Jarbas está do lado da elite que explora o povo, diz Luciano Siqueira
A propaganda eleitoral gratuita está sendo exibida há apenas uma semana. Mas, já rendeu polêmica em Pernambuco, sinal de uma disputa polarizada no estado. Em entrevista ao Vermelho, o comunista Luciano Siqueira, candidato a senador pela chapa Melhor pra P
Publicado 21/08/2006 20:55
Foi negado na última quarta-feira, dia 16 de agosto, o pedido de liminar solicitado pela chapa União por Pernambuco (PMDB / PTN / PPS / PFL / PHS / PSDB), que pedia o direito de resposta devido ao programa de tv do candidato ao Senado Luciano Siqueira, da coligação Melhor pra Pernambuco (PT / PCdoB / PTB / PAN / PMN / / PRB). Na propaganda, é mostrada uma matéria publicada em jornal local em que Jarbas Vasconcelos (PMDB) teria se posicionado contra o Bolsa Família. A inserção explicava que a posição do peemedebista baseava-se no fato de que o programa do governo federal “retira mão-de-obra dos usineiros”. “Apóio-me numa declaração que ele deu e não desmentiu. Partimos de sua afirmação para defendermos o Bolsa Família e pedir ao telespectador que distinga de que lado ele está e de que lado nós estamos”, disse Luciano Siqueira em visita a São Paulo. O candidato ao Senado concedeu uma entrevista ao portal Vermelho em que ele fala sobre a disputa local e os eixos fundamentais de sua campanha. Veja abaixo os principais trechos da conversa.
A representação de Jarbas
É o ensaio do tipo de campanha que Jarbas vai fazer, marcada pelo autoritarismo e pela arrogância. A despeito de ter sido um importante lutador contra a ditadura, o ex-governador traz em sua trajetória política o perfil de um líder que impõe sua vontade pela força, e não pela persuasão. Portanto, rejeita sempre a crítica qualificada que nós fizemos. O que me surpreendeu em seu gesto é que ele vinha prometendo ter uma conduta amena e respeitosa — e tem dito estar certo de que de nossa parte ele teria o mesmo.
Tanto que, na crítica que faço na inserção, não existe nada de pessoal. Apóio-me numa declaração que ele deu e não desmentiu. Partimos de sua afirmação para defendermos o Bolsa Família e pedir ao telespectador que distinga de que lado ele está e de que lado nós estamos. Ele se encontra do lado da elite que explora o povo, enquanto nós estamos do lado do povo, trabalhador e pobre. Isso gerou a representação junto ao TRE e ocupou as páginas dos jornais.
As opções da esquerda
A unidade não é uma regra absoluta, sobretudo quando se trabalha com a possibilidade de dois turnos. No período pré-eleitoral, havia três candidatos ao governo no campo progressista: Humberto Costa (PT), Eduardo Campos (PSB) e Armando Monteiro Neto (PTB), que propunha um único candidato ao senado, comum aos três. Mas, ele desistiu da candidatura — e seu partido, ao lado do PMN, juntou-se a nós. A unidade no primeiro turno não é fundamental porque, do lado de lá, os conservadores só têm um candidato a governador, Mendonça Filho (PFL). A tática eleitoral da oposição é provocar um segundo turno e então formar a maioria eleitoral necessária para reconquistar o governo do estado.
A desvantagem é que, para o Senado, só há um turno. Divididos, a batalha fica mais difícil. Jorge Gomes (PSB), da Frente Popular por Pernambuco, e eu estamos muito afinados, sabendo qual é a missão de cada um. Combinamos trabalhar uma pauta comum no que diz respeito à crítica ao ex-governador. Nós, do PCdoB, costumamos dizer que as oposições, no plano estadual neste primeiro turno, estão separadas, mas não dividas. As divergências são mínimas e as convergências, essenciais.
Governo x Senado
O que polariza as eleições é o Poder Executivo. E agora a eleição é geral, puxada pela Presidência da República. Só não estão em disputa os cargos para prefeitos e vereadores. É natural que a disputa pelo Senado fique em segundo plano. No caso de Pernambuco, inicialmente a diferença da intenção de voto apurada nas pesquisas é tão largamente favorável ao ex-governador que, do ponto de vista jornalístico, naturalmente ocupa um espaço secundário no dia-a-dia. Além disso, há um esquema de blindagem na mídia local em relação ao ex-governador. Por isso, uma crítica a Jarbas Vasconcelos precisa ser muito bem-feita, de tal maneira que se torne um fato jornalístico tão evidente que não dê para ocultar, como foi essa ação contra minha candidatura.
A candidatura rompe o silêncio
Não está previsto debate com candidatos ao Senado na TV. Então, não é fácil. Acho que só vamos romper essa barreira de silêncio com relação às candidaturas ao Senado, na mídia, se conquistarmos oportunidades, gerando fatos jornalísticos irrecusáveis. Isso significa combinar campanha de rua com campanha de televisão e rádio de maneira entrosada — e um aguçado descortino tático, para perceber que movimentos fazer para provocar uma reação do adversário que, por si mesma, fuja da normalidade. E, no nosso caso, vamos tentando sem agressões e sem nos afastarmos da crítica qualificada.
Já fizemos isso abordando temas concretos de ressonância entre o povo em torno dos quais a conduta e a opinião do ex-governador são conhecidas, assumida e visivelmente equivocadas. Com a campanha nas ruas e com o bom uso do horário em TV e rádio, podemos aumentar a adesão dos eleitores. Jorge Gomes e eu temos consciência de que precisamos crescer. Dessa forma, enfraquecemos Jarbas — e estaremos enfraquecendo indiretamente a candidatura do atual governador, que tem no Jarbas o seu principal fiador. Considero que estamos cumprindo uma missão cujo resultado deve ir além da aritmética dos votos.
Contradições do eleitorado
Se olharmos pesquisas de todo Brasil, vamos perceber que Lula dispara na frente, especialmente no Norte e no Nordeste, onde beira os 70%. No entanto, a exemplo de Pernambuco e Bahia, os governadores que estão na frente não são os que apóiam Lula. Isso vale para dentro do estado também. Na eleição atual (em Pernambuco), há esta desconexão. Tenho a impressão de que é a força do fator local, pelo próprio perfil da sociedade brasileira. O regionalismo ainda se expressa muito na política institucional e tem reflexos no voto. Não é à toa que só o PCdoB é um partido uno nacionalmente. Isso pode ser um elemento.
Acho que esse desencontro tem a ver também com o nível de consciência do eleitorado. A compreensão de que existem dois projetos políticos diferentes ainda é circunscrita às parcelas mais esclarecidas da população. A grande massa do eleitorado tende a enxergar pessoas ou certas variáveis que desviam sua atenção de uma visão política mais coerente. Só com o tempo — e com a elevação do nível de consciência de nosso povo — é que esse quadro vai se alterar.
Propostas para o desenvolvimento de Pernambuco
Escolhi duas questões como tema-central de nosso discurso na área de desenvolvimento: a defesa da ferrovia Transnordestina — ligando o sertão de Pernambuco ao Maranhão, fator importante para o desenvolvimento regional e do estado — e a transposição das águas do São Francisco. O desenvolvimento econômico em Pernambuco é muito desigual. A cabeça está na região metropolitana, que concentra Recife e mais 13 cidades, principalmente a metropolitana sul, onde está o Porto de Suape. Temos também o pólo de Petrolina, na região do São Francisco, o pólo gesseiro na região do Araripe e o pólo de confecções no nordeste setentrional.
A proposta de Humberto Costa de interiorização do desenvolvimento apóia-se no fato de que os investimentos em Suape, a transposição e a Transnordestina dão oportunidades, através das cadeias produtivas possíveis, para gerar oportunidades de empreendimentos nas outras áreas do estado, ampliando assim as atividades econômicas e a oferta de emprego e reduzindo a desigualdade intra-regional. Por isso, como senador, trabalharia no sentido ajudar o governo federal a ter autorização do Senado e os recursos necessários para implementar a construção da Transnordestina e a transposição.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte
com colaboração de André Cintra