Renato Rovai: “As pesquisas Sensus e Ibope e a mídia Galvão Bueno”
O que se tem comentado nos bastidores da política é que em combinação com o jornal O Estado de S. Paulo, o Ibope, instituto da campanha tucana, poderia ter “forçado a mão” na amostra escolhida. Objetivo: dar fôlego para que os
Publicado 26/09/2006 20:03
Por Renato Rovai – Revista Fórum
O Instituto Sensus, que faz pesquisas mensais para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), anunciou às 12h de hoje pesquisa em que Lula teria 59% dos votos válidos contra 41% de todos os outros candidatos somados. Uma diferença de 18%. Parece demais? Sim e a realidade pode vir a provar que é. Mas as pesquisas Sensus, por algum motivo, têm apresentado números melhores para Lula do que para os outros candidatos. E a Confederação Nacional dos Transportes, que banca a consulta, não é vinculada ao petismo. Seu presidente é o ainda vice-governador de Aécio Neves, o pefelista Clésio Andrade.
Além da pesquisa Sensus, há outras que indicam que a estapafúrdia operação “dossiê” pode ter operado desgastes nas candidaturas petistas, principalmente para os candidatos ao parlamento. O PT perderá deputados em decorrência dos desgastes dessa operação. Mas eles não são tão demolidores como o desejado pela mídia Galvão Bueno, aquela que veste a camisa e, independente de como está o jogo, convoca a torcida a entrar em campo. E derrotar Lula.
É incrível como a imprensa tem cobrado agilidade da Polícia Federal para apurar a forma como foi realizada essa estapafúrdia operação-dossiê e calou-se quando a “investigativa” revista Veja publicou informações de um suposto dossiê de Daniel Dantas apontando contas no exterior do presidente Lula, do ministro Marcio Thomaz Bastos, de Luiz Gushiken e até do senador pefelista Romeu Tuma. O mouse-jornalista Diogo Mainardi chegou até a entrevistar Daniel Dantas, que acusava a todos. Mas o próprio Dantas depois desmentiu a entrevista. E aquele tal dossiê (que não se sabe se existia, se foi comprado ou inventado) caiu no esquecimento. Até hoje ninguém quer saber por que a Veja o publicou. Não há jornalista indignado berrando por revelações daquele caso.
Não há nenhum exagero em fazer com que os gângsteres-covardes que compraram informação de bandidos declarados para usar no processo eleitoral se expliquem. Mas seria de bom tom ir atrás dessas informações. Nós da Fórum temos uma equipe pequena, mas depois do processo eleitoral (adiantamos) vamos nos dedicar ao tema.
Um caso a apurar
Os resultados do Ibope e Datafolha em geral são próximos na reta final. Por isso causou espécie a última pesquisa Ibope. Quem trabalha em institutos nem sob tortura costuma tratar publicamente da pesquisa alheia, mas o que vem sendo dito nos bastidores a respeito da pesquisa Ibope-Estadão, divulgada no sábado pelo Jornal Nacional e no domingo pelo jornalão paulista, e que coloca o segundo turno a 3 pontos distância, merece apuração. Já houve quem pensasse numa CPI dos institutos de pesquisa, talvez fosse o caso de resgatá-la.
Para quem não sabe, o Ibope trabalha para a candidatura Alckmin. Assim como o Vox Populi para a de Lula . Até aí, morreu Neves. Isso é muito comum. Institutos trabalham para candidatos e para veículos midiáticos. É correto? Talvez não, mas assim tem sido. Eles alegam independência, resta-nos acreditar.
Mas o que se tem comentado é que em combinação com o jornal paulista o instituto da campanha tucana poderia ter “forçado a mão” na amostra escolhida. O jornalista Ricardo Noblat hoje comenta em seu site sobre margem de erro e margem de lucro. Talvez ele saiba mais do que escreveu.
A pesquisa favorável a Geraldo Alckimin poderia até ser desacreditada pelas próximas (como esta do Sensus e talvez pela do Datafolha que virá), mas resolveria um outro problema. Daria fôlego para que os arrecadadores tucanos pudessem passar o chapéu no domingo e na segunda-feira.
E isso não é pouca coisa. Comenta-se que os grandes doadores, ao perceberem que nem o caso-dossiê estava mudando o rumo da sucessão, teriam fechado o cofre. E, como já estava sem dinheiro, a campanha tucana ficaria sem condições de operar qualquer reação nesta última semana.
Esta pesquisa Sensus e outras que virão podem dar indícios da veracidade ou não de algo neste sentido, mas não serão provas cabais de que isso teria acontecido. Em princípio, o Ibope tem o direito de se explicar se continuar a ser desmentido por outros institutos e até por uma nova pesquisa sua a ser divulgada nos próximos dias. Também pode continuar apostando todas as suas fichas em seu levantamento. É justo. Mas no domingo isso virá à prova. A depender dos resultados, a pesquisa em questão poderá se tornar símbolo de uma eleição onde Galvão Bueno deve estar se julgando o mais imparcial dos jornalistas e analistas de plantão.
Atenção para a Bahia
A depender dos próximos dias, por exemplo, as eleições na Bahia podem se tornar um enrosco para o PFL. O candidato petista Jacques Wagner atingiu 31% (atenção, leitores) em pesquisa do Ibope, divulgada na noite de ontem, pela TV controlada pela família Magalhães. O atual governador Paulo Souto, que beirou os 70% dos votos válidos, teria caído para 48% dos votos totais. Ainda ganha no primeiro turno, mas o risco de haver segundo turno por lá não é menor do que no caso da eleição presidencial. Com uma única diferença, a Bahia é bem menor do que o Brasil. Quanto menor o território e mais homogêneo o comportamento do eleitor, maior a possibilidade de viradas de última hora. E, lá, as pesquisas de certos institutos, divulgadas por certa retransmissora, erram mais do que nos outros estados brasileiros. Entenderam?
Fonte: Revista Fórum