Morreu Zorilda dos Santos, lutadora do povo

Por Olívia Rangel*
São Paulo e o Brasil perderam neste sábado (11) uma das maiores lideranças do movimento popular e de moradia. Zorilda Maria dos Santos faleceu, vencida pelo câncer, após longo período de internações e retornos.

Zorilda, baiana de Alagoinhas, veio para São Paulo muito jovem, em busca de sobrevivência. Começou a trabalhar como camelô no Brás, onde foi acolhida pela amiga Júlia, comadre de um dirigente sindical pernambucano do ABC conhecido como Lula.  Cativado pelo humor e pela enorme capacidade de liderança da baiana, Lula tornou-se amigo pessoal de Zorilda. Já presidente, continuou manifestando seu apreço por aquela mulher que nunca perdia a coragem e enfrentava as adversidades com alegria e entusiasmo.



Decidida a conhecer mais do mundo, Zorilda começou a freqüentar alfabetização de adultos nos idos da década de 1980. Lá conheceu a alfabetizadora Ana Martins, mais tarde vereadora e depois deputada pelo PCdoB. Zorilda ingressou no Partido em 1986 e potencializou sua liderança comunitária. Embora não tenha concluído o curso, tinha grande capacidade de compreensão política e rapidamente assimilou as idéias do socialismo



Ana Martins relata que, na época, Zorilda estava separado marido Quando ela ingressou no Partido, os dois estavam reatando o casamento. Ele quis lhe dar um ultimato: “Ou eu ou o partido”. Ao que ela respondeu: “Agora estou casada com meu Partido. Tenho meu compromisso com o Partido, minha luta. Se você me quiser, de agora em diante que ser assim”. De início arredio, Doca aos poucos foi vencendo a resistência. Acabou se incorporando à luta e ingressou também no PCdoB
Moradora da zona leste da capital paulista, foi durante três gestões presidente e depois tesoureira da Sociedade Amigos de Ponte Rasa, uma entidade que é um paradigma de incontáveis lutas do povo pobre das sofridas periferias brasileiras.


Incansável lutadora em defesa da moradia popular liderou dezenas de ocupações e mutirões. Foi secretária geral e tesoureira da Facesp – Federação das Associações de Moradores do Estado de São Paulo e da Conam  – Confederação Nacional das Associações de Moradores. Foi presidente do diretório distrital do PCdoB em São Miguel e região.



Dona de um sorriso largo, Zorilda contagiava a todos com seu humor despachado. Era também uma incomparável agitadora. Durante sua campanha à reeleição como prefeita de São Paulo, Marta Suplicy por mais de uma vez se valeu da oratória certeira de sua apoiadora, quando se tratava de falar com o povo trabalhador.



Há dois anos, enfrentando problemas de saúde, foi aconselhada a submeter-se a uma cirurgia bariátrica. Seu organismo não reagiu bem à intervenção. Zorilda enfrentou várias internações. De início, os médicos atribuíam sua fraqueza à cirurgia. Levada ao Hospital das Clínicas, descobriu que tinha câncer. Começou o tratamento e conseguiu inclusive voltar para casa. Homenageada por toda a comunidade, num evento na Sociedade Amigos de Ponte Rasa, agradeceu a todos e afirmou: “Vocês me conhecem. E não vou me entregar a este câncer. Não me entreguei e não vou me entregar”.



Esta foi sua ultima luta. Seu corpo debilitado não resistiu à enfermidade. Zorilda faleceu aos 50 anos, deixando um legado de coragem e confiança no futuro. Seu corpo foi velado na Sociedade Amigos de Ponte Rasa. Foi enterrada no Cemitério da Saudade, em São Miguel. Centenas de pessoas compareceram para prestar sua homenagem àquela baiana alegre e destemida.



*De São Paulo