Filme lembra vida e luta do sindicalista Expedito (PCdoB-PA)
Por André Cintra
Expedito Ribeiro de Souza foi lavrador que descobriu a política e nunca desistiu de lutar. Participou da Guerrilha do Araguaia, foi dirigente comunista e sindical em Rio Maria, no sul do Pará, sendo até candidato a prefeito. Poeta cord
Publicado 27/10/2006 22:27
Dirigido pelos professores universitários Aída Marques e Beto Novaes, o filme está em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. As duas últimas sessões ocorrem Unibanco Arteplex, do Shopping Frei Caneca. Você pode ver Expedito neste sábado (28/10, às 22h10) ou na segunda-feira (30/10, às 16h20).
O documentário, segundo seus organizadores, revela “painel da colonização da Amazônia na década de 1970, quando o governo federal incentivou amplas frentes de ocupação na região”. Expedito buscou aí seu primeiro norte, ao migrar com a família em busca da “terra prometida”. Mais do que terra a cultivar, encontrou o sentido de sua vida.
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Foi a partir da Floresta Amazônica que ele aderiu à luta política contra a ditadura militar. Mais tarde, ampliou sua liderança popular, presidindo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria. Só que, de ação em ação, passou a ser perseguido – até ser assassinado por encomenda do fazendeiro Jerônimo Alves de Amorim.
O que o documentário também tenta mostrar é a continuidade dessa luta – os legados de Expedito Ribeiro de Souza. Para isso, os diretores colhem depoimentos de “parentes espalhados pelo país inteiro”. Também recorrem arquivos e imagens inéditas da Amazônia, tentando mostrar o desfecho do caminho traçado pelo ativista.
Aida e Beto, diretores do filme
Os autores
Os responsáveis pelo filme têm currículos curiosos. Aida Maria Bastos Nepomuceno Marques, de 52 anos, é professora de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Depois de estudar Cinema e Literatura em Paris, foi montadora da Embrafilme. Pelos mais de 40 filmes que editou (curtas, médias e longa-metragens), já recebeu 11 prêmios. Expedito é seu primeiro filme.
Já José Roberto Novaes, o Beto, é um economista de 61 anos, que dá aulas no Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Pesquisador e realizador de vídeos-documentários, dirigiu os curta-metragnes Dirigiu os curtas-metragens Sonhos de Criança e Rurais da CUT. Seus filmes abordam o mundo do trabalho, especialmente dos trabalhadores rurais.
“Cidadão do Pará”
A luta de Expedito Ribeiro de Souza foi reconhecida pela Assembléia Legislativa paraense, que lhe concedeu o título póstumo de “Cidadão do Pará”. O projeto foi uma iniciativa da deputada estadual Sandra Batista (PCdoB-PA). Destacava os “relevantes serviços prestados” por Expedito ao estado, “na luta pela Reforma Agrária, contra a impunidade e contra as injustiças sociais”.
Expedito: um mártir do PCdoB
Leia abaixo a íntegra da justificativa oficial do decreto,
que foi promulgado em 14 de novembro de 2000.
Expedito Ribeiro de Souza, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, poeta e dirigente Estadual do PCdoB/PA, foi assassinado pelas balas do latifúndio no dia 02 de fevereiro de 1991, a mando do fazendeiro Jerônimo Alves de Amorim. Este ano, em um fato inédito na História do Pará, o primeiro mandante de crime contra trabalhador rural sentou no banco dos réus e Jerônimo foi condenado a dezenove anos e seis meses de prisão.
Expedito nasceu no município de Frei Inocêncio, Estado de Minas Gerais, tinha 43 anos de idade quando foi assassinado, casado, pai de nove filhos, era lavrador, poeta, sindicalista e líder político do PCdoB.
Teve sua vida sempre ligada ao campo, porém sem terra para produzir, onde trabalhou como arrendatário e meeiro por onde passou. Saindo de Minas, andou pela Bahia e Goiás antes de chegar ao Estado do Pará. Em meados da década de 70, Expedito atraído pela propaganda enganosa do Regime Militar que prometia terra na Amazônia se deslocou para o Pará, na antiga localidade de Rio Maria, há época município de Conceição do Araguaia.
Novamente sem terra passou a lutar por ela, porém não só para si, mas para todos que necessitam dela para trabalhar. “A gente luta pela terra, não é tanto por coragem, é por necessidade (…) é para trabalhar para tratar dos filhos, criar família, porque não tem outro meio, é uma questão de vida ou morte”, dizia sempre Expedito.
Em 1977 inicia sua participação nos movimentos organizados pela Reforma Agrária e em defesa dos trabalhadores rurais, participando das Comunidades Eclesiais de Base. Em 1979 mantém contato com Paulo Fonteles, com quem desenvolve intensa amizade e companheirismo na luta pela Reforma Agrária e em defesa do povo.
Junto com João Canuto e outros companheiros organiza o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria em 1983. Em 18 de dezembro de 1985, quando João Canuto é assassinado no exercício do mandato de presidente do Sindicato (crime até hoje sem julgamento, apesar de uma condenação do Governo Brasileiro pela Organização dos Estados Americanos) Expedito era tesoureiro do mesmo.
Em 1988 Expedito é eleito presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria e concorre à Prefeitura Municipal pelo PCdoB, onde obteve expressiva votação. A partir deste ano intensificam as ameaças contra a sua vida, que foram denunciadas nacionalmente e internacionalmente. As entidades sindicais e de Direitos Humanos do Brasil e de outros países denunciaram e solicitaram aos governos estadual e federal proteção para Expedito, o que nunca foi feito. Em dezembro de 1990, o Le Monde Diplomatique, da França, por exemplo, estampa em suas páginas matéria sobre estas denuncias.
Em entrevista em Belém, em 1990, perguntado porque ele não saía de Rio Maria por causas destas ameaças, Expedito respondeu que “Sei que sou ameaçado. Já mataram Gringo, João Canuto, seus filhos e também Braz, Ronan. Tenho minha mulher e nove filhos, mas não posso abandonar meus companheiros.”
De nada adiantou também os encontros de Expedito e outras lideranças com o Ministro da Justiça e o Secretário de Segurança Pública do Pará. Para as denúncias e várias reportagens na imprensa estadual, nacional e internacional não foram dado ouvido. Na noite de 02 de fevereiro de 1991, quando Expedito voltava do Sindicato para casa, pelas costas, em um ato de covardia o pistoleiro José Serafim Sales, o “Barrerito”, a mando de Jerônimo Amorim, dispara seu revólver e o assassina.
Expedito, além de sua luta, desenvolvia a arte da poesia. Ele que quase não sabia escrever tinha o Dom de compor e recitava-as de cor. Fez poemas sobre a natureza, a Amazônia, Rio Maria, a luta pela terra, homenagens ao ex-Senador Teotônio Vilela, aos Deputados Paulo Fonteles e João Batista, a Chico Mendes e João Canuto. Publicou livros e cordéis, tendo inclusive uma de suas poesias premiada, em 1990, pela Universidade Federal do Pará.
Quem o conheceu sempre trará na memória a figura do homem simples e dedicado a luta do povo, que trazia consigo uma certeza: um dia a Reforma Agrária será realizada e o povo será livre para construir seu futuro com harmonia, respeito e repleta de felicidade. Quem não teve a oportunidade de conhecê-lo, quando vivo, guarda o exemplo de que apesar de todas as opressões existiram na terra homens e mulheres que não se vergaram e dedicaram suas vidas a luta pela liberdade e justiça.
Pelos relevantes serviços prestados ao Pará, na luta pela Reforma Agrária, contra a impunidade e por uma nova sociedade sem explorados e exploradores é que apresento este Projeto de Decreto Legislativo concedendo Título de Cidadão Paraense a Expedito Ribeiro de Souza. Conceder este Título além de prestar homenagem a um importante lutador do povo paraense e brasileiro a Assembléia Legislativa do Estado do Pará demonstrará seu compromisso com a luta pela Reforma Agrária e contra a impunidade.