Governo paulista negociou com PCC, diz ex-secretário
Diante da maior crise de segurança do estado de São Paulo, o governo paulista recuou, negociou com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e só então conseguiu contornar a situação. O que era especulação
Publicado 27/05/2006 12:55
Nas últimas duas semanas, as atenções da sociedade se voltaram para a crise da segurança no Estado de São Paulo, marcada pela série de ataques e rebeliões atribuídos ao PCC. Entre os dias 12 e 18 de maio, 293 ataques deixaram 125 mortos, sendo 31 policiais civis e militares, 3 guardas civis, 8 agentes penitenciários, 4 civis e 79 suspeitos. Além disso, a megarrebelião que atingiu 87 unidades prisionais do Estado, entre penitenciários, centros de detenção provisória e cadeias, deixou 18 detentos mortos.
O PCC determinou o fim das rebeliões nos presídios do Estado e a suspensão dos atentados a quartéis, delegacias policiais, fóruns, agências bancárias, ônibus e estações do metrô. A ordem teria sido dada após uma longa conversa, no domingo, entre o líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola; a advogada Iracema Vasciaveo; o corregedor da Administração Penitenciária, Antonio Ruiz Lopes; o delegado José Luiz Ramos Cavalcante; e o coronel Ailton Araújo Brandão, chefe do Comando de Policiamento do Interior da região de Presidente Prudente. O governo, no entanto, negava sempre que teria acordado com o PCC.
Críticas – Nagashi Furukawa não usou o termo “acordo” em sua entrevista à “Folha”, mas deixou vários indícios de que a segurança pública paulista está desestruturada e mal organizada. A ação do PCC deixou o governo em xeque, e a negociação parece ter sido a última cartada da Secretaria de Administração Penitenciária.
Confira os trechos mais reveladores da entrevista:
Há indícios que apontam negociação do governo com o PCC para encerrar os ataques e rebeliões: a conversa do Marcola com sua advogada dentro da prisão, a … [Furukawa interrompe]
É evidente que houve negociação. O que não houve foi acordo. O Estado não cedeu. A advogada Iracema Vasciaveo apareceu dizendo que tinha contatos externos com pessoas envolvidas nos ataques e que as ações eram um sentimento de revolta por conta de notícias de que Marcola teria apanhado. Se pudesse ver que ele estava bem, a revolta iria arrefecer. Portanto, foi tomada uma decisão com toda transparência. Fui favorável. Seria uma tremenda irresponsabilidade deixar eles [criminosos] matando pessoas. Foi tão transparente que a advogada foi levada de avião pelo governo. A advogada só conversou. Nenhum pedido foi atendido.
O que Marcola e sua advogada conversaram?
A advogada se apresentou a Marcola exibindo um número, que imagino seja um código para que ele soubesse quem ela era. Eles não se conheciam. Ele disse que não poderia mandar parar os ataques, porque não teria sido ele quem os determinou. Disse também que não sofreu tortura nenhuma.
O senhor perdeu a queda-de-braço com o secretário da Segurança, Saulo Abreu Filho?
Não há vencidos nem vencedores nesta história. O governador é que precisa afinar a atuação destas duas secretarias, que é imprescindível para o sucesso no combate ao crime organizado. Venho sentindo há muito tempo que há necessidade de um entrosamento melhor entre as entidades e que a minha presença dificultaria esse entendimento. Era o momento de parar.
Pode ser mais específico?
Há uma dificuldade de entendimento entre a minha pessoa e o secretário. Não por culpa dele e, creio, não por culpa minha. Pensamos diferente. Temos visões diferentes da vida, ideologias diferentes.
E quais foram as discordâncias com Saulo?
Não houve uma investigação forte da Polícia Civil, especialmente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde foram separados os líderes [do PCC]. Espero que agora se consiga uma sintonia nas ações. Mas não quero partir para o campo das críticas.