Santa Catarina: PCdoB em luta contra as oligarquias
A nova configuração de alianças políticas pode surpreender.
O quadro político eleitoral no Estado de Santa Catarina se definiu em torno de uma grande contradição: o possível retorno das forças oligárquicas (PFL e a família Bornhausen) ao Govern
Publicado 27/07/2006 12:51 | Editado 04/03/2020 17:15
O PCdoB em sua resolução política, aprovada na ocasião de sua convenção eleitoral, destaca que a batalha entre o avanço democrático e mudancista e o retrocesso neoliberal colocado pela disputa nacional, se intensifica em Santa Catarina.
Este quadro evidenciou a necessidade de derrota das forças políticas conservadoras oligárquicas, capitaneadas pelo senador catarinense Jorge Bornhausen (PFL) e a nova direita neoliberal comandada pelo Senador Leonel Pavan (PSDB).
A história política das últimas décadas em SC mostra que a disputa pelo governo sempre alternou entre a direita conservadora e o centro. As vitórias do centro (PMDB) historicamente se deram com o apoio dos partidos de esquerda e do chamado campo democrático-popular, ao passo que seus governos sempre tiveram por base de apoio setores da direita.
No entanto, esta eleição inova esta tendência a partir do posicionamento de LHS que desloca o PMDB catarinense para a direita, aliando-se já de primeira hora com o PFL de Bornhausen e com o PSDB de Leonel Pavan, postando-se no apoio à candidatura neoliberal de Alckmin para o governo federal.
No quadro da disputa eleitoral figura ainda o candidato do PP, Esperidião Amin, bem situado nas pesquisas de opinião, mas com um certo isolamento, construído por LHS.
O PCdoB luta pela eleição de um governo de esquerda em Santa Catarina, comprometido com o projeto de mudanças de Lula. Compôs uma frente com o PT, PL e PRB, tendo o ex-Ministro e ex-prefeito de Chapecó José Fritsch como candidato a Governador e a Deputada Federal do PT, Luci Choinacki ao Senado. O PCdoB indicou para a 1º Suplência do Senado o vereador de Criciúma, cidade do sul de Santa Catarina, Douglas Mattos.
O projeto político eleitoral dos comunistas catarinenses é de eleição de no mínimo um(a) Deputado(a) Estadual e conquistar o máximo possível de votos na chapa federal contribuindo para o desafio de enfrentar a Cláusula de Barreira. Diante disso lançou a candidatura de César Valduga e Tiago Andrino a deputado federal e de Ângela Albino e Paulinho da Silva a deputado(a) estadual.
Os quatro candidatos e a candidata do PCdoB nestas eleições em Santa Catarina são dirigentes do PCdoB e expressivas lideranças em suas áreas de atuação. Douglas Mattos é Advogado, está em seu terceiro mandato de Vereador em Criciúma, sendo reeleito com uma das maiores votações do município, iniciou sua atuação política ao lado de Aldo Rebelo na União Nacional dos Estudantes; Angela Albino é Vereadora em Florianópolis, Coordenadora da União Brasileira de Mulheres e diretora licenciada do Sintrajusc; Paulinho da Silva é Vereador em Chapecó, oeste catarinense, foi o mais votado em 2000 e o 2º mais votado em 2004, com 1687 e 2642 votos respectivamente; César Valduga é bancário desde 1982 e diretor do Sindicato dos Bancários de Chapecó e Região. Em 2004 foi eleito Vereador em Chapecó com 3115 votos, sendo a maior votação da história do município; Tiago Andrino tem 25 anos, cursa Direito e é presidente licenciado da União Catarinense dos Estudantes (UCE). É membro da direção nacional e vice-presidente estadual da UJS. Em 2006, foi indicado membro do Conselho Estadual de Educação.
Segundo o presidente do Comitê Estadual do PCdoB, Jucélio Paladini, a militância está chamada à campanha, ''pois o país precisa, para derrotar o retrocesso e as forças conservadoras, da pujança, da posição avançada dos militantes do PCdoB'', afirma Paladini.
Acompanhe a entrevista com o principal dirigente político do PCdoB na batalha eleitoral de 2006 no Estado de Santa Catarina.
Jucélio Paladini
Presidente do Comitê Estadual do PCdoB/SC
Vermelho: Qual a avaliação do quadro político em Santa Catarina?
O Estado de Santa Catarina sempre teve, ao longo a história, eleições para o governo do estado polarizadas entre direita e esquerda, e sempre que o centro juntou-se à direita venceu a eleição, da mesma forma que quando o centro aliou-se a esquerda também venceu as eleições.
Vermelho: Esta fórmula se repete em 2006?
Não! Este ano, nestas eleições de 2006, teve uma alteração por conta que, já no primeiro turno, o centro, ou seja, o PMDB, foi buscar parte da direita: o PFL e o PSDB. Esse alinhamento do PMDB com as velhas oligarquias de Santa Catarina é um componente novo no processo eleitoral do Estado.
Vermelho: Como avalia esta mudança? O Luiz Henrique da Silveira (LHS) foi eleito para derrotar as oligarquias e agora se uniu a elas para vencer esta eleição. Como você avalia esse processo?
O governador LHS tem um perfil próprio dele, não tem um projeto nacional, já é particularmente coisa do PMDB: um partido regional. O LHS pensa da ótica dele, e ele caminha no sentido de nunca perder uma eleição. Para isso trabalha para abrir portas. As eleições em Joinville (maior cidade catarinense) muito particularmente as duas últimas eleições dele e de modo ainda especial à reeleição dele, foi um pouco da construção que ele fez no Estado agora. LHS abriu as portas pra o PSDB e PFL. Lançou o atual prefeito de Joinville (Marcos Tebaldi – PSDB) e, de certa forma, digamos assim, aniquilou o PMDB naquele município. Hoje o PSDB é que tem as principais lideranças da cidade, diga-se de passagem, Joinville é berço do PMDB, e teve grandes lideranças lá, o próprio LHS, o Pedro Ivo (ex-governador) e tantas outras. Esta é um pouco da realidade, a tríplice aliança (PMDB, PSDB e PFL), quem está em destaque é exatamente o PFL e o PSDB. Siglas que cresceram muito nas últimas eleições, no processo eleitoral, dirigem as principais prefeituras do Estado, impulsionadas também pelo LHS. Por outro lado, um quadro e uma possível derrota do LHS e do candidato ao senado pela aliança o ex-prefeito da cidade de Lages, Raimundo Colombo (PFL) tende a criar uma crise generalizada no PFL e no PMDB.
Vermelho: É possível uma derrota do LHS?
É possível. O processo eleitoral está se iniciando, o candidato do PP, Esperidião Amim, que tem sua origem nos setores conservadores de Santa Catarina, tem um grande potencial eleitoral, apesar de todo o esforço do LHS em tentar o isolar politicamente, as primeiras pesquisam indicam a força eleitoral dele. No outro campo, democrático e popular, a nossa própria coligação ''A Força do Povo'' com José Fritsch, que tem espaço sobretudo com a candidatura de Lula, se souber casar, digamos assim, com o eixo da candidatura de Lula, tem espaço político, no mínimo um terço do eleitorado de Santa Catarina vai posicionar-se em favor de Lula e se conseguir colar, poderemos ter êxito. Considero que se LHS não vencer no primeiro turno, vai ser muito difícil vencer esta batalha no segundo turno, principalmente se não terminar o primeiro turno pra cima de 45% dos votos. Será uma tarefa inglória para ele.
Vermelho: Qual a expectativa em relação à campanha do PCdoB neste processo eleitoral?
O PCdoB, evidentemente que tem todas as dificuldades de um Partido pequeno ainda, se contar com Deputado Estadual, isso ajudaria muito para o PCdoB. Considero que das eleições gerais que participamos no Estado, pós-reorganização do Partido em 85, tenho absoluta certeza que é a eleição que nós disputamos em melhores condições. Lançamos quatro candidaturas com perspectivas eleitorais, com bom desempenho, liderança e perspectivas. Não utilizamos a tática de concentrar e quando concentramos também tivemos enormes dificuldades em buscar eleger. Temos tudo, o Partido está imbuído do espírito de, no mínimo, sair desta eleição com um Deputado ou uma Deputada e um suplente de Senador, o nosso candidato Douglas Mattos (PCdoB), através da candidatura da Deputada Federal do PT, Luci Choinacki. Essa candidatura ao Senado tem plenas condições de vencer esta batalha. Luci é uma companheira que se identifica, inclusive com o perfil de Lula. portanto, com o eleitorado de Lula. Que claramente se desloca para os setores menos favorecidos, mais empobrecidos da população. A história de vida de Luci se assemelha muito a de Lula. A faixa de eleitorado da Luci é muito semelhante. Portanto com grandes possibilidades, e claro a uma vitória política em Santa Catarina, substituir Bornhausen (PFL) por Luci (PT) e, evidentemente o PCdoB tem seu primeiro suplente, com o compromisso de que Douglas assuma no mínimo oito meses de mandato se a eleição se realizar.
Vermelho: Qual vai ser a linha política do partido? Vai ser o ataque a oligarquia? O que se pretende na política, do ponto de vista do projeto político eleitoral do Partido?
O PCdoB quer o avanço, luta com o seu projeto nacional de avançar no rumo das mudanças. Portanto nega e vai dar até a última gota de sangue e suor para que o Brasil avance e o Estado de Santa Catarina avance. Vamos trabalhar de forma ampla para que não volte às velhas oligarquias ao Governo. O ''tucanato'' e o PFL são um retrocesso para o Brasil. Nesta parte, evidentemente, não foi possível construir a aliança que o PCdoB entendia como a mais apropriada. Mas diante do quadro formado nos resta concentrar todas as energias, ampliar e trabalhar para conseguir unificar os setores democráticos e populares, trazendo inclusive parte da base do PMDB, sobretudo que é uma base progressista, tem uma história progressista. Trazer para que possa compor e apoiar a candidatura de Lula e a candidatura da Luci a militância do ''velho MDB de guerra'' Uma militância que identifica as oligarquias e a atual quadra de disputa no Estado: de um lado os setores democráticos e populares de outro lado às oligarquias. Sabendo trabalhar, tem espaço político para isso.
Vermelho: Qual seu recado para a militância do PCdoB?
Cabe conclamar ao conjunto da militância do PCdoB, os companheiros e companheiras mais esclarecidos(as) politicamente. Temos o compromisso, por que a eleição tem hora e dia para começar e para terminar. Temos basicamente dois meses de eleição para chamar rapidamente, digamos, conclamar a grande militância do Partido para a batalha. Cada dia perdido é um prejuízo enorme. A gente precisa se incorporar aos vários Comitês de campanha e as várias formas de fazer campanha. O PCdoB sempre teve em sua militância um dos elementos mais preciosos, tanto nas lutas que trava e neste processo da batalha que nós estamos vivenciando para 2006. Portanto, para derrotar o retrocesso, as forças conservadoras, a sociedade precisa da pujança e da posição avançada dos militantes do PCdoB.
De Florianópolis
Vinícius Puhl
Colaborou Vandreza Amante