washington Post: vamos cooperar, mas continuamos esperando a eliminação da tarifa sobre o etanol e a redução dos subsídios agrícolas.
No texto, o presidente afirma que o etanol e o biodiesel só vão se transformar em commodities comercializadas mundialmente se o comércio de biocombustíveis não for obstruído pelo protecionismo. E aponta para o calcanhar-de-aquiles da política americana de proteção ao etanol de milho: “Os subsídios do programa de etanol de milho dos EUA levaram a uma alta de 80% nos preços dos cereais americanos. Isso prejudica os produtores de carne e soja e ameaça a segurança alimentar global.”
No artigo, Lula diz também que a expansão dos biocombustíveis só trará prosperidade em nações pobres se for acompanhado de redução de subsídios agrícolas dos países ricos – a grande batalha brasileira em Doha. “Um aumento significativo no valor dos produtos agrícolas e nos lucros com o comércio poderia ser alcançado se os produtores de biomassa de países em desenvolvimento não enfrentassem concorrência desleal de agricultores subsidiados dos países ricos.”
Lula usa o artigo para responder aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro, que argumentam que o etanol espalhará fome, por reduzir a produção de alimentos. “A cana não ameaça a produção de alimentos – menos de 20% dos 340 milhões de hectares de áreas aráveis do Brasil são usados para agricultura. Apenas 1% é usado para cana-de-açúcar.” De quebra, rebate as teses de que a expansão do etanol seria uma ameaça à Amazônia. “Etanol não é uma ameaça direta à floresta amazônica, porque o solo da Amazônia não é adequado à plantação de cana-de-açúcar.”