Aberto o 10º Congresso Estadual da CUT
Começou em Praia de Leste, o 10º Congresso Estadual da CUT – Paraná
Publicado 28/04/2006 09:55 | Editado 04/03/2020 16:55
Ao som do grupo de música latina Vientosur, que apresentou canções de resistência socialista, foram iniciados os trabalhos do 10º Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CECUT), na noite de sexta-feira (28/04), na Associação Banestado, em Praia de Leste, município de Pontal do Paraná. O mestre do cerimonial de abertura e secretário de formação da CUT-PR, Marcos Rochinski, saudou os congressistas e prontamente passou a palavra aos componentes da mesa. O primeiro a falar foi o convidado da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), Carlos Zimmer, que propôs a união das centrais como condição fundamental à classe operária. “Temos que criar uma força tarefa para enfrentar os problemas que afligem os trabalhadores no Paraná”.
Na seqüência foi passada a palavra ao diretor executivo da Cooperbotões, fábrica auto-gestionada pelos ex-empregados, Carlos Fontana. Ele ressaltou a economia solidária como a oportunidade dos excluídos e explorados se sentirem uma peça importante no conjunto da sociedade, resgatando, dessa forma, a dignidade humana. Também agradeceu o apoio dos trabalhadores organizados na conquista do direito de gerir a fábrica. “Graças à ajuda da Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT (ADS) e dos sindicatos conseguimos continuar com nossas atividades, mas dessa vez sem a opressão patronal. Essa luta valeu a pena. A Cooperbotões está atuando e crescendo a cada dia”.
O representante da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social, Vladimir de França, ex-diretor da CUT na gestão de 1994 a 1997, destacou a importância do Congresso, sobretudo por anteceder a data história do 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador. “Esse dia marca a luta dos mártires operários pela redução da jornada. Não se trata de uma data para sortear carros, nem para churrasco, mas sim para fazer o que a CUT está fazendo aqui”, afirmou, numa clara crítica a posição de outras centrais. Além disso, Vladimir disse que o CECUT vai, como sempre, resgatar a dignidade para quem constrói o Brasil.
Ex-secretária de políticas sociais da CUT-PR e agora nomeada assessora do Ministério do Meio Ambiente, Débora de Albuquerque Souza, falou em tom de despedida aos participantes do Congresso. “Parto para outra instância de luta, mas sempre levando o compromisso com os movimentos sociais de continuar o embate pelo controle popular dos recursos naturais, aos quais todos devem ter acesso. Precisamos fortalecer a política ambiental do Estado e do país. Essa é uma bandeira que a CUT deve ostentar. Foi muito bom trabalhar com vocês. Me sinto honrada de ter participado desta gestão”.
Representando a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), que reúne diversas entidades populares na mobilização das grandes questões que envolvem o conjunto da sociedade, como a reforma agrária e a distribuição de renda, Santa de Souza enfatizou a importância da Central na construção da CMS, cobrando, inclusive, mais participação da CUT. “Não vamos deixar que a disputa nos impeça de construir uma sociedade mais justa para todos.
Também compôs a mesa a ex-diretora financeira da Itaipu Binacional e candidata ao Senado pelo Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann. Durante sua fala, afirmou que a CUT representa um movimento aguerrido, que critica o governo que ajudou a eleger. Destacou o respeito aos movimentos sociais como um dos principais avanços do governo Lula. Saudou a APP-Sindicato e fez críticas ao governador Roberto Requião. “A sustentação e o fortalecimento da democracia passa pela meritória consideração aos trabalhadores organizados”.
Ainda sobre o governo Lula, Gleisi disse que o governo está olhando para quem antes nunca teve atenção do Poder Público. “Acredito que o movimento sindical saberá compreender isso e vai se empenhar na reeleição do presidente Lula. Essa política de inversão de prioridades, com atenção especial aos menos favorecidos, está ajudando a construir uma sociedade mais justa”. A candidata ao Senado também apresentou dados sobre a discriminação da mulher no mercado de trabalho. “Recebemos (em referência às mulheres) o equivalente a 70% do salário dos homens em todas as categorias e ainda trabalhamos mais de quatro horas por dia que o sexo oposto em atividades domésticas. Para alcançarmos justiça social essa situação tem que ser revertida”.
O representante da Direção Nacional da CUT, Rafael Freire Neto, aproveitou seu espaço na abertura para fazer um resgate da história da Central e os desafios que estão colocados ao sindicalismo cutista para um futuro muito próximo. “A origem da CUT está na resistência à ditadura. Na década de 90 lutamos contra o neoliberalismo, e foi no final desse período que as alternativas a esse projeto capitalista e excludente começaram a ganhar mais força. A eleição de Lula foi uma vitória, mas parcial. Quem achou que a disputa pela hegemonia na sociedade havia acabado se enganou completamente. Certamente Lula deixou a desejar. Não era isso que tínhamos na cabeça. Hoje o governo sofre os ataques da direita, mas não só ele, e sim o conjunto do movimento social. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, disse que essa raça tem que ser varrida do país por mais trinta anos. Essa raça somos nós. Não há fórmula fácil de administração popular com a direita organizada. A força da CUT é suficiente para enfrentar esse momento, para manter acesas nossas utopias, como a economia solidária, a luta pela igualdade racial e de gênero”.
Ainda segundo Rafael Freire, uma das tarefas que são colocadas à Central é de como deve ser o próximo governo. “Se tivermos a capacidade e a clareza é possível que sintetizemos a luta para que os trabalhadores reconheçam o serviço que a CUT presta à classe. Nosso objetivo é melhorar a vida dos nossos representados, e não se desgastar com disputas internas”.
A fala mais esperada da noite foi do presidente estadual da CUT, o petroleiro Roni Anderson Barbosa, que começou fazendo um balanço de sua gestão. “Nesses três anos tivemos várias conquistas. Iniciamos a construção das regionais de acordo com a divisão do Ipardes, instauramos um setor de comunicação que aproximou a Central de seus sindicatos e da sociedade. Os serviços de assessoria foram ampliados e melhorados, e adquirimos uma sede própria. Também demos um salto na filiação de sindicatos. Quando assumimos eram cerca de cem entidades, hoje são mais de 150, com destaque para a categoria dos vigilantes, que hoje estão com todos sindicatos no Paraná filiados à CUT. Hoje a CUT representa 700 mil trabalhadores na base. É sem dúvida uma grande responsabilidade. Com isso, fizemos grandes lutas. Organizamos campanhas salariais unificadas, participamos das duas marchas nacional do Salário Mínimo. Também fizemos duas grandes manifestações no 1º de Maio em Foz do Iguaçu. Em 2004 fechamos a Ponte da Amizade para chamar a atenção sobre a importância da integração dos povos latinos para a construção de uma cooperação mútua, com o objetivo de construir a solidariedade ente os povos da América do Sul. Já em 2005, com o apoio da Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), fizemos uma grande mobilização que reuniu milhares de pessoas na tríplice fronteira. Essas lutas foram e continuam sendo fundamentais. A questão da integração foi muito trabalhada nessa gestão”.
O presidente da CUT-PR também enfatizou a importância do Salário Mínimo Regional como forma de melhorar a distribuição de renda no Estado. “Essa proposta de constituir um piso regional superior ao nacional surgiu do conjunto da classe trabalhadora. Se implantado, o novo salário no Paraná vai ajudar a distribuir a renda. Mais de 200 mil trabalhadores serão beneficiados diretamente. Indiretamente serão cerca de 800 mil. Mas além do Salário Mínimo regional, precisamos pensar outros instrumentos de distribuição de renda. Os delegados desse CECUT têm que debater isso”.
Roni fez questão de citar que a data da abertura do Congresso, 28 de abril, também é o dia mundial das vítimas de acidente de trabalho. “Temos que fazer a luta pelas melhorias nas condições de trabalho para que nenhum trabalhador se acidente ou morra em suas atividades. Muitos companheiros que hoje estão aqui estão usando camisetas em alusão a data que dizem: luto pelos mortos, luta pelos vivos”. Ao final de sua exposição, Roni cumprimentou os congressistas e desejou um bom debate a todos.
O CECUT
O Congresso Estadual da CUT caracteriza-se, principalmente, por ser um amplo espaço de debate político sobre a sociedade e seus reflexos sobre os trabalhadores. Ele é realizado a cada três anos, período estabelecido para renovação das diretorias, e antecede o Congresso Nacional da CUT (CONCUT), que está em sua 9ª edição, e será realizado entre os dias 06 e 09 de junho, em São Paulo. Atualmente a CUT é a maior Central Sindical da América Latina e a quinta em todo mundo. Ela representa mais de 22 milhões de trabalhadores, reunidos em 3.489 entidades sindicais.
CUT-PR