IBGE: abismo entre os Brasis do Norte e do Sul diminui
Os estados mais pobres e atrasados do Brasil pararam de se atrasar e passaram a aumentar a suas fatias na renda brasileira. Já os mais ricos estão reduzindo as suas. É o que mostram os números das Contas regionais do Brasil 2004 — levantamento d
Publicado 17/11/2006 21:45
O mapa e a tabela abaixo ilustram esta tendência, que em parte já se prenunciava mas se configurou com nitidez no governo Lula. O mapa indica a variação da renda per capita de cada estado, em relação à média nacional, durante os dois primeiros anos do governo Lula (a pesquisa do IBGE só abrange até 2004, mas é sabido aue a tendência se manteve em 2005 e 2006). Os números no mapa indicam a mesma relação (renda per capita de cada estado sobre renda nacional) em 2004.
A tabela apresenta esta mesma mesma relação em cinco anos escolhidos: 1985 (início do governo Sarney e ano da primeira edição das Contas Regionais), 1994 (último ano de Itamar), 2002 (último ano de FHC) e 2004. A coluna da direita (fundo cinza) mostra a percentagem de cada estado no PIB (Produto Interno Bruto) do país, em 2004.
Duas constantes: MT sobe e SP cai
Alguns processos permanecem constantes nas duas décadas em que o IBGE vem publicando as Contas Regionais. O mais notável é a escalada do Mato Grosso, movida a soja e outras lavouras. Em 1985, os matogrossenses tinham menos da metade (44,7%) da renda per capita média do Brasil. Vinte anos depois, ultrapassaram esta média (estão em 104,4%).
Outro fenômeno constante e significativo foi a redução supremacia de São Paulo sobre o Brasil como um todo. Em 1985 a renda per capita dos paulistas era 169% da média nacional, a maior de todas as unidades da Federação. Em 2004 ela ainda sobressaía, porém com maior discreção (141,1%). Poi ultrapassada pelo Distrito Federal desde 1990 e pelo Rio de Janeiro em 2002, figurando em terceiro lugar em 2004.
As viradas no Nordeste e no Norte
Há porém outros fenômenos que sofreram inversões durante os dois primeiros anos de governo Lula. E eles indicam que, dentro do crescimento econômico medíocre de 2003-2004 (que não difere muito do resto das “décadas perdidas” iniciadas em 1980), houve uma melhor distribuição geográfica da renda. Isto, ao lado de uma melhora também inicial na distribuição social da renda (entre as diferentes classes e camadas dentro de cada estado), ajuda a explicar inclusive o resultado eleitoral do mês passado e sua distribuição pelo país.
A virada aconteceu concretamente nas duas regiões mais pobres e atrasadas: o Nordeste e o Norte.
A renda per capita nordestina cresceu abaixo da média nacional (98,9%) nos 18 anos entre 1985 e 2002 — um retardamento numericamente pequeno, mas grave para uma população que tem a metade da renda média nacional. Entre 2002 e 2004, porém, a tendência se inverteu e o Nordeste cresceu mais que a média: 104,6%. O fenômeno ocorreu em todos os estados da região exceto a Paraíba. E foi mais radical no Maranhão (72,6% da média nos 18 anos pré-Lula e 110,6% em 2003-2004) e na Bahia (90,9% e 107,7%).
O mesmo aconteceu com o Norte, e em proporção até maior. Nos de 1985 a 2002, a renda per capita nortista perdeu terreno, ficando atrás da média nacional (94,1%). Em 2003-2004, deu a volta e ficou acima (103,2%). Aí o fenômeno foi puxado pelo Amazonas (não por acaso a melhor votação de Lula), due passou de 94,5% para 107,7%.
Disparidades ainda são brutais
Mesmo que os dados mostrados pelo IBGE alimentem esperanças, eles mostram também que disparidades ainda são brutais. Indicam que a renda per capita de um maranhense, a menor do país, ainda é a metade da de um rio-grandense do norte, um quarto da nacional (25,5% mais exatamente), um sexto da de um carioca e pouco mais de um oitavo da de um brasiliense.
Em números absolutos, sempre com base nos números de 2004, o PIB de São Paulo sozinho supera o de todo o Nordeste, mais o Norte, mais o Centro-Oeste. São paulo entra com 30,9% do PIB nacional; as vinte unidades das três regiões citadas somam 26,9% do PIB.
Esperança de um país mais justo
O ritmo da reversão, a julgar pelos números das Contas regionais, é inicial e tímido. Mas caso se mantenha e se acelere pode resultar em um país mais equilibrado, mais harmonioso e mais justo.
Os números disponíveis sobre 2005 e 2006, embora ainda não consolidados nas Contas Regionais do IBGE, parecem tender nesta direção. Ela explica uma boa parte dos 58 milhões de votos em Lula, em especial nordestinos e nortistas.
O resultado do Nordeste em especial já foi descrito como uma pequena revolução pelo voto, de sentido pró-Lula e anti-oligarquias locais. O Nordeste não é uma região condenada à pobreza e ao atraso por nenhuma força divina, diabólica ou natural. Concretamente, foi a parte mais rica e avançada do Brasil durante uma boa metade dos nossos 500 anos de história. Quem sabe os números que o IBGE apresenta são os primeiros passos de uma volta por cima.
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