Serra cogita criar novo partido com oposicionistas do PMDB
O governador eleito de São Paulo, José Serra, cogita liderar a criação de um novo partido de centro. Em conversas reservadas, ele avalia que há um “vácuo político” no país depois do acirramento das divisões internas do PSDB e dos episódios e campa
Publicado 06/11/2006 18:46
Serra diz ter contatos em todos os partidos, em todos os Estados. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, ele já começou a mapear informalmente deputados, senadores e líderes regionais que possam integrar a nova legenda. O principal foco seria de lideranças do PMDB que fazem oposição ao governo Lula. É uma alternativa para um rearranjo partidário que imagina que terá início a partir das eleições de 2006 e como saída para o caso de a disputa interna no PSDB pela candidatura a presidente em 2010 chegar a um nível de racha extremo. Serra tem um desejo obsessivo de ser candidato a presidente e acha que pode não ter forças para emplacar seu nome como “candidato natural” da legenda, pois o governador de Minas, Aécio Neves, e o próprio ex-governador paulista, Geraldo Alckmin, que foi candidato neste ano, também têm os mesmos planos de se candidatarem à presidência em 2010.
Serra e Aécio têm conversado e acertado uma espécie de pacto de boa convivência, mas os próprios tucanos apostam que Serra e Aécio devem ter posição moderada em relação a Lula no início do segundo mandato, devendo, porém, tomar caminhos diferentes até 2010.
Ainda segundo a Folha, o perfil desse partido que Serra pretende criar seria “nacionalista, mas moderno”. Seria uma legenda “desenvolvimentista” que deixaria claro que não deseja colocar em risco a estabilidade. Defenderia um Estado ajustado do ponto de vista fiscal, mas ativo e forte nas relações de indução do crescimento econômico.
Pretencioso, Serra considera que se firmou nacionalmente como “a esquerda moderna”, capaz de assumir um projeto desenvolvimentista para o país, sem criar a sensação de descontrole das contas públicas e de leniência com a inflação –ou seja, sem aventuras e sem assustar o mercado financeiro.
Ele também tem defendido o retorno de um discurso nacionalista, que o PSDB, comprometido com as idéias do neoliberalismo, nunca assumiu. Na versão de Serra, o “nacionalismo moderno” não abandonaria totalmente as teses neoliberais mas as amenizaria. Seria caracterizado por abertura ao mercado internacional, mas com fortes doses de proteção ao interesse brasileiro em alguns setores.
Os quadros desse novo partido dos sonhos do futuro governador de São Paulo viriam de praticamente todas as legendas, desde o próprio PSDB até o PP gaúcho –que está à direita no espectro político–, passando por PMDB, PPS, PSB, PDT, PV e sem descartar parlamentares e ex-parlamentares do PT.
Entre os nomes citados, estão o ex-governador e agora senador eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Roberto Freire (PPS-PE), Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), Eduardo Paes (PSDB-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG).
Serra não descartaria, também, nomes sem mandato, como o ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, cotado para uma pasta no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na versão de Serra a seus interlocutores, o quadro partidário está esgotado depois da chegada do PT ao poder e da vitória da reeleição de Lula, que completariam um ciclo político no país depois do fim da ditadura militar, em 1985.
Serra quer se preservar como líder do centro anti-Lula, enquanto Aécio apontaria para uma posição de maior aproximação e conciliação com o Planalto e com forças políticas de centro, como o PMDB governista.
A outra ponta peemedebista, de oposição a Lula no primeiro mandato, é também conhecida como “PMDB serrista”. Esse grupo é integrado, por exemplo, pelo presidente do partido, Michel Temer (SP) –aliás, outro candidato a se filiar à nova legenda.
Questionado se já havia conversado com o governador eleito de São Paulo sobre o assunto, Temer desconversou: “Não recebi nenhuma notícia mais concreta, nem recebi nenhum convite.” E afirmou que existe espaço no cenário político para os partidos atuarem ou revelarem um discurso desenvolvimentista. “Os partidos precisam tomar conta desta palavra para trazer benefícios ao País. Mas se os partidos (atuais) não fizerem isso, acho que há espaço para a criação de um partido de natureza desenvolvimentista.”
Em determinado momento nos próximos quatro anos, mais perto da eleição de 2010, Serra deverá assumir posição forte como anti-Lula, explicitando divergências num tom maior do que de Aécio, que aposta num caminho de conciliação pelo centro do espectro político.
Da redação,
com informações das agências