Texto da CNBB acusa: conservadores de fustigar Lula
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) “não tem partido nem candidato a apoiar” nas eleições, mas seu vice-presidente, dom Antonio Celso de Queirós, advertiu que “a corrupção é muito maior que um ou outro episódio”. O Conselho Episcopal Pastor
Publicado 28/09/2006 18:05
“A CNBB não tem partido nem candidato a apoiar. Deixamos toda a liberdade e autonomia aos nossos eleitores. Não queremos bitolar os votos da comunidade católica”, disse o secretário-geral da CNBB, dom Odilo Pedro Scherer. Dom Geraldo disse que a CNBB não deseja que o governo Lula seja “malsucedido”, embora admitindo que ele não fez “tudo o que precisamos de forma urgente”.
Polêmica com o presidente da OAB
Dom Antonio criticou a sugestão do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, de voltar a discutir o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Precisamos ver o nível de responsabilidade [do presidente] no episódio. Impeachment não se decreta na véspera da eleição com a possibilidade de ganhar este ou aquele”, afirmou.
O presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, manifestou preocupação com o futuro político do país. “Não podemos esperar para o futuro situação tão tranqüila que busque o bem comum da sociedade”, alertou.
Texto de análise esclarece posição
As preocupações da CNBB ficam mais claras com a leitura do texto de análise de conjuntura que a reunião debateu, apresentado aos bispos por Pedro Ribeiro de Oliveira, membro da equipe do ISER-Assessoria. A análise é “quase toda voltada para o tema das eleições”. E avalia que estas “são muito mais importantes do que deixa transparecer o clima predominante”.
“Estão em jogo pelo menos dois projetos de grande interesse para os excluídos e excluídas do banquete do mercado globalizado: o avanço da solidariedade latino-americana e o projeto brasileiro de construção da Nação. Não é por acaso que, sentindo-se ameaçadas por esses processos de mudanças estruturais, as forças conservadoras estejam usando todos os meios para esvaziar o conteúdo político destas eleições e fustigando Lula e o PT para debilitá-los ao máximo”, afirma a análise, classificada como “documento não-oficial da CNBB” e divulgada no sítio da entidade.
Para ser mais explícito, o texto recorda, numa nota: “A expressão usada por um senador do PFL é sangrá-los em praça pública'”.
Em nome dos movimentos sociais
O documento frisa que “o processo de construção da Nação” visa “superar o antigo projeto colonial escravista”, historicamente dominante no Brasil. E também que ele “se dá em sintonia com o de outros povos latino-americanos, que – apesar dos esforços em contrário dos EUA – buscam a integração econômica e cultural apoiada numa estratégia de longo prazo”.
A análise da CNBB valoriza o papel dos movimentos sociais. Depois de historiar sua trajetória desde os anos 50, aponta que “na década de 1990 os movimentos sociais atravessam a crise imposta pelo modelo neoliberal do Estado mínimo”. E que “a reação dos movimentos sociais contra o esvaziamento do Estado fez reverter o projeto do Estado-mínimo com suas privatizações e levou à eleição de Lula”. No texto, “movimentos sociais” aparece freqüentemente como uma expressão que designa as posições da própria CNBB.
Outro foco de interesse é o PT, também historiado, e elogiado, inclusive em contraposição à esquerda leninista. Diz que “o PT atravessou, com mais acertos do que erros, diferentes experiências de poder legislativo e executivo de âmbito municipal e estadual, mas ao enfrentar a experiência do Palácio do Planalto, está correndo o risco de perder sua identidade”.
Críticas ao “caudilhismo” de Lula
O documento critica o “Lulismo”, descrito como “essa tendência caudilhista de Lula”. Se esta “não for corrigida”, prossegue, “os Movimentos Sociais perderão definitivamente seu conduto preferencial para a ação na esfera do Estado e estarão colocados diante de um dilema: ou buscar um refúgio em outros partidos de esquerda – seja numa coligação de pequenas correntes, seja no PSOL, que até agora é pouco mais do que uma promessa de fidelidade às causas populares -, ou refundar, sobre novas bases, um partido que os represente, tomando como lição a experiência do PT”.
“Daí as tensas relações entre os Movimentos Sociais e a candidatura Lula”, prossegue o documento. Ele prevê que Lula será reeleito e “provavelmente terá maior votação” que em 2002, mas “dificilmente o PT, o PRB e o PCdoB terão maior número de cadeiras no Congresso”.
“Dois cenários”
Desenham-se então “dois cenários”, conforme a análise.
Pode haver um “entendimento nacional” de molde conservador, de Lula com a oligarquia. Esta manteria o presidente “acuado pela mídia” e então lhe ofereceria “a governabilidade em troca da manutenção da política econômica e dos privilégios do agronegócio, que é o que de fato lhes interessa”.
“O segundo cenário é o que vê o segundo mandato de Lula como oportunidade para democratizar a sociedade brasileira, operando mudanças também nas suas bases econômicas e no seu sistema de poder”, afirma o documento. E conclui que “este é o cenário desejado pelos Movimentos Sociais, que mais apoiaram do que criticaram o primeiro governo Lula”.
Para o documento da CNBB, o “campo popular” extrai daí “tarefas estratégicas”: avaliar a experiência do governo Lula, “identificando onde acumulamos” e “onde perdemos”; “fortalecer processos autônomos”; “planejar uma ‘pressão e acompanhamento popular sistemáticos’, já durante o início do próximo governo”, apresentando propostas; e buscar “uma aliança de organizações, movimentos, pastorais sociais, frentes e entidades, que tenha solidariedade interna; consistência política; base social; unidade estratégica”.
A íntegra da análise de conjuntura está no endereço
http://www.cnbb.org.br/documento_geral/AConjunturaSetembro2006.doc