Premier palestino promete que incidentes serão superados
O premier palestino, Ismail Haniyeh, pediu, nesta terça-feira, que as forças rivais do grupo do qual faz parte, o Hamas, e do movimento Fatá, do presidente Mahmoud Abbas, mostrem sinais de moderação. Ele prometeu evitar um
Publicado 23/05/2006 12:58
Os choques entre o Hamas e o Fatá intensificaram-se desde que o governo liderado pelo grupo islâmico colocou em operação uma nova força paramilitar com 3 mil membros, na semana passada. Um porta-voz do governo disse que o gabinete palestino não desmantelaria essa força, apesar das exigências de Abbas.
"Guerra civil é uma expressão que não existe no dicionário palestino. Garanto às pessoas que esses incidentes podem ser superados", afirmou Haniyeh a repórteres antes de participar de negociações, em Gaza, entre as várias organizações. O encontro visa debelar as tensões.
A luta pelo controle da segurança na Faixa de Gaza fez surgir na mídia ocidental opiniões de que uma guerra civil é iminente, algo que poderia minar a Autoridade Palestina e reforçar os planos de Israel de impor unilateralmente uma fronteira com os palestinos, devido à "ausência" de negociadores de paz.
A milícia do Hamas enfrentou os serviços de segurança palestinos, que são comandados pelo Fatá, em Gaza, na segunda-feira. O motorista de um diplomata jordaniano acabou morto e vários civis ficaram feridos no incidente.
Líderes do Fatá disseram que as tensões continuariam enquanto a força liderada pelo Hamas não sair das ruas e enquanto continuar desafiando Abbas, que defende as negociações de paz com Israel e que pediu moderação ao grupo islâmico.
O Hamas subiu ao poder em março, após ignorar nas urnas o Fatá nas eleições parlamentares de janeiro passado. O grupo não reconhece Israel como Estado, mas aderiu a uma trégua com os israelenses 15 meses atrás.
Segundo Haniyeh, as negociações de terça-feira, em Gaza, entre o Hamas, o Fatá e outras organizações se concentrariam nos esforços para estabelecer um consenso.
"Ele pede a todos os envolvidos que dêem provas de moderação e que não usem armas no lugar do diálogo" disse Ghazi Hamad, porta-voz do gabinete de governo.
Mas Hamad afirmou que o governo estava decidido a manter a força de apoio, formada por militantes do Hamas, na Faixa de Gaza, um território onde moram 1,4 milhão de pessoas.
Maher Meqdad, porta-voz do Fatá em Gaza, disse que, no caso de fracassarem os esforços para conter a violência interna, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, teria liberdade para continuar com seus planos unilaterais de retraçar o mapa da Cisjordânia ocupada.
O representante da Jordânia junto à Autoridade Palestina, cujo motorista foi morto na segunda-feira, pediu aos palestinos que "sejam racionais" e que parem com os enfrentamentos.
"Esses enfrentamentos não servem para nada. Ao invés disso, eles destroem as conquistas obtidas pelos palestinos nos últimos dez anos", disse Yahya al-Qarala no funeral de seu motorista, referindo-se aos acordos de Oslo de 1993, que propiciaram uma pequenina autonomia aos palestinos.
O atual governo do Hamas também tenta evitar um colapso financeiro da região depois de potências ocidentais e Israel terem suspendido o repasse de de ajuda financeira e outros pagamentos devido à opinião do Hamas, que não reconhece Israel como um estado legítimo.
O ministro palestino das Relações Exteriores, Mahmoud al-Zahar, saiu de Gaza na terça-feira para visitar o leste da Ásia, onde pretende pedir ajuda e aumentar o apoio político ao novo governo. Zahar visitará a China e países majoritariamente muçulmanos como a Malásia e a Tailândia.
Os palestinos enfrentam crescentes dificuldades no momento em que Olmert faz sua primeira visita aos EUA após ter tomado posse. O premiê israelense se reunirá com o chefe da Casa Branca, George W. Bush, na terça-feira para exibir ao presidente americano seus planos para a Cisjordânia, que incluem a desocupação de alguns assentamentos judaicos e a consolidação do controle israelense sobre os grandes blocos ilegais de colônias.
"Trégua de muitos anos"
Em entrevista publicada ontem pelo jornal israelense Haaretz, Haniyeh ofereceu uma "trégua por longos anos" a Israel. A condição é que Israel desocupe a Cisjordânia, invadida durante a Guerra dos Seis Dias, e estabeleça suas fronteiras para trás da linha de armistício, ou "linha verde", fronteira fixada antes do conflito.
"Se Israel se retirar para as fronteiras de 1967, prevalecerá a paz e nós vamos iniciar uma trégua de muitos anos", afirmou o primeiro-ministro palestino ao jornal de Tel Aviv.
O ministro de Transportes palestino, Ziyad Zaza, presente durante a entrevista, comentou que "o cessar-fogo será renovado de forma automática" periodicamente.
O Hamas não reconhece Israel como um Estado legítimo. O movimento diz que a nação foi criada ilegalmente em 1948 em parte do território palestino, ou seja, em "terras sagradas do Islã", então sob controle da Inglaterra por ordem da ONU.
O dirigente palestino não quis falar da iniciativa adotada pelo mundo árabe na Cúpula de 2002, em Beirute. Na ocasião, os países participantes se comprometeram a negociar a paz e reconhecer Israel se seu exército voltasse às linhas de 1967. "Esse é um assunto entre nós e os árabes", disse Haniyeh, cujo movimento rejeitou a iniciativa na época.
Haniyeh também não comentou a carta constitucional do Hamas, que rejeita a existência de Israel. "Vamos deixar o Hamas de lado. Eu falo como líder do Governo palestino, de todos os palestinos, e não o de um movimento".
Com agências internacionais