Palestinos resgatam memória de Arafat como exemplo de unidade
Cerca de 30 mil pessoas participaram hoje da cerimônia realizada na sede governamental de Ramala, a Muqata, para comemorar o segundo aniversário de morte do pai do nacionalismo palestino, Yasser Arafat.
Publicado 11/11/2006 20:14
Milhares de palestinos viajaram de ônibus, saindo de diferentes pontos da Cisjordânia para Ramala – capital administrativa do território – para lembrar o líder palestino, considerado por muitos “um pai” e o único capaz de “manter o povo unido”.
“Arafat era como um pai para nós, um verdadeiro líder. O que o diferencia dos políticos atuais é que ele entendia o povo”, disse Mohammed Hamad, estudante universitário que veio de Jenin para prestar homenagem ao ex-líder.
Vários membros da juventude do Fatah, famílias inteiras e centenas de convidados, entre eles representantes das diferentes facções, diplomatas ocidentais e deputados árabes de Israel, quiseram prestar homenagem a Arafat, cujo túmulo ao ar livre se transformou em lugar de peregrinação e culto.
Uma grande fotografia de Arafat está em um edifício de concreto em construção, que fará parte de um santuário-museu da vida do histórico líder palestino, e que se transformará em seu mausoléu até o momento em que seus restos forem transfidos a Jerusalém, como era seu desejo.
O recinto de vidro que abrigava seu túmulo no ano passado abriu espaço para uma simples lápide coberta com muitas coroas de flores este ano, que indica o lugar onde foi enterrado o então presidente palestino, há dois anos.
Seu sucessor, Mahmoud Abbas, disse em discurso à multidão de pessoas que se concentraram na Muqata que o novo Governo de união nacional estará constituído “por volta do fim do mês” e garantirá a suspensão do boicote internacional.
“Há avanços consideráveis entre o Fatah e o Hamas, avanços que ajudarão a resolver a crise política e econômica e a suspender o embargo internacional”, afirmou Abbas.
“Com a ajuda de Deus, veremos a luz no final do mês”, acrescentou.
Abbas foi o principal orador do ato que, diferente da comemoração do ano passado, recebeu 30 mil pessoas, segundo os órgãos de segurança palestinos, mesmo com o ferrenho bloqueio imposto por Israel aos territórios palestinos após as últimas ameaças de atentados.
“Há pessoas que tiveram que tentar até quatro ou cinco postos de controle para chegar a Ramala vindos de Tulkarem ou Nablus”, disse um membro da Guarda Presidencial.
No entanto, a grande convocação de hoje em Ramala é considerada por analistas políticos uma demonstração de força do Fatah frente aos islamitas do Hamas, e uma chamada à união nacional.
Nesse sentido, Abbas ressaltou que “temos que velar pelo interesse nacional e ser responsáveis, nos guiar pelo interesse de nosso povo e não pelos interesses particulares, internacionais ou religiosos”, estes últimos em aparente referência ao Hamas.
E retomou o legado deixado por Arafat ao afirmar: “Seguimos sua estrada e o faremos no futuro, seu caminho é nosso caminho”.
Na abertura de seu discurso, lembrou as vítimas civis do bombardeio israelense em Beit Hanoun, na quarta-feira, sobre quem disse que são “mártires” da “persistente agressão dos israelenses contra o povo palestino”.
Abbas também apelou à União Européia (UE) e ao mundo árabe que pressionem Israel para que o Estado judeu retome as negociações políticas.
Pouco antes, o sobrinho de Arafat, Nasser al-Kidwa, arrancou intensos aplausos dos presentes ao proclamar: “Arafat, como sentimos falta de você, sentimos pela situação que vivemos e continuaremos sentindo sua falta, pois a situação piorará”.
Enquanto isso, a população palestina continua se perguntando quais foram as causas que levaram à morte repentina do líder palestino em um hospital de Paris em 11 de novembro de 2004, uma incógnita que Abbas pediu que fosse esclarecida.
“De Ramala a Paris, quem envenenou Arafat?”, gritaram hoje vários palestinos.
“No dia em que Arafat morreu, nosso destino acabou”, disse categoricamente Halima Omar, de 65 anos, lembrando o carismático líder, que, segundo ele, o ajudou a consertar a dentadura. “Ele cuidava de tudo, ajudava todo mundo”, disse.
Fonte: EFE