Terminou a CPI dos Bingos. Por 12 votos a 2, foi aprovado o relatório final do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).
Garibaldi não cedeu à pressão da oposição e deixou de fora os pedidos de indiciamento de Gilberto Carvalho e José Dirceu. Era tudo o que a oposição não queria.
Durante a sessão, senadores de PFL, PSDB e PDT fizeram um apelo a Garibaldi para incluir, pelo menos, Carvalho pelo envolvimento no esquema de caixa dois na prefeitura do PT em Santo André. Garibaldi não aceitou. Disse que não tinha provas contra ele e pediu desculpas por isso.
A tentativa de cooptar o relator fez a votação do relatório, que estava marcada para as 11h, ser empurrada para as 15h. O presidente da CPI, Efraim Moraes (PFL-PB), estava disposto a começar a votação somente depois de Garibaldi aceitar as condições dos oposicionistas. Como a situação começou a ficar constrangedora, Efraim foi obrigado a encaminhar a votação.
"Contrariei toda a assessoria técnica da CPI porque queriam me induzir a tipificar o crime de Gilberto Carvalho. Recebo apelo, mas não recebo pressão", reclamou o senador Garibaldi Alves.
A única alteração feita por Garibaldi foi a retirada de seu relatório das propostas de regulamentação das casas de bingos. Elas serão encaminhadas, como projeto de lei, à Secretaria Geral da Mesa do Senado. Com isso, todos os projetos sobre o assunto que estão na Casa tramitarão em conjunto com o do relator, favoráveis ou não ao funcionamento dos bingos.
A oposição, se quisesse, poderia aprovar um relatório paralelo do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) que incluía os dois indiciamentos e fazia pesadas referências ao governo Lula. Mas não quis pagar para ver.
Nos bastidores, a base aliada do governo, temendo que o relatório de Garibaldi pudesse ser substituído pelo de Dias, também resolveu descarregar seus votos a favor do texto de Garibaldi.
Como prêmio de consolação para a oposição, Garibaldi alfinetou Lula e o PT: “Eu estou sendo combatido e hostilizado pela base do PT no meu Estado. Não estou aqui para agradar o presidente Lula”, disse.
Foi a senha para a aprovação de seu relatório.
Os representantes do PMDB, do PL, do PCdoB e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) votaram a favor do relatório. Apenas os senadores petistas Tião Viana (AC) e Ana Júlia Carepa (PA), para marcar posição, foram contrários ao documento.
O relatório aprovado não contém nada que possa impor constrangimentos incontornáveis para Lula, o alvo que a CPI do Fim do Mundo não conseguiu atingir.
Viana: relatório pífio
Tião Viana considerou "pífio" o documento aprovado. "É um relatório pífio do ponto de vista da sua sustentação constitucional e regimental. Segundo ele, a CPI dos Bingos "rasgou o Regimento e a Constituição" ao não atender ao fato determinado e ao objeto formal da comissão (a ligação dos jogos de bingo com o crime organizado e a lavagem de dinheiro).
O senador petista criticou a oposição por ter, segundo ele, se apegado a uma "estratégia de ordem eleitoral". Viana acrescentou que o partido não recorrerá ao Supremo Tribunal Federal contra as conclusões do relatório. "Não houve envolvimento partidário, agora cabe a cada indiciado fazer a sua defesa", acrescentou o senador.
O relatório de Garibaldi será agora enviado ao Ministério Público. Ele
sugere o indiciamento de quatro empresas e 79 pessoas. Entre elas Paulo Okamotto, que pagara dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. O presidente não tem, porém, com o que se preocupar.
Okamotto foi ao rol de candidatos a indiciamento não por ter liquidado, de forma absolutamente legal, a dívida de Lula com recursos cuja origem a comissão não pôde investigar. Acusaram-no de outras coisas: lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária.
Documento enviado à CPI pelo Coaf, órgão do Ministério da Fazenda que monitora movimentações financeiras suspeitas, detectou operações atípicas feitas em nome de uma empresa de Okamotto. A comissão pediu à procuradoria que aprofunde as investigações.
Os oposicionistas atuaram durante toda a CPI para transformá-la num instrumento de desgaste do governo Lula. Os nomes de Dirceu e Carvalho entre os indiciados seria o troféu que a direita queria erguer. Mas não conseguiram. Para não parecer que foram derrotados, pousaram para fotos ao lado do relator fazendo pose de campeões da ética e da moral.
Mas, no fim das contas, quem mais saiu lucrando com a aprovação do relatório foi mesmo o governo. A CPI termina de forma melancólica, sem contar com a cumplicidade inicial que a mídia lhe dava (a votação do relatório sequer foi transmitida ao vivo pela Globo News) e a oposição fica sem um importante palco para encenar o costumeiro espetáculo do denuncismo.
Agora, a luta entre oposição e governo se transfere para o ringue da campanha eleitoral, onde Lula, por enquanto, está nocauteando o adversário, com chances de derrubá-lo já no primeiro round.
Da redação,
Cláudio Gonzalez.
Colaborou: Márcia Xavier.