Os candidatos do PMDB e a lógica dos interesses regionais
Depois de tentar com Germano Rigotto, PMDB gaúcho lança agora nome do senador Pedro Simon para a presidência. “É quase um crime deixar o PMDB de fora das eleições”, diz Simon. Mas a lógica dos interesses regionais po
Publicado 24/05/2006 20:20
Depois da tentativa fracassada do governador Germano Rigotto, o PMDB gaúcho faz uma nova tentativa de emplacar uma candidatura à presidência da República, desta vez com o senador Pedro Simon. Lançado pelo pré-candidato Anthony Garotinho, que derrotou Rigotto na consulta interna do partido, Simon, em um primeiro momento, não deu muita corda à idéia, mas, nos últimos dias, vem admitindo a disposição em ser candidato. As chances são mínimas, admite o senador, mas ele agendou uma série de conversas sobre o tema. Nesta terça, em Brasília, Simon disse que levará sua pré-candidatura até a convenção do PMDB, marcada inicialmente para o dia 11 de junho. “Não vou desistir. Vou até o fim. Estou tentando fazer com que os governistas entendam que eles seguem um processo sem volta, de quase implosão do PMDB. É quase um crime deixar o PMDB de fora das eleições”, disse o senador que sonha com o apoio de outros partidos ao seu nome, entre eles, o PDT. Mas o sonho de Simon pode ter raízes regionais.
Em um tom otimista, o jornal Zero Hora estampou nesta terça (23) em sua manchete: “Itamar e negociação com PDT reforçam chance de Simon disputar o Planalto”. Na avaliação do jornal gaúcho, a desistência do ex-presidente e o apoio de líderes trabalhistas facilitariam a candidatura do senador à presidência. Mas, embora tenha anunciado sua decisão de concorrer ao Senado por Minas Gerais, Itamar Franco não abriu apoio ao nome de Simon. Já o governador Rigotto pensa em um nome para vice de Simon e sonha com uma aliança entre PMDB, PDT e PPS. “Temos de ter um vice de outro partido. Se eu fosse candidato a presidente, já estaria com tudo preparado para buscar PDT e PPS”, declarou a ZH. Uma candidatura de Simon teria apoio também do PTB gaúcho, conforme garantiu o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS). E pode residir justamente aí, o sentido da candidatura Simon: assim como ocorre em outros estados, o PMDB gaúcho estaria de olho em seus interesses regionais, no caso, o fortalecimento de suas candidaturas e de seus aliados.
Franco-atirador
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse nesta terça, em entrevista à rádio Gaúcha, que mantém sua candidatura à presidência da República e que não tem conhecimento de negociações de seu partido com o PMDB sobre uma candidatura única dos dois partidos. “Eu não tenho conhecimento dessas negociações do Itamar Franco com o PDT. Isso aí teria que ser feito pela direção nacional do PT, que não sou eu, é o presidente Carlos Lupi. Ontem à noite eu conversei com ele, falei da minha passagem pelo Rio Grande do Sul e não houve nenhum comentário sobre isso. Eu não acredito que tenha havido esse tipo de diálogo entre Itamar e o PDT”. O senador afirmou, por outro lado que se o PDT quiser que ele não concorra em nome de um possível apoio à candidatura do senador Pedro Simon à presidência, concordará com a vontade do partido. Caso não ocorra isso, Buarque disse que “não tem o direito de retirar sua candidatura”.
Como a maioria dos mortais, o ex-senador petista não acredita muito nas chances do PMDB ter candidatura própria. Simon agendou conversas com o presidente nacional da legenda, Michel Temer (SP), e com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), estes dois os principais adversários da tese da candidatura própria. Um dos principais argumentos de Simon é que, a partir da recente onda de violência em São Paulo, cresceu o desgaste de PT e PSDB e abriu-se um maior espaço para uma candidatura alternativa, a famosa terceira via. As chances do argumento sensibilizar Calheiros e Sarney são mínimas. Os dois não querem nem ouvir falar da tese de candidatura própria PMDB, devendo receber Simon por uma questão de cortesia e protocolo. Por seu lado, o senador gaúcho atua como franco-atirador. Caso o PMDB não tenha candidato próprio, ele será mesmo candidato à reeleição ao Senado, com um reforço de exposição midiática para si e também para o governador Rigotto.
PARTIDO DIVIDIDO
Simon conversou com Calheiros nesta terça. Ao sair da reunião, comentou: “Ouvi que seria muito difícil ter candidato por conta da verticalização. Saio magoado porque achei que podíamos sentar para conversar. Ele está inflexível”. O presidente do Senado repetiu ao seu colega do partido o que vem dizendo há semanas: não há tempo para improvisar uma candidatura, diante das desistências de Garotinho e de Itamar Franco. Garotinho não chegou exatamente a desistir. Foi mais o partido que desistiu dele, principalmente depois da desastrada greve de fome que expôs o PMDB ao ridículo. Calheiros, assim como Sarney, prefere que o partido fique livre para fazer alianças regionais diversificadas, fortalecendo a percepção daqueles que dizem que o PMDB deixou definitivamente de ser um partido nacional, constituindo-se em uma espécie de federação de grupos regionais, onde o pragmatismo substituiu qualquer coisa que pudesse ser chamada de identidade programática.
O noticiário mostra um PMDB que parece irremediavelmente dividido. Enquanto uma ala do partido insiste com a tese da candidatura própria, outra busca estreitar seus laços com o governo. Em uma nota divulgada nesta terça, a Agência Reuters, citando “um senador petista que pediu para não ser identificado”, afirma que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) deve ser o novo líder do governo no Senado, substituindo Aloizio Mercadante que concorrerá ao governo de SP. Jucá foi ministro da Previdência no governo Lula e deixou o cargo em meio a denúncias de envolvimento em supostas irregularidades em Roraima. “Egresso das fileiras tucanas, o peemedebista não tem, segundo avaliou a fonte do PT, um trânsito tão bom com a oposição no Senado, mas o governo espera que na liderança ele consiga manter o diálogo com o PFL e o PSDB”, diz a matéria da Reuters. Jucá é pré-candidato ao governo de Roraima e espera ter o PT como seu aliado na eleição estadual. O que unifica essas duas alas do PMDB, afinal de contas? Essa divisão não é nova mas nunca se consuma e o partido sempre permanece com um pé no governo do dia e com o outro fora.
A LÓGICA DOS INTERESSES REGIONAIS
Paradoxalmente, o PMDB gaúcho pode estar jogando o mesmo jogo que critica em outras seções regionais do partido, a saber, o jogo da defesa dos seus interesses regionais. Os peemedebistas do RS sabem bem qual é a correlação de forças do partido em nível nacional. Sabem, portanto, que as chances de emplacar uma candidatura própria são mínimas. Mesmo assim, tentaram uma vez com Rigotto e tentam agora com Simon. Se o improvável acontecer, ganharão força no cenário nacional e tentarão acertar um tiro na lua. Caso contrário, ganham exposição na mídia, procuram fortalecer a imagem de que representam a ala ética e programática do partido e ajudam a conter potenciais divisões internas na base aliada. O PDT é um exemplo disso. O candidato trabalhista ao governo gaúcho, Alceu Collares, já chamou Rigotto de “almofadinha” e fez sérias críticas a sua gestão. Diante da possibilidade de Simon ser candidato ao Planalto, Collares declarou apoio ao senador.
Com Simon fora da disputa, Collares poderia ser candidato ao Senado, com apoio do PMDB, e teria como único adversário forte o candidato do PT, Miguel Rossetto. Não seria a primeira vez que o PMDB se utiliza dessa estratégia no Estado. O nome de Simon já foi lançado à presidência da República outras vezes, sempre recebendo manifestações retóricas de apoio em vários estados e partidos. Na hora da decisão, a lógica dos interesses regionais, que não respeitou nem mesmo a figura de Ulysses Guimarães, acaba prevalecendo e Simon acaba mesmo é disputando uma vaga ao Senado. O descontentamento dos peemedebistas gaúchos com os rumos do partido em nível nacional sempre acaba subordinado aos interesses imediatos do partido no Estado. A história parece estar se repetindo agora em 2006. Seria irônico se, desta vez, o desejo manifesto pela candidatura própria fosse atendido e o partido acabasse tendo finalmente um nome para valer ao Planalto.
Fonte: Agência Carta Maior / Marco Aurélio Weissheimer