Logo que o tenente coronel aposentado passou a liderar as pesquisas, seus oponentes – com poucas propostas para apresentar aos eleitores – passaram a se dedicar a combater sua vitória, considerada uma ameaça ao sistema. Mas justamente por isso, Humala é o candidato preferido dos setores menos favorecidos pelos últimos governos, o que preocupa bastante aos antigos detentores do poder político nas últimas duas décadas.
O plano de governo de Humala incluem a revisão das privatizações de petróleo, gás, minérios, eletricidade, água, saneamento, portos e aeroportos. Além disso, ele propõe também uma Assembléia Constituinte e a fundação da “segunda república” – movimento semelhante ao que fundou a “quinta república” venezuelana.
Os outros
Lourdes Flores, por exemplo, tem reiterado sucessivas vezes que vencerá Humala. “Esta é uma verdade inquestionável: Flores, em todas pesquisas de opinião, ganha Ollanta Humala [no segundo turno], enquanto que García, em todas pesquisas, perde de Humala”, mencionou recentemente em terceira pessoa. “Me sinto tranqüila, confiante e estou certa que chegarei no segundo turno”, disse ao comentar os resultados das últimas pesquisas que a situam no segundo lugar. “Não podemos, como durante décadas se tem feito, continuar fazendo demagogia da pobreza”, expressou a dirigente que é também presidente do Partido Popular Cristão.
Ao longo da campanha, Lourdes procurou se comparar à vitoriosa presidente Michelle Bachelet, apesar de ser o avesso da chilena agnóstica, divorciada e socialista que militou contra a ditadura Pinochet. Nos agitados anos 70, a maioria dos jovens politizados da Pontifícia Universidade Católica de Lima dividia-se entre o apoio ao regime militar nacionalista e a militância em organizações de esquerda. Entretanto, Lourdes atuava em outra frente: a Opus Dei. Solteira, ela ainda hoje mora na casa do pai, é uma católica devota e cerca-se de políticos ligados a essa organização católica ultra-conservadora.
Perguntada sobre como se sentiria por encabeçar um governo na contramão da virada à esquerda da América do Sul, pelo jornal argentino Página/12, foi clara: “Meu triunfo seria um sinal muito interessante de que esse rumo (à esquerda) pode mudar e me sentiria muito feliz de conseguir essa mudança”.
O líder aprista também tem integrado a campanha anti-Humala, principalmente depois de ter confirmada sua estagnação nas pesquisas – apesar de o seu partido ter tido sempre mais de 30% das preferências.
Campanha
Todos os dias, os principais jornais e emissoras dedicam amplos espaços para atacar Humala e Chávez. O ex-militar teve seu nome divulgado pela primeira vez ao promover um levante militar contra seu governo – no seu caso, a agonizante ditadura de Fujimori, em 2000. Mas negou apoio ao levante promovido contra Toledo no ano novo de 2005 pelo seu irmão Antauro, que foi preso por provocar a morte de quatro policiais.
Humala também admira a esquerda militar que, de 1968 a 1975, sob a liderança do general Juan Velasco Alvarado, nacionalizou o petróleo e outros setores-chave da economia e promoveu uma das reformas agrárias mais drásticas da América Latina. Mas se distancia das idéias dos irmãos, que lhe são automaticamente atribuídas pela imprensa – o jornal Correo, por exemplo, chama-o rotineiramente de “o candidato fascista”.
Humala é considerado candidato dos militares (por 61%), mas seu discurso em defesa dos recursos naturais e da indústria nacional e contra o neoliberalismo também encontra respaldo nos setores visados por García – principalmente os camponeses –, apesar de não entrar muito na questão dos direitos trabalhistas eliminados nas últimas duas décadas. Por outro lado, setores conservadores da Polícia Nacional do Peru, tentam minar sua popularidade junto à categoria pedindo que os membros da instituição (cerca de 90 mil na ativa) não votem nele.
De acordo com a última pesquisa divulgada, da empresa Apoyo Opinión e Mercado, Humala lidera com 31%, seguido por Flores que tem 26%. Em terceiro lugar, muito próximo do segundo, está o presidente do APRA com 23%. A pesquisa ouviu dois mil eleitores entre os dias 29 e 31 de março. Os quarto e quinto colocados são o candidato da Frente de Centro Valentin Paniagua, com 7%, e a da Aliança pelo Futuro Martha Chávez, com 6%. Outros 15 candidatos não figuram na amostra porque não alcançam mais de 1% das intenções de voto.
Da Redação,
Mônica Simioni
Com agências