Artigo: ''Hegemonismo pode comprometer o 9º Concut''
O coordenador nacional da Corrente Sindical Classista (CSC), João Batista Lemos, divulgou nesta quarta-feira (17/05) o artigo "Hegemonismo pode comprometer o 9º Concut". O texto trata dos resultados distorcidos do 9º
Publicado 17/05/2006 20:59
Por João Batista Lemos*
Mais do que em outra ocasião do passado, o movimento social brasileiro carece hoje de uma central sindical orientada pelos princípios da democracia interna, diversidade de opiniões e autonomia em relação a governos e partidos políticos, disposta a trabalhar pela conscientização e unificação do conjunto da nossa classe trabalhadora (formal, informal ou desempregada) em torno dos seus interesses fundamentais, destacando-se a luta contra o neoliberalismo.
É da própria conjuntura nacional e internacional que emerge o desafio de unir as diferentes correntes que atuam no sindicalismo para garantir as mudanças sinalizadas com a eleição de Lula em 2002, na contramão da ofensiva imperialista e neoliberal. No Brasil, é notório o movimento das forças conservadoras, capitaneadas pelo PSDB e PFL, com o objetivo de impor o retrocesso nas eleições de outubro, abrindo caminho para ressuscitar a Alca, reanimar o programa de privatizações (entregando a Petrobrás, BB e CEF) e aprovar uma contra-reforma trabalhista, flexibilizando ou suprimindo direitos sociais. Não menos evidentes são as manobras imperialistas para enfraquecer o Mercosul e sabotar a perspectiva de integração econômica solidária das nações latino-americanas.
Era de se esperar que a Central Única dos Trabalhadores (CUT), inspirada em seu histórico de combatividade e com notável representatividade no sindicalismo nacional, estivesse à altura desse desafio. Todavia, episódios relevantes ocorridos na preparação do 9º Concut, durante a realização dos congressos estaduais, indicam que a força majoritária da Central não está convencida da necessidade de respeitar o caráter plural da central, as normas democráticas de convivência entre as diferentes correntes, agindo de forma a transformar a entidade numa correia de transmissão de uma organização política, o que pode comprometer a unidade e, por conseqüência, a luta em defesa dos interesses maiores da classe trabalhadora e mesmo a autonomia sindical.
A CUT-Bahia é a segundo maior CUT estadual do país, agregando em torno de 500 sindicatos. Reconhecidamente, a Corrente Sindical Classista é quem lidera a maioria das entidades cutistas e reúne, por conseqüência, as melhores condições políticas para dirigir a CUT no Estado. Sofreu, porém, o que pode ser considerado um golpe político, conforme foi evidenciado no recurso encaminhado à direção nacional da central por dirigentes sindicais do Estado, que merece ser apreciado com serenidade e rigor. O documento denunciou a ocorrência de vetos políticos, que cercearam a participação de mais de 70 sindicatos no Cecut-BA, assim como acordos obscuros de pagamentos e quitações graciosas de dívidas, que “regularizaram” a situação de várias entidades dirigidas pela força majoritária.
A luta pela hegemonia é natural e plenamente aceitável desde que se dê em conformidade com regras democráticas e através da luta de idéias ou da disputa sadia de opiniões. Contudo, merece a enérgica condenação das forças democráticas quando é imposta através de manipulações burocráticas efetuadas pela tesouraria nacional da CUT, traduzindo-se num hegemonismo sem princípios, que fomenta maiorias artificiais, como de fato ocorreu na Bahia, onde a corrente mais representativa (CSC), que dirige a luta dos trabalhadores de maneira combativa, foi deslocada da direção, mas na prática vai continuar liderando a mobilização social dos trabalhadores baianos.
A distorção do resultado do Cecut-BA não foi uma boa notícia para o movimento sindical brasileiro, pois constitui uma negação da democracia, da autonomia e da unidade. É de responsabilidade da direção nacional da CUT encontrar uma solução justa para o impasse criado, de forma a não comprometer o caráter plural e unitário da central e o 9º Concut, neste delicado momento da vida política nacional, que demanda maior coesão da classe trabalhadora na luta por um novo projeto de desenvolvimento nacional, antineoliberal e fundado na valorização do trabalho.
* coordenador nacional da CSC