Luci Choinacki, mulher, mãe e agricultora: conservadores incomodados
O casamento do PMDB com o PFL de Jorge Bornhausen e com o PSDB parece, ao menos, promover uma separação entre joio e trigo no partido em Santa Catarina. Enquanto militantes históricos do antigo MDB renunciam à malfadada aliança, setores conservadores empe
Publicado 03/09/2006 02:39 | Editado 04/03/2020 17:15
A “ameaça” chama-se Luci Choinacki (PT), 52 anos, uma agricultora natural de Descanso, município com pouco mais de 9 mil habitantes no extremo-oeste do estado. A história de engajamento com a luta dos trabalhadores sem terra e com os movimentos de mulheres conduziu-a à Assembléia Legislativa (1986) e duas vezes à Câmara Federal (1999 e 2003).
Referência para os movimentos sociais catarinenses, edifica a cada dia suas chances de desbancar o principal nome da oligarquia catarinense no Senado Federal. A última pesquisa Ibope, divulgada em 28 de agosto, revela que a petista cresceu dez pontos, saltando de 7% para 17% e empatando tecnicamente com Colombo, que se manteve com 21%.
Reação raivosa ao crescimento de sua campanha estampou as páginas do periódico criciumense Jornal da Manhã e veio do prefeito Anderlei Antonelli. Na tentativa de estimular a candidatura de Colombo, o peemedebista declarou que seria “uma desonra para Santa Catarina eleger Luci”. A repercussão provocou emendas piores do que o soneto. Um dos poucos alinhados com a estratégia eleitoral de seu partido na região, Antonelli teve que dar explicações até mesmo aos próprios correligionários. Primeiro suplente da candidatura de Luci, o vereador criciumense Douglas Mattos (PCdoB) garante: o PMDB de Criciúma e Santa Catarina não pensa como Antonelli. “Temos recebido ampla manifestação e apoio do PMDB', afirma.
Persona non grata
Não é a primeira vez que Luci incomoda e gera reações públicas dos setores conservadores. Em abril do ano passado, foi declarada “persona non grata” pela Câmara de Municipal de Lages, no planalto serrano do estado – terra de seu concorrente, Raimundo Colombo. O episódio aconteceu depois de seu pronunciamento sobre o imbróglio judicial que envolvia a Fazenda São Roque, em Correia Pinto, município próximo de Lages. A área foi desapropriada para o assentamento de oitenta famílias, mas o proprietário pedia anulação da decisão. Indignada, Luci referiu-se os fazendeiros da região serrana como “gigolôs de vaca” e lembrou que muitos proprietários de áreas improdutivas não pagam suas dívidas com os bancos.
As palavras incisivas atingiram o vereador Romeu Rodrigo da Costa Silva(PFL) – ou Doutor Rodrigo, como prefere ser chamado -, que propôs o “título” lageano votado em regime de urgência especial.
Em tempo: a fazenda São Roque em Corrêa Pinto é um dos mais recentes assentamentos conquistados pelos Sem Terra catarinenses. Em 14 de junho, o Presidente do Supremo Tribunal Federal manteve o decreto de desapropriação da área. A decisão saiu depois de quatro anos de violações de direitos humanos contra os assentados, incluindo tentativa de homicídio.
Luci Choinacki incomoda. Incomoda os latifundiários quando luta pela reforma agrária. Incomoda quando enfrenta oligarquias. Quando luta pela aposentadoria dos/as trabalhadores/as rurais. Quando luta pela aposentadoria das donas de casa e pela igualdade de gênero. Mas o incômodo que amedronta Colombos, Antonellis e Doutores Rodrigos não atinge o povo catarinense.
De Florianópolis,
Ana Claudia Araujo