Carta Capital relata turbulências na candidatura Alckmin
A revista Carta Capital desta semana traz como reportagem de capa uma reveladora análise da conjuntura política que destaca as dificuldades que o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, enfrenta para sustentar sua candidatura em meio a ataques vindos n&a
Publicado 08/04/2006 01:30
Segundo a revista, nunca, nos seis anos à frente do Estado de São Paulo, o tucano foi tão fustigado. “No intervalo de 15 dias, falou-se das cerca de 40 peças de roupas (ou 400?) doadas por um estilista à ex-primeira-dama Lu Alckmin, dos anúncios oficiais publicados em uma revista de propriedade do acupunturista do presidenciável e da compra em duplicidade de 500 fornos por parte da mesma Nossa Caixa, doados a programas sociais comandados por dona Lu. Soube-se até que o então prefeito de Pindamonhangaba demonstrava certa simpatia pela ditadura, conforme atesta correspondência enviada no início dos anos 80 ao general João Baptista Figueiredo, o último presidente do ciclo militar”, relata o semanário.
Carta Capital destaca também o suspeito protagonismo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que assumiu a “tarefa” de oferecer argumentos jurídicos para um provável pedido de impeachment do presidente Lula e escalou, para tal, um advogado com estreitos laços com o tucanato.
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Destaque na mídia
Desde que o jornal Folha de S. Paulo divulgou, no domingo, 26 de março, que a Nossa Caixa, por ordem do Palácio dos Bandeirantes, brindou veículos de comunicação de políticos aliados com publicidade oficial, ex-governador tem gastado um bom tempo de sua recém-iniciada campanha a dar explicações, ainda que atravessadas e incompletas.
Em termos de espaço na mídia, as “denúncias” contra Alckmin só tiveram menos destaque do que os desdobramentos da quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa (…)
Ameaça constante
A forma como o ex-governador impôs sua candidatura, à revelia do desejo dos caciques da legenda, deixou feridas abertas que dificilmente serão fechadas antes das eleições de outubro. Muitas das denúncias que agora vêm a público circulavam entre jornalistas semanas antes do anúncio do nome do PSDB à Presidência. A fonte de nenhuma delas era, então, atribuída a petistas. Entre fevereiro e março, os alckmistas viveram a expectativa de ser alvejados a qualquer momento, o que abriria caminho para Serra ser ungido pela cúpula tucana.
A equação para os “serristas” parece simples: se Alckmin não decolar nas pesquisas até a convenção do PSDB, em junho, nada impedirá que o ex-prefeito volte a ser cogitado. Pesará a seu favor o fato de ele ser um nome capaz de derrotar Lula.
O ex-prefeito confidenciou a interlocutores ter desistido do confronto com Alckmin por não confiar na seção paulista do PSDB. Disse que, na campanha de 2002, o partido, principalmente a ala de São Paulo, agiu como florentinos a espetar suas costas. No mês passado, um titubeante Serra foi atropelado por um convicto Alckmin.
“É conveniente nos culpar pelo aparecimento das denúncias contra o Alckmin. Mas o episódio demonstra que o fogo amigo tucano queima mais que o nosso”, afirma o deputado estadual Ítalo Cardoso, do PT paulista.
Com base em documentos em poder do Ministério Público Estadual, a oposição (a Alckmin) que demonstrar que, à semelhança do que a Caixa Econômica Federal fez ao caseiro Francenildo Costa, houve violação do sigilo bancário e de correspondência de funcionários, fornecedores e empresas investigados na sindicância da instituição financeira estadual (Nossa Caixa).
Uma CPI estadual a constranger Alckmin e o avanço das investigações do Congresso Nacional sobre Lula, ou o aparecimento de “movimentos civis” a sugerir o impeachment do presidente parecem um cenário ideal para os que acalentam o sonho de ver Serra na Presidência da República em janeiro do ano que vem. Não que os fatos estejam interligados por uma força comum, mas as coincidências não devem ser desprezadas tão facilmente.
OAB participa do jogo sujo
No Palácio do Planalto, é dado como certo o bico tucano nas novas e reservadas atividades da OAB.
O relatório apresentado na OAB não tem fundamento e, se for levado adiante, será um desastre para a entidade”, afirma o ministro Tarso Genro, de Relações Institucionais.
O ministro Tarso Genro tem sido um crítico do poder dos meios de comunicação durante a evolução da crise. “Na Câmara, os deputados são enxovalhados quando não satisfazem a sanha oposicionista da mídia”, reclama. “Querem ratificar os julgamentos antecipados pelos jornais”.
Segundo Tarso Genro, o acirramento político no Congresso não tem sido bom para ninguém, mas o ministro defende a estratégia de se esclarecer para o público a verdadeira qualificação dos acusadores do governo, tarefa a ser tocada pelo PT e pelos partidos aliados. “O governo não deve se meter com isso, para não ser acusado no Congresso Nacional de desqualificar os partidos políticos”, explica. “O papel do governo não é esse, é o de manter o diálogo com todas as legendas”, diz.
O governo tem em mente um contra-ataque de propaganda desde que a agenda eleitoral foi antecipada, por causa da CPMI dos Correios, em meados de 2005. Faltava apenas uma reação articulada, pensada agora dentro e fora do governo, mas a ser operacionalizada pelo PT, e, como prega o ministro de Relações Institucionais, pelos partidos da base aliada.
Entre os estrategistas da reação petista, a qualificação dos acusadores estará no centro das preocupações, uma vez consolidada o que eles acreditam ter sido a primeira fase de retomada de credibilidade junto à população: a anulação da pecha, colocada pela oposição, de que o governo é inoperante, inexistente e irrecuperável. A idéia agora é responder às acusações do PFL e do PSDB de forma organizada.
Lembrar, por exemplo, que Osmar Serraglio não seguiu preceito ético algum, mas interesses políticos do Paraná, ao retirar o PMDB do relatório da CPMI dos Correios.