Paulo Nogueira Batista Jr: Desenvolvimento já!

Em artigo publicado nesta quinta-feira (2/11) na Folha de S.Paulo, o economista e professor defende a necessidade da troca de toda a diretoria do Banco Central, como forma de o país realmente entrar em um período de pleno desenvolvimento. Para ele, o merc

Desenvolvimento já!



“O nome do meu segundo mandato será desenvolvimento”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na terça-feira, em pronunciamento transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão. Ótimo. Há condições para isso, como procurei explicar no artigo da quinta-feira passada. Temos muita capacidade produtiva não aproveitada, o desemprego é alto, a inflação está controlada, as contas externas estão fortes e o cenário internacional continua propício.



É preciso, entretanto, disposição para tomar algumas decisões importantes. Disposição para contrariar certos interesses. No Brasil, convivemos há muito tempo com uma hipertrofia escandalosa dos interesses financeiros.



Esses interesses estão super-representados no governo, no Congresso Nacional, na mídia e, em especial, no Banco Central. Os grandes bancos mandam e desmandam. A diretoria do Banco Central tem sido até agora a bastilha inexpugnável do lobby financeiro e da mentalidade anticrescimento.



Bem sei, leitor, que estou me repetindo um pouco. Peço desculpas. Mas, como dizia Nelson Rodrigues, aquilo que é dito uma vez, e só uma vez, permanece rigorosamente inédito.



Na quinta-feira passada falei na necessidade de “arejar um pouco” a diretoria do Banco Central. Hoje quero ser mais enfático. Se o nome do segundo mandato é desenvolvimento, como afirma o presidente Lula, então chegou a hora de trocar o presidente do Banco Central e os diretores responsáveis pela condução das políticas monetária e cambial.



Todo mundo tem o direito de errar, claro. Mas esse time do Banco Central é realmente bisonho. Tem vocação para o gol contra. Revela uma propensão a insistir de forma dogmática, diria quase fanática, nos mesmos e surrados erros, em especial numa combinação de juros altos e de câmbio valorizado que solapa as chances de crescimento do país e sobrecarrega as finanças públicas.



Não haverá desenvolvimento se não houver um manejo mais flexível da moeda e do crédito. Tampouco haverá grande redistribuição de renda se o Banco Central continuar beneficiando com juros extravagantes uma minoria privilegiada de credores da dívida pública.



Isso não significa que o Banco Central tenha de ser “desenvolvimentista”. Basta que ele não atrapalhe. Que não pratique taxas de juro selvagens, muito superiores à média mundial. Que não permita que a competitividade internacional da economia brasileira continue a ser minada pela sobrevalorização do real. Que tome providências efetivas para diminuir os gigantescos “spreads” bancários, isto é, a enorme diferença entre as taxas de empréstimo e de captação dos bancos.



A substituição de Henrique Meirelles e outros diretores do Banco Central provocaria turbulências? Talvez. Mas nada que não possa ser enfrentado. O poder de pressão do chamado mercado já não é mais o mesmo. O governo brasileiro não está mais com a faca no pescoço, como em 2002-2003.



O presidente Lula começará seu segundo mandato menos amarrado e com mais margem de manobra. A situação econômico-financeira é muito mais tranqüila. Temos superávit no balanço de pagamentos em conta corrente há quatro anos consecutivos. As reservas internacionais do país aumentaram consideravelmente. As finanças públicas demandam cuidados, mas são perfeitamente administráveis. Não é preciso fazer nada de dramático ou radical.



A própria flexibilização da política monetária facilitaria o ajustamento das contas do governo. A turma da bufunfa é gananciosa e, também, ingrata. Ganhou muito dinheiro no governo Lula, mas lutou ferrenhamente contra sua reeleição.



Perdeu a eleição, mas vai tentar, de novo, ganhar no tapetão. Guido Mantega, um ministro da Fazenda que não faz parte (raridade!) do circuito Febraban-Wall Street-Washington, está sob fogo cerrado. O lobby financeiro vai tentar preservar o controle do Banco Central e, se possível, recuperar o Ministério da Fazenda.



Conseguirá? Não acredito. Se o governo tiver um mínimo de firmeza e clareza de propósitos, a turma da bufunfa ficará a ver navios.