“Força multinacional” dos EUA levará mais guerra ao Líbano

Por José Reinaldo Carvalho
Foi um fracasso a Conferência de Roma do chamado Grupo do Líbano. Ela tinha um vício de origem: o Grupo  surgira como arranjo de última hora, por iniciativa de inimigos do povo libanês, quando do assassínio do ex-premiê

A Conferência de Roma foi convocada para esta terça-feira (25) na base do improviso, à falta de outra instância capaz de se reunir para abordar com frontalidade e visão multilateral a crise no Oriente Médio. A representante do imperialismo norte-americano, Condoleeza Rice, não só demonstrou com clareza de que lado está, reiterando o invariável apoio estadunidense a Israel. Ela também transmitiu aos seus interlocutores e ao mundo que os Estados Unidos se opõem ao cessar-fogo, a menos que as forças da resistência nacional libanesa sejam liquidadas, mesmo que isto custe a destruição do Líbano.



Quando a titular do departamento de Estado dos EUA afirma que “o cessar-fogo não pode levar ao estado de coisas anterior”, está na verdade defendendo que a guerra israelense deverá continuar até que esse Estado-bandido, cabeça-de-ponte na região, se apodere em definitivo do sul do Líbano e lá estabeleça um enclave militarizado.



Proposta indecorosa



Os imperialistas estadunidenses estão agora articulando apoio político e diplomático para a proposta indecorosa de enviar para o sul do Líbano uma  “força multinacional”, que  estabeleceria as condições que conduziriam ao fim do conflito. Será uma força a mais de ocupação, uma linha auxiliar do exército e da aviação assassinos de Israel. Sua finalidade precípua será dar status de “multilateralismo” à perseguição contra as forças da resistência e cobertura para o tenebroso plano de tutelar um Líbano rendido e destroçado.



Não cabem dúvidas de que a “força multinacional” levará mais guerra e não a paz ao Líbano e à região. É óbvio que se tornarão alvo do combate das forças da resistência, que se no Ocidente são tidas como “terroristas” devido à manipulação da opinião pública pelos meios de desinformação, mas são cada vez mais enaltecidas como libertadoras no Líbano e em todo o Oriente Médio.



A proposta de criar a força multinacional surge simultaneamente com a campanha pela aplicação da resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, de setembro de 2004, que determina a desmobilização das milícias no sul do Líbano. Trata-se de uma resolução claramente anti-Hezbolá, já tornada sem efeito pela evolução dos acontecimentos.



A propósito, a “comunidade internacional”, tão ciosa da referida resolução, contribuiria mais para a pacificação do Oriente Médio se forçasse Israel a aplicar a resolução 194, que reconhece aos palestinos o direito de retornar aos seus territórios usurpados. Na crise atual, o primeiro dever das Nações Unidas e dos governos democráticos seria a condenação inequívoca a Israel pelos ataques ao Líbano e a exigência de interrupção dos bombardeios. A aquiescência com a criação da “força multinacional” proposta pelos Estados Unidos seria mais um golpe na já combalida autoridade da ONU, que Bush, ao atacar o Iraque, considerou organização irrelevante.



A escalada do imperialismo



A guerra israelense contra o Líbano é mais um episódio da escalada do imperialismo norte-americano para a “reestruturação do Oriente Médio”, proclamada como prioridade pela Administração Bush. O imperialismo norte-americano conta com Israel como aliado decisivo e dá mostras cada vez mais eloqüentes de que  não se deterá diante de nada para dominar essa região estratégica, ainda que isto custe a destruição de países e o extermínio de povos.



A guerra dos bandidos israelenses fere profundamente a alma do povo brasileiro, porquanto são brasileiros milhares e milhares de libaneses e seus descendentes  que vivem e vão e vêm freqüentemente ao  País do Cedro passar temporadas. Há um pedaço do Brasil no Líbano e vice-versa.  O ingente esforço da diplomacia brasileira para transportar os cidadãos brasileiros quase foi baldado porque o governo do Estado-bandido de Israel criou dificuldades. Segundo declarou o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, Israel não ofereceu garantias de que os brasileiros que atravessaram a fronteira estariam em segurança. Só isto justifica que cresça o clamor pela retirada de nossa embaixada daquele país.