ONU: Desigualdade mundial aumentou por causa da globalização
A desigualdade na distribuição de renda entre países ricos e pobres está crescendo, e precisa ser combatida para evitar uma desestabilização global, revelou uma pesquisa da ONU divulgada na sexta-feira.
Publicado 30/06/2006 14:49
A Pesquisa Econômica Mundial, divulgada ao mesmo tempo em que ministros da área econômica reúnem-se em Genebra para mais uma Rodada de Doha, divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) responsabiliza a globalização que esses mesmos ministros procuram intensificar. "Sob vários aspectos, a desigualdade mundial está crescendo", disse o estudo.
Um europeu ou norte-americano médio é 35 vezes mais rico que seu equivalente etíope. Em 1950, a diferença de renda era menor que 16 vezes, afirmou a pesquisa. Um cidadão médio americano tem uma renda 27 vezes maior que a do nepalês médio. Em 1950, a diferença era de 19 vezes, de acordo com o relatório elaborado pelo Departamento de Questões Econômicas e Sociais da ONU.
"A maioria dos países mais pobres do mundo está ficando para trás, em níveis semelhantes ou piores", disse o documento. "O principal motivo é que, no mundo industrializado, o nível de renda veio crescendo continuamente nas últimas cinco décadas, mas não conseguiu fazer a mesma coisa em muitos países em desenvolvimento".
Embora alguns países, como China e Índia, escapem da tendência, o aumento na distância entre ricos e pobres contradiz a idéia propalada pela grande mídia de que a diferença de renda se reduziria com a maior integração da economia mundial, afirmou a pesquisa.
"O crescimento da desigualdade global é em parte explicado pelo processo de globalização … por imperfeições que caracterizam os mercados globais e que são combatidas de forma inadequada por políticas e regulamentações globais".
O crescimento mais lento dos países pobres "obstrui os esforços para erradicar a pobreza e, em alguns contextos, demonstrou ser uma grande fonte de conflitos regionais, problemas domésticos e instabilidade social", disse o estudo, que tem 185 páginas.
Os neoliberais que defendem a "liberalização do comércio" alegam que a abertura dos mercados para bens e serviços — o objetivo da Rodada de Doha, cujas negociações foram iniciadas em 2001 para supostamente "impulsionar" as economias dos países mais pobres — é essencial para reduzir a pobreza.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, ministros de cerca de 60 países, ou quase um terço dos integrantes do órgão, estão reunidos para tentar reduzir as divergências entre si.
As reformas econômicas não precisam ser tão radicais . "A experiência da China e do Vietnã indica que reformas cumulativas, quando têm credibilidade e são vistas como passos na direção de novas mudanças, podem ser muito eficazes para levar a um crescimento sólido e sustentável", afirmou o texto.