Ministros bolivianos são feitos reféns por causa de siderúrgica irregular

Três ministros do governo Evo Morales foram mantidos reféns por moradores de Puerto Suárez que queriam uma resposta positiva sobre sua reivindicação de legalizar a siderúrgica irregular do grupo brasileiro EBX na cidade. O

Os ministros do Planejamento, Carlos Villegas, de Desenvolvimento Econômico, Celinda Sosa, e de Mineração, Walter Villarroel, foram resgatados em uma ação sem violência envolvendo quase cem soldados do Exército na madrugada de ontem para hoje. Os moradores da cidade de Puerto Suárez, que fica na fronteira da Bolívia com o Brasil, mantiveram os representantes do governo no Comitê Cívico da cidade.

Segundo um dirigente do movimento, eles tiveram cama e alimentação, e não houve ameaça alguma a segurança dos ministros. Moradores das cidades de Puerto Suárez, Puerto Quijarro, Arroyo Concepción e Carmen Rivero Tórrez se mantiveram em vigília nos arredores da sede do Comitê Cívico, enquanto que outro grupo de pessoas bloqueou rodovias e ferrovias estratégicas. "Não acreditamos no governo. Eles dizem que uma reunião de gabinete marcada para as 5h no horário local, 6h em Brasília, vai dar uma solução definitiva ao conflito", disse o dirigente à imprensa.
Reivindicações
Os moradores de Puerto Suárez exigem a legalização da siderúrgica do grupo brasileiro EBX na cidade, além de garantias de que a licitação da vizinha jazida de ferro de Mutún, uma das maiores do mundo, que está prevista para maio, seja realizada. O governo de Evo Morales, que enviou os ministros ao local para tratar do fechamento da siderúrgica, alegou que não iria atender a demanda porque isso seria inconstitucional.

A manutenção da siderúrgica viola uma lei que proíbe propriedades estrangeiras numa faixa de 50 quilômetros da fronteira. Além disso, a usina seria alimentada com carvão vegetal, o que poderia causar graves prejuízos para o meio ambiente da região, segundo o governo.

Irregularidades
O processo de licitação de Mutún, iniciado no governo anterior, foi suspenso pela administração do presidente Evo Morales, que também decidiu rever a licença ambiental da empresa brasileira. A EBX opera na Bolívia sob o nome de MXX com base em acordos assinados com as autoridades da região antes da conclusão do processo licitatório.
O governo boliviano considera que a empresa comete uma série de irregularidades nas áreas ambiental e política e se recusa a negociar nesta situação, já que a EBX se baseia em acordos estabelecidos apenas com as autoridades locais. O governo deseja que os fornos funcionem com base em gás natural, recurso do qual a Bolívia é produtora.
Em La Paz, o ministro San Miguel voltou a acusar os executivos da empresa brasileira de burlar a legislação tributária boliviana e de pressionar as autoridades, usando os habitantes da região fronteiriça. O vice-ministro de Coordenação Governamental, Héctor Arce, garantiu que o governo "não negociará a soberania do país, muito menos sob pressão". Arce disse que o incidente, que qualificou de crime contra o estado de direito, será levado à Promotoria Geral da República, para investigação e punição.

Da Redação
Com agências