Debate: alemão não gosta de creche?
Para encorajar uma natalidade que é das mais baixas da Europa (8,2 nascimentos por mil habitantes), o gocerno de Berlim planejou triplicar o número de vagas nas creches daqui para 2013, levando-as para 750 mil. Ocorre que confiar a educação de uma criança
Publicado 19/03/2007 18:26
Apenas 12% dos alemães com menos de três anos se beneficiam de uma vaga numa creche, contra 35% na França. Certos estados, como a Baviera e a Baixa Saxônia, são quase totalmente desprovidas de um sistema de creches. Por fim, segundo uma pesquisa publicada em fevereiro pelo semanário Der Spiegel, 31% dos alemães chegam a pensar que a creche é prejudicial à criança.
Neste contexto, a proposta da ministra da Família, Ursula Van der Leyen, adquiriu uma conotação quase progressista.
As críticas mais virulentas vieram do próprio partido da ministra, o CDU (União Cristã-Democrata). Para elas, o desenvolvimento das creches estimularia as mulheres a trabalhar fora e poria fim à imagem idílica da dona de casa, tão cara à direita tradicional.
O debate logo se transformou em verdadeira batalha ideológica, com a intervenção do bispo católico de Augsburg (na Baviera), Walter Mixa. O prelado declarou no início do mês que deixar as crianças cresceram fora da célula familiar reduziria as mulheres ao papel de “máquinas de procriar”.
Nesta semana a proposta foi apresentada numa comissão do governo e a maioria do CDP finalmente se alinhou com sua ministra. A necessidade de desenvolver o uso das creches na Alemanha foi reconhecida. Mas a questão do financiamento da medida ainda foi cuidadosamente evitada. Ela deverá ser abordada no início de abril, numa “conferência sobre as creches”, com representantes da Federação, dos estados e das comunas.
Gregor Gysi, líder da bancada parlamentar do Linkspartei (Partido da Esquerda), congratulou-se com um tímido retorno a um sistema que existia na Alemanha Oriental. Enquanto isso, o CDU vive uma crise interna. A polêmica se dá entre uma franja “esclarecida” da legenda e uma ala “ultraconservadora”, sustentada por uma parte da hierarquia da Igreja. Será ela capaz de desempoeirar os valores da União Cristã-Democrata? Eis uma boa pergunta.
Fonte: L'Humanité (http://www.humanite.fr)