Cid crítica estratégia “desleal” de Lúcio Alcântara
Primeiro colocado na última pesquisa Datafolha/O POVO/TV Jangadeiro, com 50% de intenções de votos, o candidato ao governo do Estado Cid Gomes (PSB) fez críticas ontem à gestão de seu adversário, Lúcio Alcântara (PSDB), e à estratégia do tucano de “colar”
Publicado 30/08/2006 08:30 | Editado 04/03/2020 16:37
Primeiro colocado na última pesquisa Datafolha/O POVO/TV Jangadeiro, com 50% de intenções de votos, o candidato ao governo do Estado Cid Gomes (PSB) fez críticas ontem à gestão de seu adversário, Lúcio Alcântara (PSDB), e à estratégia do tucano de “colar” na imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cid afirmou que “a tentativa de confundir a opinião pública” é “um fato desleal, desonesto”.
Cid também respondeu à crítica de Lúcio sobre sua administração em Sobral. Em matéria publicada ontem no jornal O POVO, o governador afirmou que o candidato do PSB está agindo de “forma desonesta” ao divulgar obras realizadas no município, sem citar que parte dos recursos saíram do Estado.
“Acho um exagero dele, porque ele já esteve em Sobral inaugurando as duas obras que têm alguma participação do Estado”, respondeu Cid. “Acho que ele (Lúcio) está exagerando na dose. No final das contas quem acaba sendo desonesto é ele”.
Segundo candidato a participar do projeto Entrevista, do Grupo de Comunicação O POVO, Cid Gomes disse ainda que manterá o Fundo de Combate à Pobreza (Fecop), criado no governo tucano, mas que acabará com supostas influências políticas. Sobre a possibilidade de receber o apoio do senador Tasso Jereissati (PSDB), caso eleito, Cid não quis comentar: “Não vou falar sobre hipótese, não tem cabimento.”
O candidato diz que é necessário superar um ciclo. É de se imaginar que esse ciclo inclua o seu irmão Ciro Gomes (PSB), o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) e o atual governador, Lúcio Alcântara (PSDB). Tem algo de auto-crítica aí, já que o senhor compôs esse ciclo, inclusive como líder do governo na Assembléia?
Costumo olhar para frente. O passado serve para a gente como lição, como fonte de estudo. Há um sentimento na população de que esse ciclo cumpriu a sua missão. Isso tem a ver com uma série de questões, entre a abertura para a participação de novos segmentos da população. E é isso que simboliza a nossa aliança. Para mim não é uma aliança de oportunidade, ela não se formou para esta eleição. Se você for ver a minha relação partidária, os aliados que a gente tem no período em que fui gestor em Sobral, os partidos são praticamente os mesmos desta aliança. É esse pensamento, dessas forças políticas, que a nossa candidatura encarna, sem nenhum olhar crítico ao passado. Não vou fazer caça às bruxas, não vou ficar olhando para o passado. É um dever nosso olhar para frente e ver o que o Ceará está precisando.
O senhor se considera hoje um candidato perfeitamente integrado às idéias socialistas?
Ideologia é fundamental e tenho a minha. A minha postura na vida pública tem sido a de quem tem uma ideologia social democrata. Sempre vi no governo uma forma de equilibrar as desigualdades que os liberais, por exemplo, (acreditam) que o mercado resolva tudo. Num País desigual como o nosso, mais necessário ainda se faz a presença do poder público dando oportunidades iguais pelo caminho da educação. Ideologicamente estou tranqüilo e confortável onde estou. O PSB não é um partido comunista, é um partido de centro-esquerda. Nós deixamos o PPS por razões absolutamente alheias à nossa vontade. Não vejo nenhuma contradição e a minha postura ao longo da vida pública tem demonstrado isso. O governo em Sobral priorizou as questões sociais.
O senhor falou que faltou participação nesse ciclo político. Participação de quem?
Participação da sociedade. O movimento pró-mudanças não foi um movimento que se limitou à participação de empresários. Embora tivesse um empresário liderando (Tasso), ele foi um movimento social do qual participaram estudantes, intelectuais, pensadores. O poder ao longo do tempo se acomoda, ele vai se limitando a um núcleo dominante, a um núcleo hegemônico e outros segmentos vão se afastando. Isso acontece como regra, não é só aqui não. Faz parte da dialética.
Boa parte de suas obras em Sobral, como o Centro de Odontologia, tem dinheiro federal e estadual, e isso nunca é citado. O governador diz que esse é um discurso desonesto, não citar os convênios. O que o senhor acha disso?
Nunca deixei de citar, ao contrário. Gravei um programa de televisão específico sobre a necessidade de fazer parcerias. Os municípios cearenses, só com suas verbas, não têm como realizar grandes investimentos. Sobral conseguiu com muito esforço ter hoje uma capacidade de investimento próprio, relativamente elevada em relação aos outros municípios, que gira hoje em torno de R$ 30 milhões por ano. As parcerias com o Estado foram feitas sendo 50% do município, 50% do Estado. Em muitos casos foi superior a contrapartida do município, chegando a 70%. Nunca escondi isso.
O que o senhor acha do governador dizer que é uma atitude desonesta?
Acho um exagero dele, porque ele já esteve em Sobral inaugurando as duas obras que têm alguma participação do Estado, atendendo a um convite meu. A barragem, que a rigor foi um convênio assinado no governo anterior, de Tasso Jereissati, e a margem esquerda, que foi inaugurada no governo dele, mas que também foi um convênio assinado no governo anterior. Foi lá, discursou, destacou a parceria. Enfim, acho que ele está exagerando na dose. No final das contas quem acaba sendo desonesto é ele. Nunca escondi isso, tinha placas do município e do Estado. Convênio no governo dele só tivemos um que foi 20% da biblioteca. A biblioteca custou R$ 4 milhões, o governo entrou com R$ 800 mil, que não foi pago na minha gestão, foi pago na gestão seguinte. E isso era uma compensação de 30% dos recursos que ele tirou dos municípios. Houve uma mudança na legislação de recolhimento do ICMS e isso fez com que o município de Sobral, por exemplo, perdesse algo em torno de R$ 4 a R$ 5 milhões por ano. No saldo geral, Sobral teve prejuízos com o governo do Estado.
No que o governo do senhor vai ser diferente do atual governo?
Vai ser totalmente diferente a partir da composição, dos apoios, da visão estratégica do Estado, a partir da compreensão de que é preciso ousar, ter novos projetos, novas soluções para diversos problemas que estão aí atormentando a vida da população.
Estamos a um mês da eleição e o senhor ainda não apresentou o seu programa de governo. O senhor, como eleitor, votaria em um candidato que não tem programa?
Não, não votaria, mas nós estamos fazendo as nossas propostas. Temos pelo menos 800 pessoas, técnicos, intelectuais, estudiosos, trabalhando em nosso programa de governo. Algumas delas já estão prontas, vêm sendo apresentadas em nosso programa eleitoral, agora no site da campanha nós só vamos colocar quando estiver tudo pronto. Algum outro (candidato) já colocou as propostas?
Acho que todos estão errados em não terem colocado até agora.
Está certo, concordo com você. Isso tem que ter muito cuidado porque a gente não pode fazer promessa que não possa ser cumprida. Vamos apresentar 11 eixos principais, que não será um plano acabado, queremos colocar para receber sugestões e críticas. A primeira ação, se o povo cearense me permitir ser governador, será aprofundar isso nos primeiros meses de gestão. Estou checando pessoalmente cada um dos eixos. Em no máximo dez dias estará pronto.
Como o senhor avalia a segurança do Estado atualmente? O senhor tem noção do tamanho de Fortaleza para propor um projeto como o de colocar PM em cada quarteirão?
Acho que a sensação de insegurança, isso é pacífico que aumentou. E, de fato, vários dados mostram que a segurança piorou aqui no Ceará. A despeito da propaganda, o que aconteceu foi que de 2002 para cá o Ceará está investindo percentualmente menos na segurança. Em 2002 investiu 8%, e esse percentual baixou nos três últimos anos. Então, o meu compromisso é de elevar (o investimento). Vamos fazer uma ampliação do quadro de policiais militares. O Ceará tem 13.622 policiais militares. Desses, em torno de três mil estão em outras funções que não a de fazer polícia preventiva. Ou estão na Assembléia, ou estão no Tribunal de Justiça, outros estão na Casa Militar, ou estão fazendo serviço de polícia civil em delegacias. Nós praticamente temos 10 mil homens em números redondos na polícia militar. Vamos ampliar esse contingente.
Ampliar tirando esses três mil dos lugares indevidos?
Começa por aí. Hoje nós temos 10 mil homens nas ruas. A meta é dobrar esse efetivo na rua: 20 mil homens. Vamos fazer isso começando naturalmente por reorganizar aqueles que estão em funções que não são absolutamente prioritárias.
E concursos para preenchimento dessas vagas…
Na seqüência concurso. Vamos ampliar o contingente da polícia civil que tem uma defasagem ainda maior. E reabrir pelo menos 50 delegacias. 140 municípios hoje estão sem delegacia, dos 184 municípios. Agora, o que é o programa “ronda de quarteirão”? É um programa que vai propor uma polícia comunitária. Os moradores vão conhecer qual é a equipe que vai ficar ali exclusiva naquela área. Não é uma viatura para cada quarteirão. O nosso compromisso é de que nós teremos uma área determinada, em torno de 9 km2, e a viatura ficará ali permanentemente fazendo o patrulhamento. Essa viatura vai ser composta, repito, por um contingente policial permanente: um sargento, dois cabos, seis soldados, e mais os motoristas que serão conhecidos na comunidade. Vamos imprimir um papel com a foto do comandante, do sargento, dos cabos, dos soldados. Reuniões serão feitas com a comunidade e o compromisso que nós estamos assumindo é de que essa viatura, tendo um telefone, e após um chamado, chegará em no máximo cinco minutos no local onde ela foi chamada. Esse é o compromisso que nós estamos assumindo. E isso é perfeitamente possível. Nós estamos com a previsão de 100 equipes como essa. E os investimentos necessários já estão levantados, algo em torno de R$ 26 milhões, e um custeio de R$ 2,5 milhões. O nosso desejo é de que esse sistema se inicie a partir dos novos policiais que serão chamados, ingressos através de concurso público.
Existe uma preocupação muito grande com relação às Parcerias Público Privadas (PPP), que são consideradas pelos sindicatos como uma possibilidade de privatização da Cagece. Queria a opinião do senhor sobre isso.
Não tenho nenhum entusiasmo por privatização. A Cagece é uma empresa pública que tem bons resultados, que precisa melhorar um pouco a sua capacidade de investimento em diversas fontes de recursos. Não tenho nenhum desejo, e assumo aqui o compromisso de que a Cagece permanecerá como empresa pública e patrimônio dos cearenses. A própria Cegas, por exemplo, que já está com a autorização para a privatização. Se não for privatizada, eu não privatizarei.
O senhor teria privatizado o BEC?
Houve praticamente uma imposição federal para que os bancos estaduais fossem privatizados. Se não tivesse essa imposição, e o BEC estivesse saneado, eu não privatizaria. Porque acho importante que o Estado tenha uma agência de fomento que possa, em cima de critérios rigorosos, fazer financiamentos e incentivar determinados setores tão estratégicos para o crescimento.
O Fundo de Combate à Pobreza (Fecop), criado pelo governo Lúcio, foi polêmico porque aumentou o imposto sobre energia e combustível, por exemplo. O senhor vai manter o Fecop?
Eu devo manter o Fecop, agora vamos reorientar a aplicação dos seus recursos. O Fecop deve estar arrecadando hoje algo em torno de R$ 180 milhões. E os investimentos tão sendo feito muito sem planejamento, para não dizer algo mais grave. Muito em função de demandas individuais, de demandas até com influência política.
Que influências políticas, candidato?
Você quer que eu cite um caso? No município de Quiterianópoles, por exemplo. Foi procurado lá o prefeito para que, se ele ficasse apoiando os candidatos do governo, ele teria lá 100 casas populares. Ele não aceitou. Foram e ofereceram a uma liderança de oposição, e essas casas estão sendo feitas. Em vez de ser pela prefeitura, tão sendo feitas por uma associação comunitária ligada a um ex-prefeito do município, que reza na cartilha do poder. Isso é um dado que eu dei aqui há um ano. É só ir em Quiterianópoles e ver lá. Não tem um planejamento, não tem critério, é feito ao sabor das demandas e, muitas vezes, com finalidade política.
Sobre o programa de incentivo à atração de empresas, o que tem sido utilizado até o momento é a renúncia fiscal. O que seria necessário a mais para atrair empresas para o Estado?
O modelo de renúncia fiscal esgotou-se, pelo simples fato de que quase todos os estados da federação adotaram o mesmo modelo. Então nós temos que repensar uma nova política. Acho que a gente não deve simplesmente desistir de procurar atrair empresas aqui, pro Ceará. Agora, vai ter que ser de uma forma diferente. Imagino eu que uma pressão junto ao governo federal para que recrie a sua política de redução das desigualdades regionais, com a recriação da Sudene, com a manutenção do Fundo de Desenvolvimento Regional na Sudene… E naturalmente isso é um trabalho de pressão política.
Como o senhor tem visto a estratégia do governador de se vincular ao presidente Lula?
Acho que a população sabe discernir o que é oportunismo do que é efetivamente uma coligação. A nossa coligação dá base de sustentação ao presidente Lula. O presidente já esteve aqui participando de um evento político, dizendo que apóia, pediu votos pro Inácio e pra candidatura a governador. Acho que é um fato justificável ele (Lúcio) querer dizer que um governo dele não teria impedimento de fazer parceria com o governo federal. Acho isso razoável. Mas o que estaria por trás, ou uma eventual tentativa de confundir a opinião pública, acho isso um fato desleal, desonesto.
O senador Tasso Jereissati rompeu politicamente com o governador. E todos sabemos que o senador é muito próximo ao seu irmão Ciro Gomes. Caso o senhor seja eleito, existe alguma possibilidade de o Tasso ser um aliado de seu governo?
Veja bem, o meu compromisso é com o povo cearense. Esse é meu único compromisso. As forças que me apóiam são públicas, não estou escondendo ninguém. No mais, teria eu que discutir questões internas de outros partidos. Me perdoe, mas não é o meu estilo. Não gosto de ficar falando sobre isso. O outro partido lá já tem tanto problema que…
O senhor aceitaria o apoio do senador Tasso em seu governo?
Não vou falar sobre hipótese, não tem cabimento.
Naquela famosa reunião em Brasília, que resultou na briga entre o governador Lúcio e o senador Tasso, o senhor foi realmente sondado para ser o candidato ao governo do senador Tasso?
Não. Nunca fui.
Fonte:jornal O POVO