Via Campesina: Banco da Terra de FHC deixou lavradores inadimplentes
Uma pesquisa da Via Campesina aponta que grande parte dos agricultores que compraram lotes através do Banco da Terra não conseguiu pagar o empréstimo e teve de abandonar o terreno. O estudo, divulgado em agosto, foi feito com 60 mil famílias e
Publicado 23/09/2006 16:31
Na avaliação da pesquisadora Maria Luísa Mendonça, uma das responsáveis pela publicação, os juros dos empréstimos variam de 3% a 6% ao ano, valores considerados altos. “Os trabalhadores ficam endividados e isso acaba enfraquecendo a política de reforma agrária, que é uma reivindicação histórica”, diz Mendonça.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário reconhece que o Banco da Terra cobrava taxas de juros elevadas, entre 6% e 10% ao ano. Por isso, o programa foi extinto e os clientes, transferidos para o Crédito Fundiário, que tem juros de 3% a 6,5% ao ano.
Um quinto das famílias passou fome
A pesquisa mostra, ainda, que 46% das famílias não conseguem produzir o suficiente para se sustentar. “Há um índice de pobreza muito alto. Quase 20% das famílias dizem que, desde que entraram no programa, em algum momento passaram fome”, conta Mendonça.
Ela também explica que a maioria das terras vendidas aos agricultores tem preço acima do que deveria ser cobrado. “Os latifundiários vendem as piores terras. Com isso, os agricultores ficam sem condições de produzir”.
A pesquisadora acredita que a principal falha dos programas de financiamento é delegar a gestão para os estados, onde interesses internos podem influenciar as decisões e há “currais eleitorais e situações que geram corrupção”.