Lula sai em vantagem contra Alckmin no primeiro debate do 2º turno

Pela primeira vez nestas eleições presidenciais, os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) estarão frente a frente, em rede nacional. O embate se dará a partir das 20h30 de hoje (08/10), na TV Bandeirantes, em São Paulo, onde s

Com transmissão para todo o País, a atração da Band será mediada pelo jornalista Ricardo Boechat e terá cinco blocos. No primeiro turno, a emissora já realizou um encontro com três dos principais candidatos – Lula não compareceu. O presidente, no entanto, confirmou presença em todos os debates previstos para outubro. Os próximos confrontos devem ocorrer nas redes Gazeta (17/10), Record (sem data definida) e Globo (27/10).


 


Neste sábado (07/10), Alckmin insistiu que “o segundo turno começa agora, com o (primeiro) debate e o horário eleitoral”. Lula manifestou opinião parecida, ao afirmar que “o segundo turno começa segunda-feira, depois do debate. A partir de segunda, teremos 20 dias para as eleições, e a militância tem que ocupar cada metro quadrado do território nacional” para defender seu governo e a reeleição.


 


O recado das urnas
Apesar do comedimento nas declarações, a verdade é que o segundo turno tem apenas quatro semanas – a primeira delas se encerra justamente neste domingo. A etapa final da disputa teve início já em 1º de outubro, com o chamado recado das urnas, favorável à candidatura Lula. Ele abriu vantagem sobretudo no Nordeste, onde superou o tucano por mais de 10 milhões de votos. Triunfou também na região Norte, além de vencer em estados como Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais.


 


Já Alckmin contou especialmente com a região Sul e com São Paulo para ter sobrevida. Somando o eleitorado paulista e dos três estados do Sul, o candidato do bloco conservador diminuiu a diferença em 6,8 milhões. No cômputo geral, porém, é inquestionável o poder de fogo de Lula. Ao todo, foram 46,6 milhões de votos para ele – 6,6 milhões a mais que Alckmin.


 


Alckmin e a TV
No primeiro turno, Alckmin dependeu, e muito, da campanha na TV para divulgar a candidatura tucana e ganhar boa parte do eleitorado anti-Lula. Candidato assumidamente sem carisma – sem muita presença de espírito -, aderiu à estratégia formulada por seu marqueteiro, Luiz Gonzales, e pelo coordenador da campanha, João Carlos Meirelles.


 


Após um começo suave, centrado na apresentação de Alckmin para a maioria dos brasileiros que o desconhecia, os programas tucano no rádio e na TV descambaram, em setembro, para a baixaria. Tudo para reverter um quadro que sinalizava cada vez mais a vitória, no primeiro turno, de Lula. O desespero fez Alckmin subir o tom e agredir seu adversário Lula numa campanha de denúncias e sensacionalismo.


 


Acontece que, se recebeu pontos importantes no horário político, Alckmin se revelou um candidato limitado e repetitivo quando não havia script ou teleprompter (aparelho que permite ler um texto olhando para a câmera, sem que o telespectador perceba). Em agosto, na primeira rodada de entrevistas do Jornal Nacional com os presidenciáveis, seu desempenho foi, indubitavelmente, o pior. O comando da campanha tucana reconheceu, ainda, que seu candidato desapontou nos primeiros debates do primeiro turno, reveladores do tom monocórdio e da pouca criatividade de Alckmin.


 


A nova dianteira de Lula
Há outra razão para preocupar Alckmin – e para desmentir a tese de que o debate inicia o segundo turno. Neste mês de outubro, as primeiras pesquisas de intenção de voto frustraram as expectativas tucanas, ao mostrarem uma considerável dianteira de Lula. No Datafolha, ele aparece com 50%, sete pontos acima de Alckmin.


 


Levantamentos informais mostram que Alckmin precisa tirar milhões de votos de Lula, já que os eleitores de Heloísa Helena e Cristovam Buarque tendem a se dividir no segundo turno. Segundo a CartaCapital desta semana, “as primeiras sondagens indicam que os votos de Cristovam se distribuem equilibradamente entre os dois candidatos”.


 


No Nordeste, os eleitores de Heloísa estão aderindo em peso a Lula. Já no Sudeste  e no Sul, Alckmin parece herdar a maioria dos votos recebidos pela candidata do PSOL. Heloísa Helena teve seu desempenho mais vistoso no Rio de Janeiro, onde recebeu 17% dos votos. Mas, por ironia, é justamente no Rio que brotou a primeira crise da campanha Alckmin no segundo turno – uma crise que explicita as dificuldades da direita.


 


O fator Rio
Na ânsia de coletar apoio a qualquer custo, Alckmin aceitou posar para fotos ao lado do casal Garotinho (PMDB), que lhe deu apoio nesta semana. O gesto foi malvisto por seus correligionários no estado e redundou em uma crise pública. Em virtude das imagens, o prefeito carioca, Cesar Maia (PFL), já anunciou que não fará mais campanha pelo tucano, embora mantenha o voto.


 


A deputada federal Denise Frossard (PPS), candidata ao governo do estado, trouxe mais nitroglicerina. Denise se declarou “inconformada” com as fotos, disse que “Alckmin não deve gostar mesmo do Rio” e retirou seu apoio a Alckmin. Um dia depois, forçada, voltou atrás – mas o desconforto continua. “Se ele (Alckmin) fizer campanha com Garotinho, não quero (seus votos)“, afirmou a candidata na Folha de S.Paulo deste domingo.


 


Em meio a isso, as análises do sociólogo Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi, complicam ainda mais os tucanos. Levando-se em conta que Lula deve manter seu eleitorado do primeiro turno, Coimbra declarou à CartaCapital uma situação desconfortável para Alckmin. “Bastará que 35% dos que escolheram a Heloísa Helena no primeiro turno anulem ou votem em branco para a vitória do petista. Mesmo se os demais eleitores da candidata do PSOL e 100% dos que optaram pelo Cristovam Buarque migrem para o Alckmin…”.


 


A mídia dá as caras
Apesar destes claros trunfos – a votação já obtida no primeiro turno, a liderança na pesquisa Datafolha, as tendências de movimentação de voto e a campanha mais equilibrada, sem crises no momento -, Lula não pode subestimar a disputa. A mídia burguesa, em seu intento de sabotar a candidatura progressista e alavancar Alckmin, está novamente em ação. É nítido – e se expõe de forma cada vez mais acintosa – o compromisso da imprensa com as tradições mais reacionárias.


 


Veja e Época, por exemplo, chegaram ontem às bancas estampando um Geraldo Alckmin sorridente, com feição triunfante – ao estilo de um “o executivo do ano”. A capa das duas revistas em nada dá a entender que a campanha alckmista vive sérias complicações, notadamente no Rio de Janeiro e na Bahia. Tanto Época quanto Veja já vislumbram – e sonham – com um novo governo tucano. Até nas chamadas as publicações ficaram escandalosamente semelhantes:


 


Época: “Como seria o Brasil de Alckmin”;


Veja: “O Desafiante – (…) Como funcionaria a economia com Alckmin eleito”.


 


A vez de Lula
Por tudo isso, o debate na Band propiciará um raro momento de igualdade de condições midiáticas aos candidatos. Se o evento conquistar boa repercussão, Lula é quem tem mais a ganhar. Para setores da sociedade que tradicionalmente formam opinião, o debate é visto como uma oportunidade de confrontar propostas e estilos. Um bom desempenho de Lula é fundamental para que sua candidatura deslanche mais entre esses setores, arrancando votos decisivos na região Sul e em São Paulo.


 


De qualquer maneira, o candidato que precisa correr atrás de pontos é Alckmin, que passou a duras penas ao segundo turno, não domina integralmente a televisão e já enfrenta turbulências no recomeço da campanha. As circunstâncias dão ligeira vantagem a Lula neste domingo. Considerado grande orador, o presidente precisa explorar sua intimidade com as câmeras – e também com debates, dos quais participa desde 1982, quando foi candidato a governador por São Paulo.


 


O tête-à-tête é o primeiro teste de fogo dos dois presidneciáveis para os demais 21 dias de campanha. Estilo por estilo, Lula tem tudo para enfrentar e superar Alckmin, ao vivo, na TV Bandeirantes.


 


Da Redação,
André Cintra


 


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