O Rio é Lula: dois tempos de um mesmo combate
Por Ana Rocha*
Uma verdadeira festa democrática contagiou nesta terça-feira (17) a Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, alimentando o espírito militante que reviveu o entusiasmo das grandes manifestações de rua. A irrev
Publicado 18/10/2006 14:07
O samba atravessou a avenida desta vez na forma de jingle de campanha, da coreografia dos jovens porta-bandeiras que formavam o abre-alas, dos discursos inflamados conclamando à vitória da democracia com Lula.
O Lula-sim da camiseta vestida por Gustavo Petta, presidente da UNE, que coordenou junto com Jandira Feghali a caminhada da juventude, foi o contraponto à insinuante campanha do ''não'', que vem sendo abafada pelo sentimento democrático que toma conta do Rio de Janeiro a favor da vitória do Lula neste segundo turno. O amplo leque de alianças a favor de Sergio Cabral (PMDB) para governador faz parte dessa corrente que cerra fileiras para barrar a volta do conservadorismo privatista e retrógrado. A caminhada mostrou que a força da juventude, herdeira das tradições democráticas, da rebeldia saudável por um Brasil progressista, está com Lula. Esse foi o principal recado da Avenida.
Mais festa no Canecão
A festa continuou no Canecão, onde a juventude se juntou aos esportistas, artistas, intelectuais e políticos que redobraram o entusiasmo e revelaram a diversidade do apoio a Lula. A jovem Manuela D’Ávila, a mais votada deputada federal do Rio Grande do Sul, enalteceu os feitos do governo Lula em prol da juventude e a necessidade de garantir um futuro que honre as lutas democráticas das gerações passadas. O pugilista Popó falou de sua origem humilde e do bem que lhe fez o esporte, de como as ações do Ministério do Esporte vem ajudando os jovens das camadas populares. Popó levantou a platéia quando entregou ao presidente luvas de boxe para ele enfrentar o segundo turno.
Em nome dos intelectuais, o professor Emir Sader, da Uerj, fez defesa brilhante da política externa a favor da soberania brasileira e pela unidade latino-americana. O tom poético do teatrólogo Augusto Boal emocionou a todos ao dizer em palavras originais a necessidade de honrar com a vitória de Lula a trajetória de lutas democráticas do povo brasileiro.
O discurso sério do coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia, e a longa prestação de contas do ministro Gilberto Gil (Cultura) não quebraram o entusiasmo da platéia, que também aplaudiu Sergio Cabral quando este assumiu compromisso com a cultura do Estado. A representante maior do samba, Beth Carvalho, anunciou publicamente seu apoio a Lula, dizendo-se coerente com a história de Brizola.
Sem se afastar do povo
Era grande o elenco de personalidades não só na platéia, como no palco ao lado de Lula, desde ministros, governadores eleitos, presidentes de partidos como Renato Rabelo, do PCdoB, representantes da juventude. Vale registrar os aplausos para Jandira Feghali quando citada por Lula e a apoteose do canecão quando anunciado o governador eleito da Bahia, Jacques Wagner.
O encontro teve seu grande final com um discurso de Lula ironizando seu adversário privatista. Tomado pelo entusiasmo da caminhada da juventude e pela inspiração dos oradores que o antecederam, Lula concluiu sua fala com uma poesia de Gilberto Freire, e com o compromisso de continuar honrando os sonhos e os planos, sem se afastar do meio do povo.
Esses dois tempos de uma mesma manifestação democrática, reascenderam com força a necessidade de lutar por um Brasil soberano, pela continuidade da caminhada mudancista e progressista com Lula, de impedir que a direita raivosa e retrógrada monte outra triste cena para o Brasil. Ficou a certeza que este país plural, onde muitos jovens lutaram e morreram por um futuro melhor, não pode ser abafado pelo tom monocórdio de um conservadorismo insosso.
* Psicóloga e jornalista, presidente estadual do PCdoB-RJ