Proeza tucana: cadê os 2.425.239 votos que estavam aqui?
Por Bernardo Joffily
A candidatura presidencial do bloco conservador PSDB-PFL conseguiu uma proeza provavelmente sem precedentes na história eleitoral do planeta: reduziu a sua votação em mais de 2 milhões de votos (mais precisamente,
Publicado 30/10/2006 16:25
A deserção do eleitorado repetiu-se até a pequena cidade de Pindamonhangaba (SP), terra natal do candidato da direita. No primeiro turno, Alckmin teve ali 48.552 votos, ou 64,9% do total. No segundo, perdeu 3 mil votos e ficou com 45.431, ou 60,1%.
Os raros e magros aumentos do voto Alckmin
Os mapas e gráficos ao lado espelham esta façanha, estado por estado e voto por voto (as percentagens citadas aqui se referem sempre aos votos válidos).
A única área onde Alckmin teve um aumento apreciável foi entre os brasileiros residentes no exterior (8,99%). Mas o número de votos ali foi pequeno e o ganho de Alckmin apenas compensou a perda de Pindamonhangaba.
Os estados onde Alckmin aumentou de votação foram: Amazonas, 6 mil votos (também não adiantou muito, pois foi, tal como no 1º de outubro, a maior perda percentual do candidato da direita: 13,2% a 86,8%); Rio de Janeiro, 4 mil votos; e Roraima, 4 mil votos.
As perdas-gigante de Minas e SP
Em contraste, o candidato tucano perdeu o maior número de votos do dis 1º para o 29 em Minas Gerais e São Paulo — dois estados onde o PSDB elegeu ou reelegeu, já no primeiro turno, um governador do PSDB.
Em Minas foram 516 mil votos a menos. Lula, que já vencera ali no primeiro turno, ampliou sua vantagem para mais de 3 milhões de votos. Logo no início do mês, chegou a circular que o governador tucano reeleito, Aécio Neves, se empenharia a fundo em reverter o resultado em favor de seu correligionário. Neste domingo, ficou patente que, ou o eleitor mineiro rebelou-se contra seu governador, ou o neto de Tancredo Neves, que é candidatíssimo à Presidência em 2010, fez que apoiava mas não para valer.
O mesmo pode ser dito de São Paulo, onde os eleitores de Alckmin se reduziram em 231 mil. O também tucano José Serra, preterido como presidenciável em março passado, num braço-de-ferro com Alckmin, também não ajudou seu ex(?)-rival.
Outras deserções em massa: BA, CE, PR
Outros estados com grandes deserções de eleitores ex-alckimistas: Bahia, 220 mil; Paraná, 209 mil; e Ceará, 187 mil.
No caso da Bahia e do Ceará, os resultados refletem o desmoronamento dos esquemas conservadores existentes. O grupo oligárquico baiano do senador Antonio Carlos Magalhães e o esquema de hegemonia cearense do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, naufragaram já no primeiro turno. Diante disso, os eleitores se sentiram no direito de votar na reeleição, tal como a esmagadora maioria dos nordestinos.
Já o Paraná, onde o peemedebista Roberto Requião reelegeu-se por escassos 10 mil votos de vantagem, sobre o pedetista-irmão-de-tucano Osmar Dias, a migração quase representou uma virada. No primeiro turno, Lula perdeu de Alckmin por 842 mil votos. No segundo, Alckmin se manteve à frente mas viu a diferença se reduzir para apenas 81 mil votos.
Em compensação, a virada consumou-se no Mato Grosso, Acre e Rondônia. Nestes três estados Lula perdeu para Alckmin no primeiro turno, mas venceu no segundo.
Qual o sentido da façanha às avessas?
Se Alckmin perdeu votos, Lula ganhou-os em profusão (veja o segundo mapa e o segundo gráfico). Neste quesito, a melhor preformance do presidente em termos absolutos foi São Paulo, com 2.593 votos conquistados nestas quatro semanas. Em termos percentuais, foi o Rio de Janeiro, onde Lula aparentemente engoliu os 17% da senadora Heloísa Helena no primeiro turno, e saltou de 49,18% para 69,69% dos votos válidos.
Qual o sentido da proeza às avessas da candidatura tucano-pefelista? Todos, no alto comando como nos escalões intermediários e no trabalho de base da campanha de Lula são unânimes em seus agradecimentos ao segundo turno. Com seus quatro debates na TV, sua polarização programática em torno de temas como as privatizações e as relações com a Bolívia, seus componentes de classe e ideológicos, ele cumpriu em seus 28 dias um papel esclarecedor que os três meses anteriores não cumpriram. E deu à vitória de Lula uma nitidez que se projetará sobre os próximos quatro anos de seu governo.